Itamaraty em Brasília (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)
Fabiane Stefano
Publicado em 4 de abril de 2021 às 08h00.
Última atualização em 5 de abril de 2021 às 09h53.
Com a saída do Ministro Ernesto Araújo do Itamaraty e o convite de Biden à Bolsonaro para uma cúpula sobre o clima em abril, o Brasil tem uma grande oportunidade de correr atrás do prejuízo e mostrar ao mundo que deixou para trás o viés ideológico que marcou a política externa do país desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu o poder em 2018. A opinião é do cientista político André César, da Hold Assessoria Legislativa, convidado especial do último episódio do podcast EXAME Política, que discutiu a dança das cadeiras que sacudiu Brasília nesta semana.
"A informação que temos do Itamaraty é que o França, o novo chanceler, apesar de muito próximo de Bolsonaro, é bem mais flexível e aberto ao diálogo que o seu antecessor. Só a saída de Araújo já é um alívio para os atores envolvidos", explicou César no Exame Política. "Agora em Abril, temos a reunião sobre o clima que o Biden convocou. Uma oportunidade importante, única, do governo Bolsonaro mostrar que mudou sua postura e que agora a história é outra."
César, entretanto, destaca que a troca do chanceler não é suficiente para corrigir os rumos da política externa brasileira - que é definida, em últimas instância, pelo próprio presidente, que também deve demonstrar uma mudança de pensamento. "O grande ministro é o próprio presidente. A política externa sai da cabeça dele. Por isso, ele tem que mudar. Se ele continuar nessa toada de conflitos, trocamos seis por meia dúzia, e nada muda", explicou o cientista político.
Fundador do IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública, Maurício Moura explica que a percepção é que, dadas as empreitadas frustradas de Araújo (como o apoio a candidatos que perderam as eleições, como Macri e Trump, e contaminação ideológica nas relações com a China), a queda do agora ex-chanceler veio mais tarde que o esperado.
Alinhado com Moura, César pontua que a questão do 5G também pode ser uma oportunidade de o Brasil fazer acenos positivos à comunidade internacional, mostrando que o país está aberto a discussões sem um viés ideológico. "Mas eu sou bastante pessimista em relação a capacidade do governo de tomar essas decisões. Eu não me espantaria se, ao invés de revisar, o brasil reforçasse seu posicionamento em relação ao meio ambiente, por exemplo", disse o cientista político no podcast.
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