Al Nahda obteve 41 das 94 que estavam em disputa (de um total de 217 com as quais conta a Assembleia Constituinte) (Lionel Bonaventure/AFP)
Da Redação
Publicado em 25 de outubro de 2011 às 18h02.
Túnis, Tunísia - O movimento islâmico Al Nahda venceu em todas as províncias nas quais foi encerrada a apuração das eleições do último domingo na Tunísia, e seus líderes na capital Túnis já iniciaram os contatos para formar as novas instituições.
A Instância Superior Independiente Eleitoral (ISIE) divulgou na tarde desta terça-feira dados da apuração em dez províncias, duas delas com circunscrição dupla (a industrial Sfax e a turística Nabel), e a soma total de cadeiras indica que o Al Nahda obteve 41 das 94 que estavam em disputa (de um total de 217 com as quais conta a Assembleia Constituinte).
A Al Nahda obtém em todos os casos porcentagens muito altas, próximos de 40% do total de cadeiras. A menor vantagem foi em Sfax, onde o partido ficou com sete das 16 cadeiras em disputa.
Embora faltem os resultados da capital (que inclui também duas circunscrições), parece muito difícil uma mudança na tendência estabelecida em todo o país: uma clara vitória do Al Nahda sobre todos os partidos, que têm votos muito fragmentados.
Além disso, o modo de representação proporcional da lei eleitoral tunisiana, que 'corrige' o peso das maiorias, fez com que a vitória do Al Nahda fosse menos contundente em cadeiras que em número de votos, já que os islâmicos receberam mais da metade dos votos em várias províncias.
Apesar de ter sido anunciado que os resultados totais estariam prontos na tarde desta segunda, a ISIE não fixou o horário da divulgação oficial.
Um grupo de jovens, que ontem contava com cerca de 50 integrantes e hoje chegava a várias centenas, se aproximou do lugar onde a ISIE estava divulgando seus resultados de hoje para protestar por uma suposta 'fraude' cometida nas eleições do domingo.
Convocados através das redes sociais, estes jovens, todos simpatizantes de partidos laicos e muitos também protagonistas da revolução que em janeiro tombou o regime de Ben Ali, acusaram o Al Nahda de comprar eleitores e transgredir assim seus próprios princípios islâmicos.
No entanto, os partidos laicos, grandes perdedores destas eleições, evitaram se somar às vozes de protesto e parecem ter aceitado os últimos resultados, em linha com os grupos internacionais de observadores, que validaram as eleições, minimizando as irregularidades.
O enviado da União Europeia para o sul do Mediterrâneo, Bernardino León, mostrou-se cauteloso em relação à falta de resultados oficiais, mas disse à Agência Efe que o programa político do Al Nahda, é 'reformado, para uma Tunísia nova, com propostas abertas e inovadoras, com vistas para a Europa'.
O realismo político parece se impor também sobre o próprio movimento Nahda, que já iniciou contatos para a formação das instituições nesta nova era democrática para seu país.
'O partido iniciou conversas com várias personalidades políticas ou independentes com o objetivo de preparar o próximo presidente de Estado', disse à Agência Efe o diretor de organização do Al Nahda, Tarek Ben Ahmed.
Entre estas personalidades, Ben Ahmed citou Mustafa Ben Jaafar, líder do partido Takatol (Fórum Democrático pelo Trabalho e as Liberdades), e Kamel Nabli, diretor do Banco Central tunisiano.
Takatol é a força que parece ocupar o terceiro lugar na preferência dos eleitores, e seu caráter social-democrata (é membro da Internacional Socialista) mostra que o Al Nahda multiplica os sinais de abertura política para afastar qualquer imagem de radicalismo que alguns o atribuem, inclusive dentro da Tunísia.
'O primeiro Ministério será ocupado por personalidades que não são do Al Nahda', afirmou Ben Ahmed.
Os observadores internacionais consideram que Jabali, representante do partido do interior representa o ramo mais aberto do Al Nahda frente aos mais conservadores que apoiam a Rachid Ghannouchi.