Lorenzo Galanti, diretor-geral da ITA, agência italiana de promoção de exportações (Divulgação)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 10 de outubro de 2024 às 17h10.
Última atualização em 4 de novembro de 2024 às 14h52.
O governo da Itália quer ampliar o volume de negócios com o Brasil, e lançou uma estratégia de cinco pontos para isso. O país europeu quer ampliar sua presença em cinco áreas e busca formas de facilitar as transações comerciais nos dois sentidos, enquanto espera a conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia.
"Nossa abordagem busca melhorar as trocas comerciais e investimentos nos dois sentidos. Não só de empresas italianas investirem no Brasil, mas também empresas brasileiras investindo na Itália", diz Lorenzo Galanti, diretor-geral da ITA, a agência de promoção de exportações da Itália, à EXAME.
Galanti esteve em São Paulo para um Fórum Empresarial Brasil-Itália, realizado na Fiesp nesta quarta-feira, 9. O evento teve a presença de Rui Costa, ministro da Casa Civil, e de Antonio Tajani, ministro das Relações Exteriores da Itália.
"Há muitos projetos acontecendo no Brasil, o que é muito interessante. Os números de crescimento do PIB e da economia são encorajadores. Estamos vendo um momento importante na economia, e queremos estar aqui no Brasil porque vemos que há crescimento e disposição, além de, em alguma extensão, abertura de mercado, ou ao menos mais fluidez", diz.
O Brasil é atualmente o maior parceiro comercial da Itália na América Latina. Em 2023, o fluxo entre os dois países atingiu US$ 10,6 bilhões, sendo US$ 5,69 bilhões em exportações italianas para o Brasil. O volume exportado cresceu 9,4% em 2023, na comparação com 2022.
"A maior parte das nossas exportações ao Brasil é de maquinário industrial. Queremos ser mais ambiciosos nisso", prossegue Galanti. "As mercadorias para o consumidor final também são parte muito importante do que podemos exportar ao Brasil, porque há uma grande comunidade de descendentes de italianos aqui. Temos uma chance muito boa de aumentarmos nossa presença aqui no Brasil".
O diretor diz que a estratégia se centra em cinco áreas: agroindústria, energia e biocombustíveis, máquinas industriais, tecnologia de mineração e aço e tratamento de água. Ele fala mais sobre os planos da Itália na entrevista a seguir.
Poderia detalhar mais sobre a estratégia da Itália para ampliar o comércio com o Brasil?
O objetivo do ministro Antonio Tajani nesta visita foi sinalizar o lançamento de uma nova estratégia da Itália no Brasil. Queremos desenvolver laços econômicos mais próximos. Estamos olhando para todos os setores, mas decidimos focar em cinco áreas específicas, nos quais há 134 companhias participando das discussões. Uma é a agroindústria, outra, infraestrutura de energia e biocombustíveis. A terceira é maquinário industrial. As outras são tecnologia de mineração e indústria do aço, e a última é tratamento de água. Podemos explorar joint ventures e novos projetos. Há várias ferramentas que podemos usar para incentivar colaborações entre companhias dos dois países.
Por que esta estratégia foi adotada neste momento?
Há a percepção de que o mundo está, infelizmente, caracterizado por várias tensões geopolíticas, conflitos e vários outros desafios. Temos de explorar novos mercados. Entendemos as necessidades das empresas italianas de saírem da sua zona de conforto e olhar para novos mercados. Vemos aqui [no Brasil] pré-condições interessantes para as empresas italianas fazerem mais e melhores negócios. Há estabilidade, democracia, não há grandes conflitos e há uma grande disposição de olhar da Itália para isso. E há também a perspectiva de um acordo UE-Mercosul, que também facilitaria o comércio em ambas direções.
Como estão as expectativas para a conclusão do acordo UE-Mercosul?
Esperamos que o acordo seja finalizado. Será uma grande oportunidade, uma grande ferramenta para as indústrias dos dois países. Falei com muitas empresas, especialmente da indústria, que realmente querem ver ele acontecer. Mas se não acontecer, temos de buscar outros caminhos para tornar nosso comércio mais fluído e superar, digamos, certas barreiras e problemas de acesso aos mercados que podem ser um problema maior para pequenas e médias empresas do que para grandes empresas, porque aumentam o custo de fazer negócios. Como agência, não estamos diretamente envolvidos nas negociações comerciais, mas fazemos todo o possível para ajudar as empresas italianas a fazerem negócios no Brasil.
O Brasil tem um grande portfólio de projetos de infraestrutura que buscam investimentos estrangeiros. Como o país pode fazer para atrair maior interesse estrangeiro no tema?
Há várias grandes empresas italianas interessadas nestes projetos. Poderia haver colaborações para ampliar o envolvimento italiano no setor. As companhias precisam agora entender realmente o que são essas oportunidades. O governo federal e o de São Paulo fizeram boas apresentações, e as empresas farão bom uso dessas informações.
A Itália tem uma tradição de produzir carros, inclusive no Brasil. Nos últimos anos, empresas chinesas ganharam espaço no país. Como vê esta competição?
A Stellantis é um bom exemplo. Eles têm atividades aqui. A questão dos carros chineses foram discutidas aqui, mas há fatores de competitividade e qualidade que são relevantes. Queremos ressaltar que, não só nos carros, tudo que é italiano tem um componente de qualidade, e isso é a força da nossa oferta. Mas, obviamente, há o fator de que os carros chineses estão presentes aqui e são muito competitivos em termos de preço.