Plataforma de Gelo Ross, na Antártida (Wikimedia Commons)
Agência de notícias
Publicado em 12 de outubro de 2023 às 19h42.
Mais de 40% das plataformas de gelo flutuante na Antártida perderam volume em 25 anos, aumentando o risco de elevação do nível do mar, afirmaram cientistas nesta quinta-feira (12).
As plataformas são extensões das camadas de gelo que cobrem grande parte da Antártica, e que flutuam nos mares que banham o vasto continente gelado, ecologicamente frágil.
Elas atuam como "tampões", que estabilizam as enormes geleiras, desacelerando seu fluxo de degelo para o oceano. Quando as plataformas de gelo encolhem, estes tampões se fragilizam e a taxa da perda de gelo das geleiras aumenta.
Em um estudo publicado na revista Science Advances, nesta quinta-feira, os cientistas analisaram mais de 100.000 imagens de radar via satélite para avaliar o estado das 162 plataformas de gelo contabilizadas na Antártica. Eles descobriram que o volume de 71 delas diminuiu entre 1997 e 2021.
"A aceleração do degelo das geleiras devido à deterioração das plataformas de gelo adicionou uns seis milímetros ao nível do mar global desde o início do período estudado", disse Benjamin Davison, pesquisador da Universidade de Leeds, na Grã-Bretanha, que liderou o estudo.
Embora a Antártica só contribua em 6% com o aumento total do nível do mar, "poderia aumentar substancialmente no futuro se as plataformas de gelo continuarem se deteriorando", disse à AFP.
Os quase 67 trilhões de toneladas de gelo que se fundiram no oceano durante este quarto de século foram compensados com a produção de 59 trilhões de toneladas adicionais, o que representa um balanço líquido de 7,5 trilhões de toneladas de água doce derretida.
"Esperávamos que a maioria das plataformas de gelo passassem por ciclos de encolhimento rápido, mas de curta duração, e em seguida se regenerassem lentamente", disse Davison.
"Ao contrário, vemos que quase metade delas está encolhendo sem sinais de recuperação".
Sem o aquecimento provocado pelas atividades humanas, parte do gelo teria se regenerado nas plataformas da Antártica ocidental, devido a uma variação natural nos padrões climáticos, acrescentou.
Diferentes ventos e correntes oceânicas afetam a Antártica, o que provoca mudanças desiguais.
Quase todas as plataformas de gelo da Antártica ocidental perderam volume, ao serem expostas a águas mais quentes que as erodiram por baixo.
Só na plataforma de gelo Getz ocidental, o degelo na base foi responsável por 95% da perda líquida de 1,9 trilhão de toneladas de gelo.
O desprendimento de pedaços de gelo que vão parar no oceano, um fenômeno conhecido como 'calving', fez o resto.
Anna Hogg, professora da Universidade de Leeds e coautora do estudo, disse que 48 plataformas de gelo perderam mais de 30% de sua massa inicial durante o período.
Na Antártica oriental, as plataformas de gelo se mantiveram, em sua maioria, iguais ou cresceram devido a uma faixa de água fria ao longo da costa que as protegeu das correntes mais quentes.
"Estamos vendo um desgaste constante, devido ao derretimento e ao desprendimento... Esta é mais uma evidência de que a Antártica está mudando porque o clima está esquentando", acrescentou Hogg.
O derretimento das plataformas de gelo poderia ter implicações importantes para a circulação oceânica global, que transporta nutrientes vitais, calor e carbono a partir do ecossistema polar.
A água doce adicional poderia ter diluído as águas densas e salinas do oceano Austral, tornando-as mais leves, atrasando seu processo de afundamento e enfraquecendo potencialmente a corrente oceânica global.
"O oceano absorve grande parte do calor atmosférico e o carbono, e o oceano Austral que circunda a Antártica é o maior contribuinte, razão pela qual é um regulador enormemente importante do clima global", disse Davison à AFP.