O enviado especial da ONU e da Liga Árabe para o país árabe, Kofi Annan (Lintao Zhang/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de junho de 2012 às 13h53.
Moscou - A Rússia fez neste sábado um apelo à comunidade internacional para convocar uma conferência de paz de emergência sobre a crise na Síria para impulsionar o cumprimento do plano de paz de seis pontos do enviado especial da ONU e da Liga Árabe para o país árabe, Kofi Annan.
'Quanto mais rápido, melhor. A Síria se encontra à beira de uma guerra civil em grande escala. A oposição não cumpre o ponto sobre a interrupção da violência, e o governo tampouco', declarou neste sábado Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores russo, em entrevista coletiva.
Lavrov disse que China, França e Irã receberam a proposta de forma positiva, enquanto os Estados Unidos ainda estão analisando-a. Segundo ele, o objetivo da conferência é 'contribuir ao cumprimento do plano de Annan e das resoluções da ONU'.
'Não vemos alternativa ao plano de Annan no caminho para a solução pacífica do conflito', ressaltou o chanceler da Rússia - principal potência aliada do regime sírio. 'A mudança violenta de regime por meio do confronto em massa com vários mortos entre a população civil'.
Dessa cúpula, que seria realizada sob a égide da ONU, participariam os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da organização - Rússia, China, EUA, França e Reino Unido -, os vizinhos da Síria - Irã, Iraque, Turquia e Jordânia -, a Liga Árabe e a União Europeia (UE).
'Devemos reunir todos aqueles que influem na situação da Síria. É preciso um mecanismo de fiscalização do cessar-fogo entre as partes e outro para o início do diálogo político', declarou Lavrov, que enfatizou que, em princípio, a cúpula não incluiria um representante sírio.
Ele também defendeu a participação do Irã na conferência - 'um dos países que tem influência sobre o Governo sírio' -, apesar das objeções já manifestadas pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton.
Lavrov, que abordou este assunto nesta sexta-feira à noite com Annan em conversa telefônica, classificou a conferência sobre a Síria como 'prova de fogo da honestidade' para a comunidade internacional sobre seu autêntico interesse de que o conflito no país árabe seja solucionado exclusivamente por meios pacíficos.
'O plano de Annan é atual, mas precisa da concretização, especialmente no que se refere ao ponto que contempla o fim do derramamento de sangue e o início do diálogo político', indicou o ministro do Kremlin, citado pelas agências de notícias russas.
Lavrov reconheceu também que o cumprimento dos seis pontos contemplados no plano se estagnou durante as últimas semanas. Ele culpou o 'aumento da atividade de elementos terroristas e extremistas internacionais'. Em sua opinião, esses grupos são instigados por forças externas 'com apoio moral, armas, dinheiro, etc.'.
'Atores externos motivam a oposição armada a continuar as ações militares, o que dá esperança a esses opositores sobre a repetição do cenário líbio', destacou o ministro da Rússia, país que se opõe à pressão internacional contra Damasco - várias potências ocidentais tentam articular sanções da ONU e a França já mencionou que não descarta apoiar uma intervenção militar na Síria.
O chanceler criticou algumas potências que, segundo ele, 'apoiam abertamente os grupos armados e a oposição, e, ao mesmo tempo, exigem à comunidade internacional ações firmes para a mudança de regime na Síria'.
Ele reconheceu que o regime de Bashar al-Assad 'cometeu muitos erros desde a eclosão do conflito' há mais de um ano, mas ressaltou que a responsabilidade da violência deve ser compartilhada pelos rebeldes.
O ministro garantiu que Moscou respaldaria a renúncia de Bashar al-Assad do regime sírio se, em troca disso, 'os sírios entrem de acordo uns com os outros', mas ressaltou que 'impor isso de fora como condição é inaceitável, já que não conduzirá a uma solução definitiva'.
Ao mesmo tempo, Lavrov ressaltou que a Rússia se mantém contrária a uma intervenção militar estrangeira na Síria e sobre a imposição de novas sanções internacionais contra Damasco.
'Nossa postura se mantém invariável: não aceitaremos que o Conselho de Segurança (da ONU) aprove o uso da força. Isso acarretaria em consequências gravíssimas para todo o Oriente Médio. Não porque apoiamos o regime Assad, mas porque sabemos o quão complexa é a composição confessional do Estado sírio', acrescentou.
Em sua opinião, 'alguns que exigem ingerência externa, o que desejam é romper esse equilíbrio confessional e transformar a Síria em um polígono para a luta pela hegemonia no mundo muçulmano'.
Lavrov também ressaltou que, caso a conferência de paz seja convocada, este deve ser o único formato aceito internacionalmente para a solução pacífica do conflito, o que invalidaria as ações do chamado Grupo de Amigos da Síria - formado basicamente por potências ocidentais e países do mundo árabe.
Além disso, o chanceler rejeitou as acusações dos EUA de que o armamento russo contribua para a guerra civil na Síria, alegando que, após a eclosão do conflito, o Kremlin decidiu não fornecer armas de fogo e outros equipamentos que pudessem ser utilizados em caso de confronto civil.