Angela Merkel, chanceler alemã: país terá que encontrar uma forma de cobrir 22% de suas necessidades energéticas (John MacDougall/AFP)
Da Redação
Publicado em 30 de maio de 2011 às 10h21.
Belim - A Alemanha, a primeira grande potência industrial que renuncia à energia nuclear, decidiu nesta segunda-feira fechar os últimos reatores do país em 2022 após a catástrofe da central nuclear japonesa de Fukushima.
"Após longas consultas, a coalizão chegou a um acordo para dar fim ao recurso à energia elétrica", declarou o ministro do Meio Ambiente, Norbert Rottgen, após sete horas de negociações no escritório da chanceler Angela Merkel.
Quatorze dos 17 reatores alemães não estarão mais em serviço no fim de 2021 e os três últimos - os mais novos - serão utilizados até 2022 no mais tardar, explicou o ministro, que chamou a decisão de "irreversível".
Os sete reatores alemães mais antigos já haviam sido desconectados da rede de produção de energia elétrica, à espera de uma auditoria solicitada em março por Angela Merkel após a catástrofe da central nuclear de Fukushima.
Os sete - além de um oitavo, que registra falhas reiteradas - não serão mais reativados, segundo o ministro.
O governo formalizará a decisão em 6 de junho.
A Alemanha terá que encontrar até 2022 uma forma de produzir 22% de sua energia elétrica, atualmente assegurados pelas centrais atômicas.
"Nosso sistema de energia deve e pode ser fundamentalmente modificado", afirmou Angela Merkel nesta segunda-feira.
Os Verdes, que viram sua popularidade disparar após o acidente de Fukushima, insistem na necessidade de recorrer às energias renováveis, ao invés das centrais de carvão.
"Não se trata apenas de saber como sairemos da energia nuclear, mas também a que velocidade, e com que ambição, ingressamos nas energias renováveis", destacou Claudia Roth, uma das líderes dos Verdes.
Ao decretar o fim da era nuclear civil em 2022, Merkel retoma uma das promessas mais importantes do início de seu segundo mandato, que foi também uma das principais de sua campanha para as legislativas de 2009.
No fim de 2010, a chanceler alemã conseguiu aprovar uma prorrogação de 12 anos em média para a duração legal da exploração dos reatores do país, contra a opinião pública do país, o que provocou uma explosão do sentimento antinuclear na Alemanha.
O governo precedente de social-democratas e Verdes prometera deter o programa nuclear.
Com a decisão do fim do ano passado, Merkel provocou um aumento dos sentimentos antinucleares na Alemanha, que se traduziram em grandes manifestações, a última delas no sábado, com 160.000 pessoas em 20 cidades do país.
Mas o momento decisivo foi a catástrofe da central nuclear de Fukushima em março. Merkel paralisou imediatamente as centrais mais antigas e iniciou um debate sobre o abandono do programa nuclear civil.
A mudança foi considerada uma manobra oportunista e não impediu a derrota em 27 de março nas eleições regionais de Bade-Wurtemberg (sudoeste), reduto eleitoral dos conservadores, que governavam a região há 50 anos.
Os conservadores perderam o governo local para os Verdes, que pela primeira vez assumiram o controle de uma região.
O governo de Merkel terá agora que enfrentar a previsível irritação do poderoso lobby nuclear alemão, que não hesita em mencionar o fantasma de apagões no país, especialmente no inverno.