Mundo

Afegãos desafiam talibãs e votam para eleger presidente

Mais de sete milhões de afegãos podem ter participado da votação, das cerca de 13,5 milhões que estavam habilitadas a votar

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 5 de abril de 2014 às 21h29.

Cabul/Kandahar - De Cabul a Kandahar, os afegãos compareceram em massa às urnas neste sábado sem maiores incidentes para eleger o sucessor do presidente Hamid Karzai a poucos meses da retirada da Otan e em meio a ameaças dos talibãs.

Esta primeira transferência de poder de um presidente afegão eleito democraticamente para outro é considerada uma prova decisiva para um país que deverá demonstrar sua estabilidade quando as forças da coalizão abandonarem o país, no fim do ano.

Depois do fechamento de todos os cerca de 6.000 centros de votação de todo o país, a Comissão Eleitoral Independente (CEI), encarregada de organizar e supervisionar as eleições, indicou que a taxa de participação pode superar os 50%.

Mais de sete milhões de afegãos podem ter participado da votação, dos cerca de 13,5 milhões que estavam habilitadas a votar, declarou em uma coletiva de imprensa em Cabul o chefe da CIE, Ahmad Yusuf Nuristani.

Em um comunicado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, saudou os eleitores afegãos "em nome do povo americano" e afirmou que é "essencial para garantir o futuro democrático do Afeganistão".

A eleição "promete iniciar a primeira transferência democrática de poder na história do Afeganistão" e "representa outro importante marco para que os afegãos assumam total responsabilidade por seu país", declarou.

Karzai se negou a assinar um acordo de segurança que permitiria aos Estados Unidos manter cerca de 10.000 soldados no Afeganistão para o treinamento das forças locais e o combate à Al-Qaeda.

Os afegãos assumiram a responsabilidade pela segurança e até o fim deste ano os últimos 51.000 homens das forças da Otan vão deixar o país.

Obama, que mantém relações tensas com Karzai, manifestou seu desejo de "dar prosseguimento à parceria com o novo governo escolhido pelo povo afegão, com base no respeito mútuo".

"Os Estados Unidos continuam a apoiar a soberania, a estabilidade, a união e o Afeganistão democrático", acrescentou.

Os resultados preliminares deste primeiro turno serão divulgados no dia 24 de abril e um eventual segundo turno está previsto para o dia 28 de maio.

Em Cabul e em outras grandes cidades do país, como Jalalabad (leste), Kandahar (sul) e Herat (oeste), os afegãos compareceram em massa às urnas.

"A participação foi forte, felizmente. Isto é incrivelmente importante", afirmou Ziaulhaq Amarkhil, um funcionário do CEI.

A taxa de comparecimento às urnas apresentado é positivo, dadas as condições no país. Os insurgentes talibãs prometeram perturbar a eleição de todas as formas.

Nas eleições de 2009, o índice foi de apenas 30%.


Nas primeiras horas de votação, uma explosão matou uma pessoa e feriu outras duas em um colégio eleitoral na província de Logar, ao sul de Cabul, informou o chefe desse distrito, Abdul Hameed Hamid Mohamad Agha.

Em 2009, os talibãs cometeram vários ataques durante a manhã, obrigando a população a ficar em casa.

Oito candidatos disputam a sucessão de Karzai, o único presidente que este violento país de 28 milhões de habitantes já teve desde a queda do regime talibã em 2001, e que é impedido pela Constituição de concorrer a um terceiro mandato.

Três de seus antigos ministros são os que têm mais chances de sucedê-lo: Zalmai Rasul, considerado o candidato do presidente atual, Ashraf Ghani, um famoso economista, e Abdullah Abdullah, opositor que chegou na segunda posição nas presidenciais de 2009. Todos votaram pela manhã em Cabul.

Ameaça talibã

Devido às ameaças dos talibãs, centenas de milhares de policiais e soldados afegãos foram mobilizados em todo o país, principalmente em Cabul, mantida sob extrema vigilância neste sábado.

Os talibãs, que travam uma violenta guerra desde sua expulsão do poder em 2001 por uma coalizão militar liderada pelos Estados Unidos, efetuaram uma série de ataques sangrentos durante a campanha eleitoral.

Embora não tenham conseguido comprometer fortemente o processo e os candidatos tenham conseguido organizar grandes comícios em todo o país, alguns de seus ataques tiveram enorme repercussão.

Foi o caso do atentado contra o hotel Serena, o mais luxuoso de Cabul, que deixou nove mortos, entre eles quatro estrangeiros, incluindo o correspondente afegão da Agência France-Presse (AFP) Sardar Ahmad, sua esposa e dois filhos.

Além disso, a violência também custou a vida de dois jornalistas estrangeiros: o anglo-sueco Nils Horner, assassinado em uma rua de Cabul no dia 11 de março, e a fotógrafa alemã da agência americana Associated Press (AP) Anja Niedringhaus, morta na sexta-feira no leste do país.

Além da insegurança, a fraude e a abstenção são as grandes ameaças destas eleições, como já foi o caso em 2009.

Após os últimos ataques, várias missões de observação eleitoral estrangeiras decidiram abandonar o país, complicando a prevenção de fraudes.

As autoridades eleitorais afegãs garantem que mais de 300.000 observadores afegãos - independentes e representantes dos candidatos - monitoram a votação. Além disso, foram introduzidos novos dispositivos antifraude, como a tinta indelével aplicada no polegar dos eleitores.

Mas é "difícil imaginar uma eleição sem fraude", considerava em um recente relatório Martine Van Bijlert, uma especialista da Rede de Analistas sobre o Afeganistão, com sede em Cabul.

Acompanhe tudo sobre:AfeganistãoÁsiaEleiçõesIslamismoTalibã

Mais de Mundo

Em fórum com Trump, Milei defende nova aliança política, comercial e militar com EUA

À espera de Trump, um G20 dividido busca o diálogo no Rio de Janeiro

Milei chama vitória de Trump de 'maior retorno' da história

RFK Jr promete reformular FDA e sinaliza confronto com a indústria farmacêutica