Barack Obama: presidente americano enviou uma carta na qual enfatizou a intenção dos EUA de respeitar a lei afegã e os lares dos civis desse país (REUTERS/Kevin Lamarque)
Da Redação
Publicado em 21 de novembro de 2013 às 15h07.
Fawad Waziri Cabul - A Loya Jirga (espécie de conselho de autoridades) do Afeganistão começou nesta quinta-feira a debater o acordo de segurança entre Cabul e Washington para depois da saída das tropas da Otan em 2014, que poderia permitir a continuidade de até 15 mil soldados americanos em solo afegão.
O anúncio foi feito pelo presidente, Hamid Karzai, diante da tradicional assembleia afegã, que reunirá até domingo ou segunda-feira em Cabul 2.500 chefes tribais, acadêmicos e autoridades locais.
"Entre dez e 15 mil soldados permanecerão no Afeganistão após 2014 se for firmado o Acordo Bilateral de Segurança (BSA)", disse o presidente em seu discurso inaugural.
"A presença das tropas estrangeiras não seria permanente, só por dez anos (entre 2015 e 2024)", ressaltou Karzai, o único presidente que o Afeganistão teve desde a invasão americana, no fim de 2001, e que deixará o cargo ano que vem.
Karzai argumentou que, "em longo prazo, cortar as relações com a Otan seria um erro", mas defendeu que se os Estados Unidos querem selar o BSA deverão "garantir a paz no Afeganistão" e "acabar com as operações nas famílias afegãs".
"Se não houver presença dos EUA, também não haverá de Alemanha, França, Reino Unido e inclusive de países islâmicos", disse o líder afegão, em alusão ao temor de que a presença dessas potências poderia provocar a expectativa de uma deterioração drástica da segurança.
Um dos principais pontos de atrito entre a comunidade internacional e Cabul durante estes anos foram os repetidos casos de morte de civis em operações aliadas.
Horas antes de Karzai comparecer ao Loya Jirga, o presidente americano, Barack Obama, enviou a ele uma carta na qual enfatizou a intenção dos EUA de respeitar a lei afegã e os lares dos civis desse país.
"As tropas dos EUA não deveriam entrar nas casas dos afegãos com fins militares, salvo circunstâncias extraordinárias como de risco para a vida ou destino de cidadãos americanos", dizia a carta de Obama.
O presidente americano ressaltou o desejo de assinar "em breve" o BSA, cuja negociação começou a um ano, depois da assinatura de um pacto estratégico mais amplo entre as partes.
Em sua carta, Obama lembrou que os EUA cooperarão com Cabul em "treinamento, assessoria e assistência" às forças afegãs e em "uma missão antiterrorista mais reduzida e delimitada, enquanto se continua fortalecendo a capacidade antiterrorista" do Afeganistão.
Karzai reforçou hoje que quer "um exército forte" que "possa defender o território" do país, e cobrou que Washington forneça armamento mais sofisticado para este fim. "Peço aos EUA tanques e eles nos dão caminhonetes, que na realidade posso conseguir através do Japão", disse.
Karzai também explicou que a maior parte de países da região, salvo Irã, estão a favor do acordo de segurança, e lançou um de seus frequentes dardos aos serviços secretos do Paquistão (ISI), a quem acusa de apoiar a facções insurgentes afegãs.
A Loya Jirga realizará amanhã, sexta-feira, e no sábado, análises detalhadas da minuta do BSA, para que no domingo ou na segunda-feira, se houver muita divergência, tomar em conjunto uma decisão final.
O analista afegão Ahmad Sayidi opinou a Agência Efe que o acordo de segurança é "uma boa oportunidade" e que seus principais "benefícios "serão evitar uma maior interferência do Irã e do Paquistão no Afeganistão e de que "haja uma guerra civil no país".
Este último cenário é lugar comum nas previsões dos observadores, que no meio da última fase da retirada das tropas aliadas não veem no exército e na polícia afegã capacitados para combater as fortes tensões da insurgência talibã.