Belfast, capital da Irlanda do Norte: mural é homenagem às vítimas de um ataque em um pub em 1971 que deixou 15 mortos e feriu 17 pessoas (Charles McQuillan / Stringer/Getty Images)
Gabriela Ruic
Publicado em 13 de junho de 2017 às 11h32.
Última atualização em 13 de junho de 2017 às 11h38.
São Paulo – Dias depois de uma derrota vergonhosa nas eleições gerais, convocadas antecipadamente como estratégia para se fortalecer ante o Brexit, a primeira-ministra britânica, Theresa May, bolou um plano duvidoso: fazer um acordo com o Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte (DUP) para assegurar a sua permanência no posto.
Pequeno (ocupa, agora, 10 cadeiras no parlamento), conservador, protestante e eurocético, o DUP se tornou o colete salva-vidas de May, que se reuniu com sua líder Arlene Foster nesta terça-feira na tentativa garantir o apoio. Após o fim do encontro, nenhuma delas atendeu a imprensa, que aguardava do lado de fora de Downing Street, a residência oficial da premiê.
Momentos depois, no entanto, comunicados breves foram divulgados pelas partes. Segundo Foster, que se manifestou no Twitter, a conversa foi “boa”. “Esperamos poder trazer esse trabalho a uma conclusão bem-sucedida”, disse ela na rede social. Já de acordo com o gabinete de May, o encontro foi “construtivo”.
Discussions are going well with the government and we hope soon to be able to bring this work to a successful conclusion.
— Arlene Foster DBE PC #ProudofNI. (@ArleneFosterUK) June 13, 2017
Contudo, na visão de John Major, ex-primeiro ministro britânico e colega de partido de May, um acordo com o DUP pode reacender a tensão na Irlanda do Norte. O país, explicou o político em entrevista à BBC, vive um processo de paz “frágil”, que pode desmoronar caso o posicionamento de Londres frente à questão deixe de ser visto como “imparcial”.
“As pessoas não deveriam contar com ele (o acordo) como garantido. Não é, está sob pressão e é frágil”, disse Major sobre a paz na Irlanda do Norte. O país viveu décadas de um conflito violento e complexo, que envolvia fatores políticos, religiosos e econômicos. As turbulências chegaram em 1998, após tratativa firmada entre católicos e protestantes. Hoje, a relação entre esses grupos é mediada com cautela pelo governo do Reino Unido e Irlanda.
“Isso me preocupa profundamente”, disse o ex-político sobre um possível acordo. Major ocupou o mesmo cargo de May entre 1990 e 1997 e foi um dos principais arquitetos dessa negociação de paz. “Entendo que ela (May) queira se fortalecer ante o parlamento, mas uma parte fundamental do acordo é a imparcialidade do governo britânico”, alertou.
A fala de Major repercutiu. No Twitter, Alastair Campbell, que fez parte do gabinete do também ex-premiê Tony Blair (que liderou o Reino Unido entre 1997 e 2007), parabenizou o político veterano por suas declarações. “O acordo de May com o DUP é errado em seus princípios e perigoso para o processo de paz”, considerou Campbell.
Very glad that John Major has spoken out about this deal May is doing with the DUP. wrong in principle and dangerous to the peace process
— ALASTAIR CAMPBELL (@campbellclaret) June 13, 2017