Vacinação de professores em Tembisa, África do Sul: OMS negocia contrato com possíveis parceiros locais para desenvolvimento da tecnologia no país (Sharon Seretlo/Gallo Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 25 de junho de 2021 às 19h06.
Uma instalação na Cidade do Cabo, na África do Sul, poderia produzir as primeiras vacinas contra a Covid-19 da África de RNA mensageiro, num prazo de 15 meses a partir da assinatura de um acordo de transferência de tecnologia.
A Organização Mundial da Saúde anunciou esta semana que estabelecerá seu primeiro centro de transferência de tecnologia de mRNA na cidade sob um acordo com a Afrigen Biologics & Vaccines e o Instituto Biovac.
O órgão global de saúde está em negociações com possíveis parceiros que trabalhariam com empresas sul-africanas para produzir os imunizantes e combater a pandemia de Covid-19 no continente menos vacinado do mundo.
Embora haja conversas com grandes empresas que já possuem vacinas de mRNA contra a Covid-19, a maioria das negociações ocorre com empresas menores que ainda estão testando os imunizantes, disse Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS. A Pfizer, sua parceira BioNTech e a Moderna são as empresas com vacinas de mRNA aprovadas globalmente.
“A meta que nos foi dada, que é bastante ambiciosa, é de 12 meses para colocar a primeira candidata em ensaios clínicos a partir do dia da assinatura da transferência de tecnologia”, e esses testes podem levar cerca de três meses, disse Petro Terblanche, diretora-gerente da Afrigen, em entrevista na sexta-feira. “Isso só será possível se o parceiro de tecnologia for um dos grandes ‘gorilas’” e vai demorar um pouco mais se for uma pequena empresa, afirmou.
A iniciativa da OMS é uma tentativa de aumentar a fabricação de vacinas na África em meio ao acúmulo de imunizantes contra a Covid-19 por países ricos. Com poucas vacinas, o continente enfrenta uma terceira onda da doença.
Embora EUA e Reino Unido tenham vacinado totalmente mais de 45% da população, pouco mais de 1% dos 1,2 bilhão de pessoas da África receberam duas doses de vacinas contra a Covid-19. “Não há igualdade de vacinas”, disse Terblanche. “Não há vacinas.”
Assim que um acordo de transferência de tecnologia for assinado, a Afrigen aperfeiçoará o processo e garantirá que as vacinas produzidas em seu laboratório sejam de qualidade aceitável. Esse processo será então transferido para o Biovac, que produzirá as dosagens em escala comercial. Outros parceiros podem ser treinados posteriormente para fabricar os imunizantes em outras partes da África.
Idealmente, a Afrigen gostaria de trabalhar com um dos produtores de vacinas de mRNA existentes, bem como com uma empresa de menor porte cujos imunizantes podem ser mantidos entre 2 e 8 graus Celsius, tornando-os mais adequados para distribuição na África. Embora trabalhar com a Pfizer ou a Moderna pudesse acelerar a produção, suas vacinas devem ser mantidas em temperaturas ultrabaixas.
A Afrigen opera o único laboratório na África que pode produzir adjuvantes, uma substância usada para reforçar a reação da resposta imunológica à presença de um antígeno, como um vírus.
A empresa foi fundada em 2014 como um projeto entre a Industrial Development Corp. (IDC), do governo da África do Sul, e o Instituto de Pesquisas de Doenças Infecciosas (IDRI na sigla em inglês) dos EUA com o objetivo de fabricar uma vacina contra a tuberculose na África.
A empresa entrou em operação em 2016 e, desde então, o IDRI vendeu sua participação para a Avacare Health Group. A Avacare agora detém 51% da companhia, enquanto a IDC possui 49%. A Avacare opera em 20 países africanos, bem como em várias outras nações.
“A Afrigen tem infraestrutura que pode acelerar este projeto”, disse Terblanche, quando perguntada por que a empresa foi selecionada pela OMS. “Temos um grupo de cientistas que entende de transferência de tecnologia.”
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