Drone americano sobrevoa base na Virgínia: organização documenta dezenas de massacres na área tribal do Waziristão, no noroeste paquistanês (REUTERS/Rich-Joseph Facun)
Da Redação
Publicado em 22 de outubro de 2013 às 07h53.
Londres - A Anistia Internacional (AI) acusou nesta terça-feira os Estados Unidos de realizarem no Paquistão ataques ilegais com aviões não tripulados (drones) que em alguns casos constituem "crimes de guerra".
Em um grande relatório chamado "Serei eu o próximo? Ataques com drones dos Estados Unidos no Paquistão", a organização documenta dezenas de massacres na área tribal do Waziristão, no noroeste paquistanês, a mais afetada por esse tipo de ofensiva.
A AI analisou 45 ataques efetuados entre janeiro de 2012 e agosto de 2013 e constatou "a falta de transparência" do governo americano em relação a esse tipo de operação.
"O secretismo que rodeia seus programas de drones concede à administração dos Estados Unidos licença para matar fora do alcance dos tribunais ou dos padrões básicos da legislação internacional", declarou Mustafa Qadri, investigador da Anistia Internacional.
"É hora dos EUA serem transparentes sobre seu programa e levar os responsáveis pelas violações perante a justiça", afirmou em comunicado.
A AI afirma que as vítimas dos ataques com drones, frequentemente civis inocentes, não podem reivindicar reparação se os Estados Unidos "nem sequer reconhecem sua responsabilidade por cada um dos ataques".
Em seu relatório, o organismo revelou que nas ofensivas estudadas algumas das vítimas foram uma avó de 68 anos, Mamana Bibi, que foi assassinada enquanto recolhia hortaliças rodeada de seus netos, ou 18 trabalhadores, entre eles um de 14 anos.
Embora os EUA digam que os mortos eram "terroristas", a AI assegura que as vítimas não eram combatentes nem significam uma ameaça.
"Não há justificativa para estes massacres", denunciou Qadri, para quem "há ameaças verdadeiras para os EUA e seus aliados na região e os ataques com drones poderiam ser legais em algumas circunstâncias", mas não foram nestes casos.
A AI critica que ainda que não se materializou a promessa feita pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em maio de 2013, de ser mais transparente em relação ao uso de aviões não tripulados.
"Este secretismo permitiu aos EUA atuar com impunidade e evitar que as vítimas recebam justiça ou compensação", afirmou o investigador da AI, que lembra que nenhuma autoridade americana foi jamais processada por massacres ilegais com drones.
A Anistia Internacional denuncia que os moradores dessas áreas tribais vivem em um medo constante dos ataques por ar e também dos ajustes de contas dos combatentes talibãs, que castigam aqueles que percebem como suspeitos de colaborar com o inimigo.
Embora o governo do Paquistão se oponha oficialmente ao programa americano de drones, a AI afirma que instituições paquistanesas e de países como a Austrália, Alemanha e Reino Unido poderiam colaborar com a administração americana.
A Anistia Internacional e a Human Rights Watch -que ontem apresentou um relatório sobre ataques com drones no Iêmen- pedem ao Congresso dos Estados Unidos que investiguem os casos denunciados e outros possíveis massacres ilegais.