Bandeiras do Irã: muitos iranianos acordaram na segunda-feira com a esperança de que as negociações tinham chegado ao fim (Morteza Nikoubazl/Reuters)
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2014 às 05h30.
Teerã - A decepção se instalou em Teerã ontem quando foi divulgada a notícia que o Irã e o Grupo 5+1 terão mais seis meses de prazo para chegar a um acordo sobre as negociações nucleares.
Muitos iranianos esperavam que o acordo fosse finalmente selado, com a esperança que as duríssimas sanções internacionais que asfixiam a economia do país fossem retiradas.
"Estou muito, muito preocupada porque esperávamos que dessa vez chegassem a um acordo, mas vai levar mais tempo. Do fundo do meu coração, de verdade, desejo que nestes próximos meses cheguem a um pacto. A verdade é que o povo aqui está destruído e muito deprimido", declarou à Agência Efe Adefé, uma mulher de 45 anos, funcionária de um escritório, que preferiu não revelar o sobrenome.
Muitos iranianos acordaram na segunda-feira com a esperança de receber a notícia que as negociações tinham chegado ao fim e que o chefe iraniano das negociações, o ministro das Relações Exteriores Mohamad Yavad Zarif, teria conseguido que o G5+1 (EUA, Rússia, China, Alemanha, França e Reino Unido) concordasse com a retirada das sanções que levaram o país ao completo isolamento internacional.
As sanções impostas ao Irã nos últimos anos por causa do polêmico programa nuclear estão entre os principais causadores de uma inflação elevada, que chegou a 40% em 2013, uma crescente taxa desemprego, a queda das exportações, a crise do setor privado e uma desvalorização do rial iraniano de aproximadamente 70%.
"É lamentável que o governo anterior (do presidente Mahmoud Ahmadinejad) tenha levado as coisas a esse ponto", disse o jovem médico Hamid Reza, que lamentou a falta de consenso da reunião realizada em Viena, mas que apostou no otimismo e disse que "o fato de as negociações não terem sido quebradas, e sim prolongadas por seis meses, nos dá esperança".
"Agora que vejo que realmente querem continuar debatendo, acho que finalmente chegarão a um acordo", acrescentou Reza.
Apesar do otimismo por parte de alguns, o novo adiamento nas negociações não deu a mesma sensação positiva em todos os cidadãos iranianos.
"Não é um bom sinal. Já chegamos a um ponto de desespero total. Não é o regime, é o povo do Irã que se vê prejudicado", declarou à Efe um homem de meia-idade no norte de Teerã, que pediu para ser identificado apenas como Ali.
A promessa de iniciar uma aproximação com o restante do mundo, conseguir a retirada das sanções internacionais, melhorar a situação econômica e ter maior liberdade social foram os principais fatores que levaram os iranianos a votar no último mês de junho no presidente Hassan Rohani.
Quase um ano e meio depois de tomar posse, Rohani parece não ter avançado muito em nenhum desses temas.
"Fomos enganados, não mudou absolutamente nada", disse Mohammed, um iraniano de classe humilde, funcionário de limpeza, que já se nega a acreditar que algum dia a situação econômica possa melhorar.
Apesar de alguns culparem o governo iraniano por não ter chegado a um acordo, outros direcionam a raiva para os outros países que participam da negociação.
"Para mim, tudo isso não passa de um jogo. O problema da comunidade internacional é o regime do Irã. Já se sabia que as negociações não dariam resultado ou, se dessem, que eles encontrariam outra desculpa para as sanções", afirmou Ehsan Hoseini, chefe de um escritório de telefonia celular.
No entanto, a decisão de continuar as negociações não deverá ser criticada pelos setores mais radicais, que nas últimas semanas pediram para o governo não ceder, se manter firme e não permitir um retrocesso nos direitos do país nem nos avanços do programa nuclear iraniano.