O candidato social-democrata Olaf Scholz e o candidato conservador Armin Laschet durante a votação de 26 de setembro de 2021 (Ina Fassbender/AFP)
AFP
Publicado em 27 de setembro de 2021 às 06h37.
Última atualização em 27 de setembro de 2021 às 06h46.
A Alemanha entrou nesta segunda-feira, 27, em um período de incerteza após uma eleição apertada, em que os dois maiores partidos do país defendem o direito de governar a maior economia da Europa, o que provoca indefinição sobre quem será o sucessor de Angela Merkel.
Liderado pelo ministro das Finanças e vice-chanceler Olaf Scholz, o Partido Social-Democrata (SPD) é projetado como o vencedor com 25,7% dos votos, de acordo com resultados preliminares divulgados pelo site da Comissão Eleitoral.
A aliança conservadora da União Cristã-Democrata (CDU), de Merkel, e o partido aliado bávaro, CSU, liderada por Armin Laschet, teria 24,1% dos votos, o pior resultado de sua história de sete décadas.
O Partido Verde aparece em terceiro lugar, com 14,8%, seguido pelo Partido Democrático Liberal (FDP) com 11,5% e a formação de extrema-direita Alternativa para Alemanha (10,3%).
Na Alemanha não são os eleitores que escolhem diretamente o chefe de Governo, e sim os deputados, uma vez formada a maioria.
Mas desta vez alcançar a maioria será algo especialmente complicado, pois deve reunir três partidos - a primeira vez que isto acontece desde a década de 1950 - devido à fragmentação do voto.
"Começa a partida de pôquer", destaca a revista Der Spiegel. "Depois da votação, as perguntas essenciais permanecem em aberto: Quem será o chanceler? Que coalizão governará o país no futuro?".
Para um país acostumado à estabilidade política após 16 anos sob a liderança firme de Merkel, os próximos meses devem representar um período conturbado.
Tanto Scholz, 63 anos, como Laschet, 60, afirmaram que pretendem ter um governo formado antes do Natal.
A Bolsa de Frankfurt também parece acreditar na possibilidade e abriu em alta de mais de 1% nesta segunda-feira.
Nesta segunda-feira, Scholz decidiu pressionar os conservadores e afirmou que o lugar deles é a oposição.
"A CDU e a CSU não apenas perderam votos, também receberam a mensagem dos cidadãos de que não devem mais estar no governo, e sim na oposição", declarou o líder social-democrata.
Os alemães "querem uma mudança no governo e [...] também querem que o próximo chanceler se chame Olaf Scholz", disse algumas horas antes.
Mas os conservadores, apesar do resultado "decepcionante", destacaram que também pretendem formar o próximo governo, advertiu Laschet.
"Faremos o possível para construir um governo dirigido pela união CDU-CSU", declarou o candidato democrata-cristão.
As eleições apresentaram resultados muito divididos, o que significa que os partidos majoritários precisarão do apoio de outras duas formações para conseguir uma coalizão com peso suficiente para governar.
O processo de definição do novo governo pode levar a maior economia europeia a um longo processo de paralisação política durante as negociações entre os partidos.
Após as eleições de 2017 foram necessários mais de seis meses para um acordo e a formação da atual grande coalizão de conservadores e social-democratas.
Para os democratas-cristãos, as "perdas são amarga", admitiu Paul Ziemak, número dois da CDU. O partido nunca havia registrado menos de 30% dos votos. Em 2017 obteve 32,8%.
Uma demonstração da queda: a circunscrição de Angela Merkel, pela qual ela foi eleita deputada desde 1990, foi vencida pelo SPD.
Os resultados projetam um renascimento inesperado do Partido Social-Democrata, considerado moribundo por alguns analistas há pouco tempo.
Um declínio desta dimensão dos conservadores ofuscaria o fim de governo de Merkel, que apesar de continuar muito popular após quatro mandatos, parece ter sido incapaz de preparar sua sucessão.
As negociações talvez adiem a aposentadoria efetiva da chanceler, de 67 anos, que dedicou mais de três décadas à política.
A França, que assume a presidência temporária da União Europeia (UE) no início de 2022, pediu a firmação rápida de um governo "forte" na Alemanha.
O Partido Verde, liderado por Annalena Baerbock, que durante algum tempo foi considerado favorito, tem apoio suficiente para influenciar a definição do próximo governo.
Da mesma maneira, os liberais do FDP conquistaram apoio suficiente para ter a chave do governo e virar uma presença inevitável de uma futura coalizão.
Além disso, o partido de extrema-direita AfD, cuja entrada no Bundestag (Parlamento) nas eleições de 2017 foi muito comentada, confirmaria sua permanência no cenário político da Alemanha. Porém, com entre 10% e 11% dos votos, este partido islamofóbico, enfraquecido por seus problemas internos, registraria um leve retrocesso na comparação com o pleito anterior (12,6%).
Se a tendência for confirmada, Scholz ficaria na posição de suceder a Merkel e desencadear a "mudança" que prometeu no fim de sua campanha.
Os Verdes se reservam a possibilidade de uma aliança tanto com o SPD como com a direita, alegando que que seu desejo, acima de tudo, é promover o programa para lutar contra a mudança climática.
De acordo com uma pesquisa YouGov, a maioria dos eleitores apoia uma coalizão de centro-esquerda, ecologistas e liberais. E 43% acreditam que Olaf Scholz deve ser chanceler.
A opção de uma coalizão puramente de esquerda, no entanto, parece descartada. O partido de esquerda radical Die Linke teve resultados muito reduzidos, segundo as estimativas.
Após uma campanha caótica marcada por suas gafes, Laschet terá que mostrar muita persuasão. Seu último erro: ao depositar o voto na urna, ele mostrou a cédula diante das câmeras, quebrando a regra de que o voto deve ser secreta.
O fim da era Merkel pode resultar em uma nova guerra na direita alemã, com a liderança de Laschet questionada, oito meses após sua eleição para comandar o partido.