Repórter de macroeconomia
Publicado em 23 de fevereiro de 2025 às 08h01.
Hannover, Alemanha* - Ampliar os gastos militares foi um tema evitado na Alemanha por décadas. O assunto, no entanto, ganhou força após a invasão da Rússia pela Ucrânia, em 2022, e teve ainda mais destaque após as ameaças de corte de parcerias feitas pelos Estados Unidos nos últimos dias.
Na semana passada, o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, disse, em Munique, que "nos parece importante que os europeus façam um esforço maior, enquanto os Estados Unidos se concentram em regiões do mundo que correm mais perigo". A mensagem foi entendida como um sinal claro de que os europeus deverão contar menos com os americanos.
A Alemanha escolherá um novo governo neste domingo, 23, e as ações militares entraram na pauta. Uma das propostas de maior consenso é retomar o serviço militar obrigatório, suspenso em 2011. A medida é defendida por CDU/CSU, AfD e SPD (esse último defende que seja voluntário), os três partidos que lideram as pesquisas.
O aumento dos gastos militares também é defendido por diversos partidos, incluindo os Verdes, que argumentam que o governo precisa aumentar o teto de gastos para investimentos em defesa.
A AfD propõe que a Alemanha busque atuar de modo mais independente em defesa, sem depender da União Europeia ou da Otan, e que o país deixe de fornecer armas para a Ucrânia.
As propostas para ampliar as ações militares já ocorrem há alguns meses. Em setembro, o ministro da Defesa, Boris Pistorius, propôs aumentar o gasto militar de 2% para entre 3% e 3,5% do PIB. Uma pesquisa feita em novembro pelo instituto Koerber-Stiftung mostrou que 50% dos alemães apoiavam a ideia.
No começo de fevereiro, a Deustche Messe, maior organizadora de feiras de negócios do país, anunciou o lançamento da primeira feira do país voltada para itens de defesa militar. A DSEI Alemanha será realizada em janeiro de 2027, em Hanover.
"O ponto de virada na política de defesa da Alemanha não apenas exige que reorientemos nossa estratégia de defesa, mas também requer a promoção direcionada de capacidades tecnológicas e industriais", disse Boris Pistorius, ministro da Defesa, quando o evento foi anunciado.
"Eu tinha 20 anos durante a unificação alemã, servi no Exército. Comecei em maio, quando havia dois Estados alemães, e quando terminei, se tornaram um só, sem um único tiro, sem sangue", disse Jochen Köchler, presidente da Deustche Messe. "Eu realmente nunca imaginei que veríamos uma guerra na Europa."
*O repórter viajou a convite da feira Hannover Messe.