Produção de petróleo: Japão deve manter demanda global para reconstrução do país (Joe Raedle/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2011 às 08h44.
Paris - A escalada dos preços do petróleo começou a causar os primeiros efeitos sobre a demanda mundial, cujo crescimento desacelerou nos dois primeiros meses do ano, advertiu nesta terça-feira a Agência Internacional da Energia (AIE).
"Há riscos reais de que preços sustentados acima de US$ 100 por barril se mostre incompatível com o ritmo esperado da recuperação econômica", assinalou a AIE em seu relatório mensal sobre o mercado petroleiro.
Os sinais desse arrefecimento são os percentuais de ascensão do consumo global, que passaram de 4,8% em dezembro (com relação ao mesmo mês do ano anterior) para 4% em janeiro e, ainda, 2,9% em fevereiro, uma evolução similar a constatada em 2008 quando o petróleo atingiu tetos históricos, indicou.
Principalmente, esse arrefecimento está mais latente em países emergentes como China, Tailândia e Malásia.
Apesar de tudo, os autores do relatório não modificaram as expectativas para 2011, com aumento da demanda de 1,6%, para os 89,4 milhões de barris diários.
A razão é que revisaram em alta as previsões para o Japão, que vai consumir mais hidrocarbonetos para compensar o desligamento de várias de suas usinas nucleares e para enfrentar os trabalhos de reconstrução após o terremoto e o tsunami do março.
No total, a demanda do Japão aumentará neste ano em 30 mil barris diários com relação a 2010. Antes da catástrofe se esperava redução de 120 mil barris diários.
O aumento excepcional pelo Japão será compensado pela redução das expectativas de consumo para Europa, principalmente, em países como Kuwait, Brasil e Rússia.
A AIE avisou que se o volume de petróleo colocado no mercado se mantivesse durante todo o ano em níveis de março, as reservas industriais dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) poderiam cair para patamares aos quais não chegou em cinco anos.
Ou seja, que dos 59,2 dias de consumo de reservas que havia em fevereiro com 2,676 bilhões de barris (50,8 milhões menos que um mês antes) passaria para 57 dias.
O problema é que essa situação se daria com margem de produção excedente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), limitada a 3,91 milhões de barris diários, dos quais 3,2 milhões correspondem à Arábia Saudita.
A agência destacou que em março a produção mundial caiu em 700 mil barris diários, para os 88,3 milhões de barris pela diminuição próxima a 70% da Líbia, que reduziu a contribuição global da Opep em 890 mil barris diários, para os 29,2 milhões de barris diários.
Em março, as extrações na Líbia passaram de 935 mil barris diários a 450 mil, mas na atualidade anulou-se completamente por três ataques das forças de Muammar Kadafi às jazidas controladas pelos rebeldes, em relação às primeiras exportações realizadas com um navio que saiu de Tobruk no último dia 6.
A AIE destacou que a parada brusca completa abalou as esperanças de uma reativação da atividade, e demonstrou que o restabelecimento "poderá demorar vários meses".
Os problemas de abastecimento mundial não se limitam à Líbia, mas há uma série de países no Oriente Médio e na África Subsaariana que sofrem com a instabilidade política que poderia afetar sua produção de petróleo que representa 3 milhões de barris diários.