Milei cumprimenta apoiadores ao votar no domingo, 19, em Buenos Aires (Luciano Pádua/Exame)
Editor de Macroeconomia
Publicado em 20 de novembro de 2023 às 14h48.
Última atualização em 20 de novembro de 2023 às 14h51.
BUENOS AIRES - Javier Milei, com suas propostas radicais e de ruptura, venceu as eleições presidenciais da Argentina. Muito se discutiu nos últimos meses e anos sobre uma suposta "onda rosa" -- isto é, uma guinada à esquerda nas eleições presidenciais da América Latina. Mas, como mostrou EXAME, a tendência parece se cristalizar como uma onda de oposicionistas. Os dados confirmam a tese: das últimas 34 eleições na região, os candidatos de oposição venceram em 27 oportunidades.
Os dados não incluem votações consideradas injustas na Venezuela e Nicarágua. A informação consta de um estudo de Carlos Malamud e Rogelio Núñez Castellano, pesquisadores do Real Instituto Elcano.
Nas ruas de Buenos Aires, capital da Argentina, EXAME presenciou duas tendências no comportamento popular. Em primeiro lugar, viu-se uma certa apatia da população nos dias que antecederam o pleito. Não havia pessoas com camisetas, adesivos ou quaisquer indicativos de que no domingo, 19, haveria uma eleição presidencial no país.
Fora das concentrações nos arredores dos "bunkers" dos candidatos não se via praticamente nenhuma manifestação política.
No "bunker" de Massa, em Chacarita, bairro porteño tradicionalmente ligado ao peronismo, o que se presenciou foram movimentos sociais e sindicatos, em uma mistura que parecia a mescla de entidades de trabalhadores com torcidas organizadas (chamadas aqui de barra bravas). Mas, sobretudo, o QG peronista se assemelhava a uma manifestação "profissional": diversas bandeiras produzidas e todo o aparato para apoiar o candidato, como baterias e gritos de guerra sincronizados.
Em frente ao Libertador Hotel, no centro da capital, o público era diferente. Notava-se, claramente, muito mais jovens em meio à multidão. E muito mais gente "solta", como uma família moradora de Matanza, bairro perigoso da região metropolitana de Buenos Aires e um reduto eleitoral de Cristina Kirchner.
Nas imediações do QG de Milei, o clima soava como um brado por mudança. Foi esse o sentimento captado pela EXAME em diversas conversas com os presentes.
Talvez seja esse o clima que circunda a política latino-americana. Em seu estudo, publicado em abril, Malamud e Castellano, destacaram que o triênio de 2022 a 2024 redesenharia o mapa político latino-americano. Até aqui, a tese vem se comprovando.
Sobretudo, eles questionavam se a "Onda Rosa", como ficou conhecido o fenômeno de partidos de esquerda ou centro-esquerda voltando ao poder, seguiria. Ou se, na verdade, a região vive uma tendência de "voto de castigo" aos que estão no poder.
Na mesma toada, Malamud e Castellano argumentam que, de maneira geral, "tudo indica que haverá uma mudança e se confirmará que desde 2015 há um constante voto de rejeição ao partido no poder e não uma virada para a direita (2015-2020) ou para a esquerda (2021-2022)".
"Desde 2018, por exemplo, a oposição venceu em 76% das eleições (presidenciais, legislativas, estaduais e locais). Durante este período de cinco anos (2018-2022), em eleições justas (ao contrário do que aconteceu na Venezuela em 2018 e na Nicarágua em 2021), nenhum candidato do partido no poder, com exceção do Paraguai há cinco anos, conquistou a presidência", destacam.
Em 2024, vão às urnas os cidadãos de importantes países da América Latina, como México, El Salvador, Panamá, República Dominicana e Uruguai.
No México, por exemplo, estará em jogo a continuação, ou não, de Andrés Manuel López Obrador, líder de esquerda, ou uma união de partidos de oposição que se juntaram para enfrentá-lo. Com um adicional interessante, serão duas mulheres na disputa à presidência: Claudia Sheinbaum, representando a situação, e Xóchitl Gálvez, pela oposição.
Será mais uma oportunidade para testar o termômetro da região -- e o redesenho das forças políticas para o futuro.