Aedes aegypti: apenas Brasil e a Polinésia Francesa reportaram casos de microcefalia vinculados ao zika (Marvin Recinos/AFP)
Da Redação
Publicado em 2 de março de 2016 às 18h56.
Washington - O continente americano já tem mais de 134 mil casos de zika vírus suspeitos e 2.765 confirmados, a maioria na América Latina e no Caribe, embora a Organização Pan-Americana da Saúde (OPS) considere que estes dados conservadores, já que 80% dos infectados não apresentam sintomas.
O rápido avanço do vírus, o desconhecimento sobre a infecção e a possibilidade cada vez maior de causar microcefalia (bebês com a cabeça de um tamanho menor que o normal) e síndrome Guillain-Barré (um transtorno neurológico) foram os assuntos principais da reunião extraordinária sobre o zika que terminou nesta quarta-feira na sede da OPS em Washington.
A organização reuniu 70 cientistas e especialistas de todo o mundo para debater sobre as perguntas mais urgentes que a pesquisa científica deve responder sobre o vírus e publicará em breve um relatório que servirá como agenda comum em nível internacional.
"O mais importante neste momento é averiguar sobre a potencial associação do vírus com a microcefalia, com outras más-formações congênitas e com a síndrome de Guillain-Barré", explicou Marcos Espinal, o diretor de doenças contagiosas da OPS, em entrevista coletiva.
A transmissão local do vírus (por picada do mosquito Aedes aegypti) foi confirmada em 31 países e territórios do continente, a maioria na América Latina e no Caribe, enquanto nos Estados Unidos só houve casos importados (de viajantes infectados no exterior).
Apenas Brasil e a Polinésia Francesa reportaram casos de microcefalia vinculados ao zika, enquanto em seis países ou territórios se detectou um aumento de casos de Guillain-Barré possivelmente associado ao vírus: Brasil, Polinésia Francesa, El Salvador, Colômbia, Venezuela e Suriname.
"Os casos reportados de zika não dão a medida da situação porque 80% das pessoas não apresentam sintomas e, mesmo que tenham, muitos não vão ao médico porque são leves demais", afirmou Espinal.
A detecção do vírus do zika em laboratório "ainda não está muito desenvolvida", por isso a criação de novos exames foi um dos pontos centrais da reunião internacional.
"A detecção em laboratório é uma das ferramentas principais tanto para saber se um paciente tem o vírus como para que possamos elaborar bons estudos sobre sua relação com outras doenças depois", indicou Espinal.
A comunidade científica espera ter nos próximos três ou quatro meses os primeiros estudos que revelem a possível vinculação do zika com as más-formações congênitas e os transtornos neurológicos, assim como outras possíveis complicações de saúde associadas ao vírus.