Mundo

Alta dos preços do petróleo é risco para a retomada econômica

Manifestações no Egito fizeram preço do combustível ultrapassar os US$ 100; especialistas temem como consequência o aumento da inflação em países em desenvolvimento

A crise no Egito fez o preço do barril ultrapassar os US$ 100 pela primeira vez desde 2008 (Felipe Dana/Divulgação/EXAME)

A crise no Egito fez o preço do barril ultrapassar os US$ 100 pela primeira vez desde 2008 (Felipe Dana/Divulgação/EXAME)

DR

Da Redação

Publicado em 1 de fevereiro de 2011 às 15h02.

Paris - O novo aumento dos preços do petróleo, caso se confirme, representa um risco para a retomada econômica mundial, no momento em que as economias industrializadas estão convalescentes e a inflação torna-se um fator de preocupação para países ricos e emergentes.

Já em alta nas últimas semanas, o barril do bruto, empurrado pelas tensões no Egito, ultrapassou em Londres o teto simbólico dos 100 dólares - um nível a que não chegava há dois anos. Tal situação pode fazer a felicidade das nações produtoras, mas não das que usufruíam, em 2010, da estabilidade das cotações em torno de 70 ou 80 dólares.

"Preços elevados do petróleo representam séria ameaça para a retomada econômica", porque agravam a inflação "principalmente nos países em desenvolvimento", prevê o Centre for Global Energy Studies (CGES).

Os economistas analisaram o impacto do custo do ouro negro no crescimento: um aumento das cotações acarreta um crescimento da inflação que repercute na produção e no transporte e, então, nos preços ao consumidor.

Isto afeta o poder de compra dos lares que, em contrapartida, vão exigir salários mais elevados, provocando efeitos inflacionários. Paralelamente, recuam o consumo e o investimento, tornando mais lenta a atividade econômica.

Segundo os economistas do Deutsche Bank, um salto de dez dólares no preço do barril amputa o crescimento americano em meio ponto percentual.

Na França, um estudo dos economistas Muriel Barlet e Laure Crusson faz referência a uma "melhor resistência ao choque do petróleo" desde o começo da década de 1980. Isto se explica por "uma política energética ambiciosa para reduzir a conta-petróleo" e uma política monetária rigorosa para evitar "as espirais inflacionárias".

No entanto, revela o estudo, o impacto negativo sobre o crescimento é mais marcado "durante períodos nos quais as conjunturas nacional e internacional são mais negativas", o que é o caso atual.

As economias americana e europeia tentam virar definitivamente a página da recessão histórica de 2009.

Ora "se a inflação continua a subir", os bancos centrais serão tentados a ajustar os parafusos "aumentando as taxas de juros", explica Ben May, da Capital Economics. "Isto agravaria principalmente a situação dos países fragilizados da Zona do Euro, que penam para sair da recessão".

Os riscos são também elevados nos países emergentes.

Primeiro porque o crescimento vigoroso já se traduz, entre eles, por um aumento da inflação. A alta das cotações do bruto pode, então, entre estes grandes consumidores de matérias-primas, acarretar uma aceleração dos preços.

Além disso, "as economias emergentes estão ainda mais dependentes do petróleo que as dos países mais ricos, em razão de sua estrutura industrial", revela Philippe Martin, professor de Ciências Políticas em Paris.

As autoridades monetárias poderiam também intervir com firmeza para evitar o superaquecimento, principalmente na China. E uma redução da atividade chinesa se traduziria em menor crescimento mundial.

De qualquer forma, um barril a 100 dólares, mesmo se não for considerado o ideal para os países consumidores, fica bem abaixo dos 147 dólares atingidos em 2008.

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaEgitoEnergiaInflaçãoPetróleo

Mais de Mundo

Justiça da Bolívia retira Evo Morales da chefia do partido governista após quase 3 décadas

Aerolineas Argentinas fecha acordo com sindicatos após meses de conflito

Agricultores franceses jogam esterco em prédio em ação contra acordo com Mercosul

Em fórum com Trump, Milei defende nova aliança política, comercial e militar com EUA