Civis em Cabul: aumento no número de mortes, em relação a 2009, foi de 15% (Shah Marai/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de março de 2011 às 11h10.
Cabul - O ano de 2010 foi o mais sangrento para a população civil do Afeganistão desde a chegada das tropas internacionais ao país, conforme revelou nesta quarta-feira a Organização das Nações Unidas (ONU), que atribuiu a maioria das vítimas às ações dos talibãs.
Em seu relatório anual, a missão das Nações Unidas no Afeganistão (Unama) explicou que um total de 2.777 civis morreram no ano passado pelo conflito no país centro-asiático, o que representa um aumento de 15% respeito a 2009.
Outros 4.343 civis ficaram feridos em episódios de violência.
"Em um ano no qual se intensificou o conflito, com um aumento da atividade das Forças governamentais e um aumento no uso de equipamentos explosivos por parte das Forças antigovernamentais, os civis afegãos pagaram o preço com suas vidas", lamentou o assistente de Direitos Humanos do secretário-geral da ONU, Ivan Simonovic.
Os dados de 2010 são os piores desde a queda do regime talibã há quase uma década, e elevam o registro de civis mortos nos últimos quatro anos para 8.832, o que soma uma média superior aos 2 mil anuais.
A organização defensora dos direitos humanos Afghanistan Rights Monitor (ARM) e o Ministério do Interior afegão tinham cifrado semanas atrás em 2.421 e 2.043, respectivamente, os civis mortos no ano passado.
De acordo com o novo relatório da Unama, a maioria das mortes - 75% - são consequência da insurgência, enquanto as Forças de segurança afegãs e a Otan são responsáveis de 16% das mortes.
A organização foi incapaz de atribuir uma autoria sobre o 9% restante dos casos, mas se determinou que os atentados suicidas e as bombas dos rebeldes foram os fatos mais mortíferos, com 1.141 falecidos.
A Unama denunciou que apesar de que o movimento talibã liderado pelo mulá Omar tinha divulgado em maio do ano passado um código de conduta entre seus combatentes, "não se observou um esforço coordenado dos talibãs para implementar estas ordens".
Segundo o relatório, a insurgência não só atingiu parentes e pessoas vinculadas com o Governo e as Forças de segurança, mas também ativistas, professores, estudantes e médicos, entre muitos outros.
"Mataram mais civis pela suspeita que fossem espiões que por qualquer outra razão", diz o estudo, que também insiste no aumento vertiginoso dos sequestros, que em 2010 foram 251 em comparação com os 137 do ano anterior.
Em 2010 se desdobraram no Afeganistão reforços militares dos Estados Unidos e a Otan - agora contam com 150 mil soldados - com o objetivo de impulsionar o fim do conflito e lançar duas operações nas fortificações fundamentalistas de Helmand e Kandahar.
Quatro a cada 10 vítimas civis foram registradas nesta região do país, de acordo com os dados da ONU, que aplaudiu, no entanto que o desdobramento de mais soldados internacionais não implicou mais baixas entre os cidadãos afegãos.
No total, 440 dos mortos civis são atribuíveis às Forças afegãs e internacionais, o que supõe uma queda de 21% em relação a 2009. As ações da aviação militar se consolidaram como a maior causa destes falecimentos, com 171.
Segundo o estudo, entre os mais afetados pela guerra estão os setores mais vulneráveis da população como as mulheres e crianças: as mortes entre meninos e meninas aumentaram 21% em comparação ao ano anterior.
"A expansão e a intensidade do conflito significou que as mulheres e os menores tiveram inclusive menor acesso a serviços essenciais como saúde ou educação", acrescentou a Unama.
A ONU pediu às partes em combate a respeitar os princípios internacionais de proporcionalidade, prevenção e delimitação em suas ações para minimizar o número de baixas, e a realizar investigações transparentes e informar sobre as mesmas.
O organismo também se mostrou preocupado pelo processo de transferência da competência da segurança por parte dos EUA e da Otan ao Exército e Polícia afegãos, que começará em julho deste ano e deve concluir, segundo o prazo previsto, em 2014.