Eleitores: muitos lamentam a falta de dignidade, a maldade da campanha e a falta de visão (Carlo Allegri/Reuters)
AFP
Publicado em 6 de novembro de 2016 às 12h11.
Insultos, linguagem obscena, acusações sarcásticas e impopularidade recorde dos dois candidatos: os americanos estão cansados da campanha presidencial e ansiosos pelo seu fim do que, por vezes, tomou a forma de um péssimo reality show político.
"É uma tortura, estamos traumatizados", diz Moira Hahn, uma advogada de 64 anos. "Ficarei feliz quando isso acabar. É pior a cada dia, mais vulgar, mais violento, mais polarizado".
Faltando poucos dias para a eleição de 8 de novembro, ela veio da Pensilvânia para aprender um pouco mais sobre a História americana em Mount Vernon, a casa do primeiro presidente George Washington, localizada a uma hora da capital de mesmo nome.
A multidão vem de todos os Estados Unidos para descobrir a antiga plantação com vistas esplêndidas do rio Potomac.
"Esta eleição nos envergonha", afirma Nancy Murphy, de 58 anos, professora de Maryland. "Nós geralmente gostamos de falar sobre a eleição, para ensinar os nossos alunos o processo democrático. Mas desta vez nós não falamos sobre isso. É muito embaraçoso, especialmente com crianças pequenas".
"Eu não aguento mais, estou farta dos anúncios eleitorais, do aspecto negativo, eu não sei nada sobre suas propostas e programas, porque eles passam o tempo todo a criticar o outro", acrescenta ela.
Diante do túmulo do ex-presidente (1732-1799) e de sua esposa Martha, um pequeno grupo recita o juramento de fidelidade à bandeira. Aqui, a história presidencial é respeitada.
"A melhor coisa feita por George Washington foi introduzir a transferência pacífica de poder entre as administrações. A tradição tem sido respeitada todos estes anos (...) E agora, um dos nossos candidatos (Donald Trump) fala em não respeitar esta tradição. É muito perturbador", ressalta, indignada, Moira Hahn.
Ainda que votem para a democrata Hillary Clinton ou para o republicano Donald Trump, os visitantes expressam as mesmos inquietudes.
Muitos lamentam a falta de dignidade, a maldade da campanha, a falta de visão e o excesso de informação.
"Eu nunca vi nada parecido com isso", afirma David Long, um pastor septuagenário que votou no início da manhã por antecipação e se diz aliviado.
Mesmo Dom, um flautista fantasiado, junta-se à discussão. "É muito longo", afirma sobre a campanha que começou na primavera de 2015. "E eles gastam tanto dinheiro".
Ele não vai votar em Hillary nem em Trump, e preocupa-se. "Se um partido ganhar, o outro vai ser tão desrespeitoso".
Susan Marek, de 63 anos, que veio do Texas com três antigos amigos do colégio para descobrir os locais históricos de Washington, também já votou e se diz igualmente aliviada.
"Eu não gosto da linguagem usada por ambos os lados. E a mídia é realmente contra Trump, acho isso injusto".
Alguns visitantes disseram ter jogado fora sua revista favorita, "porque só falavam da eleição". Ou pararam de assistir televisão.
Nos jardins circundantes, os cartazes políticos, onde tradicionalmente os americanos apresentavam o candidato que apóiam, mostram a frustração melhor que um longo discurso.
"Eles são todos nulos. Estamos ferrados", exibe um cartaz.
"Meteoro gigante em 2016, para acabar com isso", diz outro.
"Nenhum dos dois em 2016", proclamam os adesivos.
Na internet, pode-se comprar camisetas que dizem: "Isto não é mais engraçado. Onde estão os verdadeiros candidatos presidenciais ?"
"Eu não sei como chegamos até aqui. É uma doença terrível", afirma Moira Hahn, que teme que Hillary Clinton não possa fazer nada, se eleita, num país tão dividido.
"Não será o fim. Haverá uma grande quantidade de processos judiciais", acredita Jo-Ann, de 71 anos.
Lori Misemer, de 54 anos, que trabalha em uma grande empresa de investimento em Missouri, é um dos poucos a não se preocupar.
"Nós ainda temos um futuro brilhante. Há muitas incertezas, mas vamos apoiar o nosso novo presidente, seja ele quem for", ressalta.
Gilbert Luiz, de 23 anos, que vota em Nevada, quer tirar lições com esta eleição detestável.
"É uma espécie de alarme, que os americanos precisavam. As pessoas vão prestar mais atenção e investir mais tempo e energia (para escolher) os seus candidatos. Esta é uma lição para a próxima vez".