Milhares de pessoas fazem fila para se despedir do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, no lado de fora do Union Buildings, em Pretória, na África do Sul (Kevin Coombs/Reuters)
Da Redação
Publicado em 11 de dezembro de 2013 às 16h48.
Petrória - Milhares de pessoas fizeram fila nesta quarta-feira para se despedir de Nelson Mandela, cujo corpo estava exposto para visitação pública em Pretória, no edifício onde o herói antiapartheid tomou posse em 1994 como primeiro presidente negro da África do Sul.
Várias pessoas desmaiaram no calor sufocante enquanto esperavam sua vez de passar diante do caixão de Mandela, depois que os parentes dele, dignitários estrangeiros e celebridades prestaram homenagem no imponente Union Buildings, no alto de uma colina com vista para a cidade.
À tarde, o calor do verão e a falta de acesso a água e banheiros levaram várias pessoas a desmaiar e os ânimos a se exaltar, enquanto as pessoas que lamentavam a morte dele esperavam na fila para sua última chance de ver o homem que consideram ser o pai da África do Sul democrática.
"Há uma multidão de cinco mil pessoas aqui. Não há nenhum banheiro, nenhuma água, não há nada para o povo. As pessoas estão ficando irritadas e frustradas", disse Ronelle Johnson-Hoskins, que estava na fila desde a manhã.
As pessoas na multidão, algumas levando filhos pequenos às costas, também eram mandadas embora se não portassem um documento de identidade, disse Ronelle, algo que elas não sabiam que era necessário.
O governo disse em um comunicado que documentos de identidade não eram necessários, e que o tempo-limite para quem queria ver o corpo de Mandela havia sido alcançado por volta de 15h30, o que significa que muitas centenas na fila iriam provavelmente ter de ir embora.
Qualquer percepção de que o governo conduziu mal a logística da visitação ao corpo de Mandela pode enfurecer ainda mais os sul-africanos, um dia depois de o presidente do país, Jacob Zuma, ter sido humilhado por vaias e zombaria na cerimônia em memória do líder antiapartheid, em Johanesburgo.
O governo também está sendo criticado por usar um falso intérprete da linguagem de sinais no memorial, que fez gestos desarticulados, os quais indignaram surdos de todo o mundo.
Um porta-voz disse que o governo estava investigando o caso.
Última Chance
A morte de Mandela na semana passada, aos 95 anos, provocou uma onda de pesar e tristeza no país que ele comandou como presidente de 1994 a 1999, bem como celebrações e cerimônias de agradecimento por sua vida e conquistas.
Mais cedo, milhares de pessoas se amontoaram nas ruas enquanto o carro funerário preto carregando o caixão de Mandela abria caminho do principal hospital militar da capital para o edifício do governo. O caixão envolto na bandeira foi recebido por oficiais representando as várias armas das Forças Armadas.
"Este é um momento significativo para mim e meus filhos", disse a professora Thapelo Dlamini, de 48 anos, que estava havia duas horas esperando com os dois filhos para ver o cortejo passar.
Entre os primeiros a fazer fila para passar pelo caixão de Mandela estavam o cantor Bono, a modelo Naomi Campbell e o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe. F.W. de Klerk, o último presidente branco sul-africano que dividiu o Prêmio Nobel da Paz com Mandela, parecia enxugar uma lágrima quando o caixão passou.
Mandela será enterrado no domingo na vila rural de Qunu, onde passou parte da infância, na província do Cabo Oriental, 700 quilômetros ao sul de Johanesburgo.
A vila estava coberta por uma névoa espessa nesta quarta-feira, e a forte chuva havia deixado as estradas em lama, dificultando o acesso de veículos.
Mas enquanto o tempo poderia causar dores de cabeça para os organizadores do enterro de Mandela, muitos sul-africanos estavam sorrindo. A tradição diz que a chuva pesada é uma bênção, um sinal de um líder estimado sendo recebido por seus antepassados na vida após a morte.