Os únicos recifes de coral do Atlântico Sul estão na costa brasileira (UNIVALE/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2012 às 22h31.
São Paulo - Menos de 1% das regiões marinhas brasileiras está sob proteção. O valor é muito abaixo da meta estabelecida pelo documento de Nagoya, na Conferência das Partes sobre a Biodiversidade, em 2010, no Japão. O documento prevê que 17% das áreas terrestres e 10% das áreas marinhas estejam sob algum tipo de proteção até 2020.
Enquanto o Brasil está quase atingindo a meta nas regiões terrestres - atualmente protege 13% delas - , cientistas reunidos nesta quarta-feira no Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, no Rio de Janeiro, pedem velocidade para a criação de novas áreas de proteção marinhas. O encontro dará sugestões da comunidade científica para a cúpula da Rio +20, que ocorre entre os dias 20 e 22 de junho.
A região marítima brasileira representa metade da área total do território nacional. Na faixa que percorre toda a costa do Brasil encontram-se 365 municípios, 17 estados e 40 milhões de pessoas. De acordo com Ana Paula Prates, diretora de áreas protegidas do Ministério do Meio Ambiente, a área representa um importante reservatório de biodiversidade. "São 55 espécies de animais vulneráveis, 20 listadas como ameaçadas e 10 em perigo de extinção", diz.
De acordo com Carlos Joly, biólogo da Universidade de Campinas, desde a Eco-92 existe a discussão sobre a preservação dos oceanos, mas não se saiu do lugar. Uma grande parte da zona costeira brasileira está sob proteção - 40 % -, mas apenas 1,57% da parte marinha é realmente protegida.
"A proteção acaba na praia, porque essas regiões estão incluídas em ecossistemas sensíveis, como a Mata Atlântica", diz Ana. A falta de proteção dos ambientes marinhos na costa brasileira coloca em risco ecossistemas sensíveis, como a maior extensão de manguezal do planeta e os únicos recifes de coral do Atlântico Sul, ecossistema especialmente sensível às mudanças climáticas.
Áreas de proteção - Entre as novas áreas que poderiam aumentar significativamente a região marinha protegida no Brasil estão as unidades de conservação marinhas em Abrolhos, entre Bahia e Espírito Santo. Abrolhos é o maior banco de corais do Atlântico Sul e passaria a ter 880 mil hectares, o dobro do que é definido atualmente.
O governo decidiu ampliar a área de proteção depois que a Petrobras declarou que não se interessava pelo petróleo de Abrolhos. Contudo, por causa de atrasos nas negociações com os governos estaduais e com pescadores locais, que passariam a respeitar regras específicas de exploração de uma área de proteção, a área ainda não foi delimitada.
De acordo com Joly, o Brasil ainda tem outras regiões para lançar áreas de proteção, como a foz do rio Amazonas. "É uma região de intensa chegada de nutrientes no mar", diz. Outras regiões incluem o parque de Fernando de Noronha e localidades no litoral Sul do país.
Para o pesquisador, ainda há tempo para atingir as metas de Nagoya até 2020. "Se pensarmos que São Paulo conseguiu proteger 70% de sua costa com apenas três APAs (áreas de proteção ambiental) marinhas, é possível fazer com que o Brasil alcance os 10%."