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Ameaçada, matriz energética do país deve ficar menos limpa

Geração elétrica a partir de combustíveis fósseis passou de 6 por cento para 15 por cento de 2001 a 2011 e pode ter avançado mais


	Medidor de nível do reservatório da usina hidrelétrica de Itumbiara: o consumo de energia no Brasil deve saltar mais 50 por cento até 2010
 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Medidor de nível do reservatório da usina hidrelétrica de Itumbiara: o consumo de energia no Brasil deve saltar mais 50 por cento até 2010 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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Da Redação

Publicado em 15 de janeiro de 2013 às 17h12.

São Paulo - O Brasil tem historicamente se vangloriado de possuir uma matriz energética bastante limpa devido ao grande uso de hidrelétricas, mas as ameaças recentes ao potencial de geração a partir da água, que, alguns dizem, deixaram o país à beira de um racionamento, deverão fazer com que o uso de fontes menos limpas ganhem cada vez mais espaço no sistema.

Chuvas abaixo do normal nos últimos meses reduziram os níveis dos reservatórios das hidrelétricas a pontos críticos em meio ao pico de consumo elétrico no verão.

A situação trouxe de volta lembranças da crise de energia de 2001, quando empresas e consumidores tiveram que reduzir drasticamente o consumo após apagões.

Mais de uma década depois, Brasília se vê sob pressão para manter o abastecimento em meio ao aumento da demanda e ainda assim manter a base do sistema elétrico leve em emissões de gases do efeito estufa.

O consumo de energia saltou 40 por cento durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva devido à maior distribuição de renda e maior acesso ao crédito, e projeções indicam um novo salto de 50 por cento até 2020.

A rede de usinas termelétricas construídas para garantir o abastecimento tem sido cada vez mais utilizada, com o Brasil se desdobrando para conseguir gás no mercado para manter as unidades funcionando até que os níveis dos reservatórios melhorem.


FUTURO COM MAIS GÁS

A participação da produção elétrica com combustíveis fósseis passou de 6 por cento em 2001 para 15 por cento em 2011 e deve ter subido mais recentemente.

Enquanto isso, o governo se esforça para manter a participação da hidroeletricidade perto dos 70 por cento de uma base crescente, que foi de 74 mil megawatts médios em 2001 para aproximadamente 105 mil em 2011.

"O Brasil diz em seu Plano Nacional de Mudança Climática que pretende reduzir a participação de geração térmica na matriz para 12 por cento. Eu não consigo ver como isso vai acontecer", disse o pesquisador especializado em clima e energia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ronaldo Seroa da Motta.

O Brasil utiliza no momento praticamente toda a sua base de geração térmica, de aproximadamente 14 mil megawatts, que foi estabelecida originalmente para ser um sistema de emergência, para utilização em momentos de baixa na produção hidrelétrica.

Motta tem receio que isso se torne cada vez mais a norma, e não a exceção, com o país se preparando para a Copa do Mundo e logo depois as Olimpíadas, enquanto novas acumulações de gás natural são exploradas ao longo da costa.

"A situação atual está mostrando que nós temos uma matriz que tem muita chance de se tornar mais dependente de gás natural", disse.


PROBLEMAS COM RENOVÁVEIS

Um estudo divulgado durante a última reunião global da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o clima, em Doha, informou que as emissões de gases estufa do setor de energia no Brasil devem ter ultrapassado em 2012, pela primeira vez, aquelas vindas da destruição da floresta, já que o país tem obtido sucesso em reduzir o desmatamento, enquanto a demanda por energia segue crescendo.

As emissões do setor de uso da terra no país caíram 64 por cento de 2005 a 2011, disse o estudo, enquanto as do setor de energia cresceram 33 por cento em igual período.

Ironicamente, pressões de ambientalistas que fizeram com que os projetos de novas hidrelétricas desconsiderassem grandes acumulações de água, para reduzir áreas alagadas e o impacto nos locais de instalação, podem acabar colaborando para que o sistema energético brasileiro fique menos limpo do ponto de vista do carbono.

"A queda na confiabilidade do sistema está relacionada ao aumento da participação das usinas hidrelétricas a fio d'água, que não possuem reservatórios de acumulação ou regularização plurianual e que não podem armazenar energia para sua posterior geração", afirmou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires.


"Com a expansão do sistema sendo feita com esta modalidade de usinas, os problemas de regimes pluviométricos tendem a se agravar, diminuindo a confiabilidade do sistema", acrescentou.

A demora na interligação ao sistema de novos parques eólicos, como alguns já prontos no Nordeste, também evitou uma participação maior de renováveis na matriz.

Como o Brasil poderá ter metas de redução de gases do aquecimento global a partir de 2020, em um novo pacto global, a questão energética deve se transformar no principal item da política climática do governo, acreditam especialistas.

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