Paul Manafort: desde 2017, quando as investigações ganharam força, ex-chefe de campanha de Trump resistia a cooperar, mesmo colecionando dezenas de acusações (Jonathan Ernst/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de setembro de 2018 às 10h02.
Última atualização em 15 de setembro de 2018 às 10h07.
Washington - O acordo de colaboração de Paul Manafort, ex-chefe de campanha de Donald Trump, dá força a uma das frentes de investigação que preocupam a Casa Branca e joga um balde de água fria no governo do republicano. Apesar de, segundo analistas, ainda não ser possível saber o tamanho do dano desse pacto à imagem de Trump, a colaboração de Manafort marca uma reviravolta nas investigações conduzidas pelo procurador especial Robert Mueller.
Desde 2017, quando as investigações ganharam força, Manafort resistia a cooperar com as autoridades, mesmo colecionando dezenas de acusações criminais. Por isso, chegou a ser considerado "um bravo" por Trump.
A cooperação do ex-chefe de campanha foi considerada por parlamentares democratas como uma "vitória" de Mueller. Mesmo assim, para analistas, mesmo que Manafort detalhe um elo da campanha com os russos, seria difícil provar o quanto Trump sabia sobre essa relação.
"Ainda não sabemos exatamente como Manafort irá cooperar. Se ele vai cooperar para reduzir sua sentença, precisará provavelmente falar sobre o trabalho na campanha", avalia Melvyn Levistky, professor da Universidade de Michigan. Segundo ele, a notícia é ruim para o presidente, pois os desdobramentos da história ficam em aberto.
Os aliados de Trump e seu advogado afirmam que a cooperação não tem relação com a campanha de 2016. "Se ele tem informações comprometedoras sobre Trump, por que não as ofereceu desde o início aos investigadores?", questiona Gary Nordlinger, professor do departamento de gestão política da George Washington University. Ele avalia que a colaboração pode trazer problemas a um dos filhos do presidente, Donald Trump Jr.
Cada vez que as investigações sobre ex-assessores de Trump ganham força, as eleições de meio de mandato chamam mais atenção da imprensa americana. Em 6 de novembro, os americanos votarão para as chamadas "midterms", que podem renovar a Câmara e parte do Senado. A previsão entre analistas e pesquisas de intenção de voto é que os democratas voltem a formar maioria na Câmara, hoje comandada pelos republicanos, que no entanto devem seguir com a maioria no Senado.
"O presidente tem sido bastante hábil em se livrar disso (investigações), o apoio que ele tem não irá mudar, mas os independentes ou republicanos moderados podem ver com maus olhos isso na hora de votar. Aumenta a chance de os democratas recuperarem a Câmara", avalia Levitsky. Pesquisa realizada no fim de agosto e divulgada por Washington Post-ABC News mostra que 53% dos entrevistados disseram acreditar que Trump tentou interferir na investigação de Mueller, enquanto 35% acreditam que não houve tentativa de interferência. A ingerência do presidente nas investigações pode caracterizar crime de obstrução de justiça.
O comando das casas no Congresso é importante para a sobrevivência de Trump, já que um pedido de impeachment precisaria passar primeiro na Câmara e depois no Senado. Uma maioria democrata na Câmara jogaria pressão na Casa Branca, especialmente porque os parlamentares do partido ficarão no comando de comissões responsáveis por investigações e é esperado que usem isso para divulgar documentos que comprometam o presidente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.