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Agricultores se preparam para batalha contra praga exótica

Produtores brasileiros se preparam para uma batalha contra uma lagarta que ameaça impor prejuízos bilionários nas lavouras do país

Lagarta helicoverpa armigera repousa no polegar de um técnico em laboratório em Melbourne, Austrália (Mick Tsikas/Reuters)

Lagarta helicoverpa armigera repousa no polegar de um técnico em laboratório em Melbourne, Austrália (Mick Tsikas/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 21 de novembro de 2013 às 16h32.

São Paulo - Produtores rurais brasileiros preparam-se para uma batalha nesta safra contra uma lagarta que ameaça impor prejuízos bilionários nas lavouras de soja, milho e algodão do país.

A lagarta Helicoverpa armigera é uma praga que até pouco tempo não existia nas Américas e que atacou com força pela primeira vez no Brasil na safra passada (2012/13), surpreendendo pelo seu poder de destruição.

Os relatos mais contundentes vieram do oeste da Bahia. Junto com a seca, as lagartas geraram perdas de 2 bilhões de reais nas três principais culturas da região, segundo cálculos de uma associação local. E agora --com o plantio de soja passando de 70 por cento no país-- a lagarta preocupa agricultores em diversos Estados.

No início da semana, o Ministério da Agricultura decretou estado de emergência fitossanitária em Mato Grosso, principal produtor de grãos no país, abrindo espaço para ações mais contundentes de combate ao inseto.

"Tivemos soja nascendo já sendo atacada por lagarta grande. Ela não surgiu na soja, veio de herança das culturas de entressafra", contou o diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), Nery Ribas.

As lagartas começaram a ser detectadas em Mato Grosso ao longo de 2013, na entressafra, e já levaram a um aumento nas projeções de custos dos produtores.

"O número de aplicações de inseticidas deve, fatalmente, aumentar", lembra Ribas.

As estimativas de custos feitas pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária para a safra 2013/14 de soja subiram nos últimos meses por incluir, entre outros fatores, o maior uso de defensivos.

Entre a primeira estimativa, feita há cerca de um ano, e a atual, houve aumento de 88 por cento nos gastos com inseticidas, que agora estão projetados em 263 reais por hectare no Mato Grosso. Se isso for confirmado ao longo da safra, significará um aumento de 92 por cento ante o que foi gasto com este tipo de produto em 12/13.


Os inseticidas devem ter um peso de quase 20 por cento entre as despesas com insumos dos sojicultores de Mato Grosso.

No oeste da Bahia, as novas lavouras ainda estão sendo plantadas e algumas áreas já precisaram de intensa aplicação de inseticidas.

"Nesse início, está mais grave que no ano passado. Lavouras que estão com 20 dias já estão com três aplicações para Helicoverpa. Era para ter feito no máximo uma ou duas. Isso mostra que ela está bem presente", disse Luiz Stahlke, assessor de agronegócio da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba).

"A Helicoverpa é nossa principal dor de cabeça. E esse ano vai ser o Brasil todo vendo como é essa praga", completou.

O Brasil disputa com os Estados Unidos o título de maior produtor de soja do mundo, e deve colher nesta temporada entre 87,9 milhões e 90,2 milhões de toneladas, de acordo com a mais recente estimativa de safra do governo.

Controle

Lagartas do gênero Helicoverpa sempre existiram nas lavouras brasileiras, mas foi há apenas alguns meses que agricultores e pesquisadores perceberam que a espécie armigera havia chegado ao país.

"Quando começaram os ataques na safra 2012/13, achou-se que era a 'Helicoverpa zea' que estava mudando do milho para o algodão. É um problema saber como se maneja essa nova praga", contou Stahlke, técnico sediado em Barreiras, principal cidade do oeste baiano, uma das novas fronteiras agrícolas do país.

"É uma experiência de apenas um ano. Até os instrumentos de controle não são muito claros", disse o produtor rural Luis Fernando Kalinowski, diretor da Sociedade Rural do Paraná, Estado onde a lagarta ainda não apareceu com força, mas que já se mobiliza no treinamento de técnicos.

A Embrapa, principal órgão brasileiro de pesquisa agropecuária, alerta que não é apenas com inseticidas que as lagartas devem ser combatidas: é preciso um manejo bem planejado, incluindo o monitoramento detalhado da presença dos insetos, o uso de refúgios nas lavouras e a preservação de inimigos naturais.


"A falta de racionalização no uso de agrotóxicos, além de provocar a redução populacional dos inimigos naturais das pragas e desequilíbrios biológicos nos sistemas agrícolas, causa contaminação e problemas de saúde pública derivados dos efeitos tóxicos em humanos", disse a entidade, em um estudo publicado recentemente.

Liberações Emergenciais

Por ser uma praga que era até pouco tempo inexistente no país, ainda não há inseticidas específicos aprovados pela autoridades brasileiras.

No entanto, há um movimento para que possa ser feita a importação emergencial de benzoato de emamectina, um princípio já utilizado em países como a Austrália, onde a Helicoverpa armigera é uma velha conhecida dos agricultores.

"A lei autoriza, no caso de emergência, que possa se importar para uso controlado e restrito moléculas não registradas ainda no país", ressaltou o secretário substituto de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Ricardo da Cunha Cavalcanti.

Um dos critérios para a liberação é que seja declarada a emergência fitossanitária em regiões comprovadamente afetadas pela Helicoverpa. Bahia e Mato Grosso já encaminharam o pedido ao governo federal e tiveram o decreto publicado. Outros Estados, como Goiás e Piauí, também se movimentam para obter o mesmo status.

Agricultores temem que o processo de liberação e uso monitorado do inseticida importado seja muito lento e dê chance para a proliferação dos insetos.

"O estado de emergência que foi decretado não significa que vou ter produto amanhã na prateleira. É um processo burocrático de importação", disse Ribas, da Aprosoja, em Mato Grosso.

O Ministério da Agricultura, no entanto, acredita na agilidade do processo.

"É um ato jurídico complexo. (...) Mas antes do final do mês o pessoal já deve estar pulverizando em Mato Grosso", projetou Cavalcanti.

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