O francês Nicolas Sarkozy, criticado pela oposição pela compra do avião presidencial 'de segunda' (.)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
Paris - O novo avião presidencial da França, um aparelho de segunda mão que a imprensa batizou de "Air Sarko One", supõe uma despesa de 176 milhões de euros aos cofres do Estado enquanto a Presidência anuncia cortes no Executivo.
Ao invés de encomendar um novo aparelho à filial da EADS, o Governo escolheu a opção "mais econômica" e adquiriu no mercado um A300-200 da companhia aérea Air Caraibes, para o qual a imprensa encontrou um irônico pseudônimo que faz alusão ao célebre avião que transporta o inquilino da Casa Branca, o Air Force One.
"O presidente da República deveria se incluir na lista de economia que pede aos outros", declararam à Agência Efe fontes do Grupo Socialista na Assembleia Nacional.
As vozes discordantes, em especial a do ex-primeiro-ministro Dominique de Villepin e a da ex-candidata à Presidência Ségolène Royal, criticam que o chefe do Estado tenha pedido sobriedade e se esquivado de baixar o seu próprio salário e renunciar a seu novo avião, cujo custo por hora de voo ronda os 20 mil euros.
Até começar a transportar o presidente e os ministros do Executivo francês em outubro, a polêmica aeronave descansa em um aeroporto de Bordeaux onde recebe os últimos retoques.
Seu desenho original, com capacidade para 324 pessoas, será modificado para receber 60 passageiros e deixar espaço para um quarto presidencial com chuveiro, salão, uma sala de reuniões e um centro médico.
Além disso, o avião será equipado com a última moda em telecomunicações em voo (telefonia, fax, computador e internet para enviar mensagens codificadas) e um chamariz antimísseis para garantir a segurança do comandante do Estado quando a aeronave decolar em zonas de conflito.
A mudança de avião, que substitui um Airbus A319 comprado há menos de uma década e cujo custo foi incluído no Orçamento de 2010, responde à necessidade de ganhar autonomia de voo, explica o Ministério da Defesa.
Sua aquisição, criticada pela oposição desde que foi divulgada, se justifica porque o Airbus que levará Nicolas Sarkozy pelo mundo pode percorrer mais de 11 mil quilômetros sem escalas, frente aos 7 mil quilômetros de seu antecessor, dos tempos do ex-presidente Jacques Chirac e que agora está a venda.
Ou seja, o chefe do Estado e os membros do Executivo que utilizarem o avião poderão programar voos diretos a Pequim ou a costa oeste dos Estados Unidos, mas também a territórios ultraperiféricos franceses como à ilha da Reunión, no oceano Índico.
Os socialistas acrescentaram que "todos os presidentes usaram esses aviões que faziam escalas", por isso "é preciso se perguntar quais são as urgências orçamentárias e se o avião presidencial entra nelas".
Os detalhes sobre a substituição do avião presidencial vazaram à imprensa coincidindo com a decisão de Sarkozy de apertar o cinto governamental para se adequar aos novos tempos de austeridade econômica.
"A luta contra o desperdício será sistemática, em todos os níveis da administração", advertiu o presidente francês esta semana, quando anunciou uma bateria de medidas de sobriedade nos deslocamentos de ministros e altos funcionários, o número de carros oficiais e as cerimônias e recepções.
O "imperativo moral" encorajado por Sarkozy acontece depois que vários escândalos relacionados com o esbanjamento do dinheiro público salpicaram em vários membros do Executivo, como o caso do secretário de Estado de Desenvolvimento da Região da Capital, Christian Blanc, que chegou a gastar 12 mil euros em puros, a costa do erário.
No Palácio do Eliseu, onde a poupança levou ao cancelamento no dia 14 de julho da tradicional "Garden Party" para comemorar o dia da República, preferem não fazer comentários sobre o avião com o qual Sarkozy deve cruzar os céus.