Bandeira da Argentina: o atentado, iniciado em 18 de julho de 1994, destruiu o edifício de sete plantas da AMIA, no bairro Once da capital argentina. (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 28 de fevereiro de 2013 às 17h01.
Deputados argentinos converteram em lei, nesta quinta-feira, um acordo com o Irã proposto pelo governo da Argentina para interrogar dirigentes iranianos acusados pelo atentado contra o centro judaico Amia, em Buenos Aires.
O ataque, realizado em 1994, matou 85 pessoas e deixou 300 feridos.
A base governista conseguiu 131 votos, enquanto a oposição - com o apoio de entidades judaicas, que rechaçam o acordo - somou 113 votos.
Buenos Aires e Teerã assinaram no último 27 de janeiro um memorando para criar uma "comissão da verdade" independente, integrada por cinco membros, nenhum deles iranianos ou argentinos.
O acordo bilateral estabelece a possibilidade de que os cinco juristas e o juiz argentino responsável pela causa possam recolher depoimentos em Teerã de oito acusados, entre eles o atual ministro da Defesa, Ahmad Vahidi e o ex-presidente Akbar Hachemi Rafsandjani.
A oposição afirma, contudo, que o memorando dá brechas aos iranianos.
Após a sanção da lei, o presidente da AMIA, Guillermo Borger, anunciou que a entidade pedirá a anulação do acordo perante a Suprema Corte.
"Apresentaremos o pedido de anulação de toda esta proposta de acordo e a criação da comissão da verdade na Corte Suprema", afirmou Borger.
A justiça argentina acusa Teerã de estar envolvida no atentado que explodiu o imóvel de sete andares onde ficava a AMIA em Buenos Aires.
Durante o debate no Congresso, centenas de membros da comunidade judaico-argentina, com cerca de 300.000 membros, a maior da América Latina, protestaram em frente ao prédio, carregando cartazes com os dizeres "Não".
"Que tipo de cooperação podemos ter com este país? A bomba foi debatida pelo governo do Irã, que ordenou explodi-la", questionou o chefe da oposição no Congresso, deputado Ricardo Gil Lavedra.
Os Estados Unidos disseram ser impossível que se alcance uma solução justa, e Israel se manifestou por achar imprópria uma negociação com o Irã.
"É melhor interrogar do que não poder interrogar ninguém. Sem indagações a causa não avança", defendeu o acordo o chanceler Héctor Timerman em audiência prévia das comissões legislativas.
A investigação do ataque parou em 2006, quando a justiça argentina acusou oito autoridades e líderes iranianos, entre eles o ex-chanceler Ali Akbar Velayati.
Sobre todos eles pesa uma ordem de captura da Interpol com um alerta vermelho que Teerã se nega a reconhecer.
"O acordo não pode ser acompanhado. Reconhecemos a iniciativa de tentar esclarecer os fatos, mas as dúvidas continuam no ar", criticou o presidente da Delegação de Associações Israelitas Argentinas (DAIA), Julio Schlosser, líder político da comunidade.
O atentado, iniciado em 18 de julho de 1994, destruiu o edifício de sete plantas da AMIA, no bairro Once da capital argentina.
Dois anos antes a embaixada de Israel em Buenos Aires havia sofrido outro atentado, que deixou 29 mortos e 200 feridos.
O presidente da AMIA lamentou que "se engula um tratado com o estado teocrático do Irã e se esqueça dos 85 mortos".
Em troca, a dirigente da organização de familiares de vítimas Memória Ativa, Diana Malamud, disse que "não se esperam grandes resultados, mas é possível avançar ainda que sejam pequenos passos".
Laura Ginsberg, líder de outra organização, APEMIA, afirmou que "a comissão não vai trazer a verdade que temos buscado há 19 anos" e questionou a investigação argentina.
"Tudo o que o investigador (Alberto) Nisman fez foram inferências. Não sabemos se foram iranianos, sírios, libaneses. Temos que esclarecer a conexão local do atentado e abrir os arquivos secretos da inteligência argentina", disse Ginsberg.