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Aleppo registra combates mesmo com trégua

Segundo a ONU, a Rússia aceitou prolongar até sábado à noite a trégua em Aleppo, depois que o exército sírio fez a mesma promessa

Síria: as Nações Unidas esperam poder evacuar os primeiros feridos do leste de Aleppo a partir de sexta-feira (REUTERS/Khalil Ashawi)

Síria: as Nações Unidas esperam poder evacuar os primeiros feridos do leste de Aleppo a partir de sexta-feira (REUTERS/Khalil Ashawi)

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AFP

Publicado em 20 de outubro de 2016 às 13h14.

A trégua humanitária decretada por Moscou entrou em vigor nesta quinta-feira na cidade síria de Aleppo (norte), mas ainda há registros de combates e nenhum habitante dos bairros rebeldes transitou até agora pelos corredores abertos para a evacuação de civis e rebeldes.

Segundo a ONU, a Rússia aceitou prolongar até sábado à noite a trégua em Aleppo, depois que o exército sírio fez a mesma promessa.

Desde o início da "pausa humanitária" que começou às 08h00 locais (03h00 de Brasília), ocorreram tiros incessantes de artilharia e de armas automáticas no corredor próximo ao bairro de Bustan al-Qasr, controlado pelos rebeldes.

A televisão oficial síria falou de feridos, e seriam três, de acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Seis dos oito corredores humanitários instalados servem para a retirada de civis, doentes e feridos, enquanto os outros dois se destinam à saída dos rebeldes armados. Mas os civis também poderão utilizar estes dois últimos, de acordo com o exército russo.

As Nações Unidas esperam poder evacuar os primeiros feridos do leste de Aleppo a partir de sexta-feira, anunciou nesta quinta Jan Egeland, que dirige o grupo de trabalho sobre a ajuda humanitária na Síria.

"Esperamos que as primeiras evacuações médicas ocorram amanhã", declarou Egeland durante um encontro com a imprensa em Genebra. Também disse que a ONU tem autorização da Rússia, do regime sírio e de grupos armados da oposição.

Um jornalista da AFP que visitou quatro corredores confirmou que nenhum civil passou por estes locais. Disse ainda que uma mulher, sua filha e um homem idoso deram meia volta quando os combates começaram.

As câmeras do exército russo que filmaram os dois corredores destinados aos rebeldes, para ser transmitidos no site do ministério da Defesa russo, mostraram ônibus com vidros cobertos, ambulâncias estacionadas e militares armados, sem maior atividade.

"Ninguém deixou os bairros rebeldes nesta manhã", afirmou o OSDH.

A agência oficial Sana acusou os "grupos terroristas" pelos tiros. Um fotógrafo da AFP confirmou que escutou os ataques perto do corredor de Bustan al-Qasr, que liga a zona rebelde com outra área controlada pelo governo.

Com anúncios nos alto-falantes, o exército sírio pediu aos moradores dos bairros da zona leste que "aproveitem a oportunidade" para retirar os feridos e informou que a trégua vai durar três dias, sempre das 8H00 às 16H00.

Também nesta quinta-feira, um porta-voz da ONU informou que a Rússia aceitou prolongar até sábado à noite a trégua, depois que o exército sírio fez a mesma promessa.

"A Rússia disse à ONU que vai instaurar uma pausa de 11 horas por dia, durante três dias e a partir desta quinta-feira", informou o porta-voz do escritório de coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), Jens Laerke.

Há dois dias o regime do presidente Bashar al-Assad e sua aliada Rússia suspenderam os bombardeios contra os bairros da zona leste de Aleppo, onde vivem cerca de 250.000 pessoas.

Moradores das áreas controladas pelos rebeldes manifestaram à AFP o desejo de deixar a região, mas não esconderam o ceticismo com o anúncio da trégua "humanitária".

"Preciso sair daqui porque as condições de vida estão muito deterioradas, falta comida e trabalho. Mas não serei o primeiro a passar por estes corredores, arriscando a minha vida e a da minha família", disse à AFP Mohamed Shayah, desempregado e pai de quatro filhos.

Moscou anunciou na quarta-feira que a trégua deveria durar 11 horas, ao invés das oito informadas inicialmente. À noite, o exército sírio a ampliou para três dias. E nesta quinta a extensão até a noite de sábado foi confirmada.

ONU precisa de mais tempo

Jens Laerke, porta-voz da OCHA, afirmou na quarta-feira que as equipes responsáveis pelo envio de auxílio a Aleppo precisavam de uma interrupção dos combates por pelo menos 48 horas.

Há várias semanas, as potências ocidentais acusam Moscou de "crimes de guerra" por bombardeios extremamente violentos, iniciados em 22 de setembro, que mataram centenas de civis e destruíram boa parte da infraestrutura, sobretudo hospitais.

O regime sírio e sua aliada Rússia afirmam, no entanto, que atacam os bairros da zona leste de Aleppo para eliminar os "terroristas", principalmente os extremistas da Frente Fateh al Sham (ex-Frente al Nosra, braço sírio da Al-Qaeda).

Aleppo, que já foi a capital econômica da Síria, se transformou em um dos símbolos da guerra que está destruindo o país desde março de 2011. A cidade está dividida desde 2012 entre a zona oeste pró-governo e a zona leste controlada pelos rebeldes.

Localizados principalmente nas proximidades de escolas e mesquitas, os pontos de entrada dos corredores humanitários serão vigiados por drones, segundo o exército russo.

Ônibus e ambulâncias foram enviados para os corredores, ao norte e ao sul da cidade.

Funcionários da missão das Nações Unidas e voluntários do Crescente Vermelho da Síria devem ajudar na retirada de civis, com um acompanhamento ao longo de todo o trajeto a partir de Aleppo, indicaram os militares russos.

"Não temos nada a fazer com a iniciativa russa. Violaram todas as iniciativas anteriores, não confiamos neles", afirmou Yaser al Yusef, dirigente do grupo rebelde Noureddin al Zinki, que tem forte presença em Aleppo.

"Quem são eles para decidir deslocar o povo sírio que se rebelou contra o ditador Assad? Não renunciaremos ao nosso direito de defender nosso país ante a máquina de matar dos russos e do regime", completou.

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