Abubakar Shekau (c): ação do Boko Haram e ameaças de líder causaram indignação pelo mundo (YouTube/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de maio de 2014 às 19h20.
O sequestro de mais de 200 estudantes pelo grupo islâmico radical Boko Haram tem um protagonista: seu líder, Abubakar Muhamad Shekau, tão extremista e violento que até alguns antigos aliados se distanciaram dele.
"Gosto de matar quem Deus me pedir para matar, da mesma forma que gosto de matar galinhas e ovelhas", declarou em 2012, em um de seus primeiros vídeos, o líder do grupo que reivindicou o sequestro de mais de 200 alunas de uma escola em Chibok, norte de Nigéria, no dia 14 de abril.
De acordo com o Departamento americano de Justiça, Shekau pode ter nascido em 1965, 1969 ou 1975, em um povoado de agricultores e de criadores de gado localizado perto da fronteira com o Níger, no estado de Yobe (nordeste). Ele estudou Teologia com religiosos locais em Maiduguri, capital do Estado vizinho de Borno.
Foi nessa época que ele conheceu o pregador Mohamed Yusuf, fundador do Boko Haram, há mais de 10 anos.
Shekau decidiu então entrar para o movimento criado por Yusuf.
Com sua denúncia aos valores ocidentais instaurados pelos colonos britânicos - que, para ele, são os responsáveis pelos males que assolam a Nigéria, como a corrupção endêmica e a imensa pobreza da maior parte da população - o grupo ganhou muitos adeptos em meio aos jovens desempregados de Maiduguri.
Boko Haram, que significa a "educação ocidental é um pecado", é um nome rejeitado pelo grupo, que prefere Jama'tu Ahlis Sunna Lidda'awati wal-Jihad, "o povo comprometido com a propagação dos ensinamentos do profeta Maomé e a jihad".
Cada vez mais impiedoso
No mais mais recente vídeo de Shekau, divulgado nesta semana, ele aparece exaltado, reivindicando o sequestro das adolescentes de Chibok e prometendo tratá-las como "escravas" para depois "vendê-las". A ação do Boko Haram e as ameaças de seu líder causaram indignação em todo o mundo.
Para os nigerianos, este novo vídeo reflete a personalidade do chefe islamita, a quem são atribuídos vários ataques desde que passou a ocupar o lugar de Mohamed Yusuf à frente do grupo, após a sua execução pela polícia nigeriana em 2009.
"Com Shekau no comando, o Boko Haram se tornou muito mais impiedoso, violento e destrutivo", diz o International Crisis Group (ICG) em recente relatório.
Até mesmo a Ansaru, uma facção do grupo islâmico que reivindicou sequestros de estrangeiros e divulgou vídeos de execuções na internet, decidiu "se distanciar do Boko Haram porque desaprova os massacres às cegas e a falta de tato de Shekau", analisa o ICG.
Na época de Mohamed Yusuf, o Boko Haram já era violento, focado na aplicação da sharia - a lei islâmica - no norte da Nigéria, de maioria muçulmana.
Segundo especialistas, com a chegada de Shekau à liderança, os ataques contra civis, cristãos e muçulmanos distanciaram as práticas do grupo daquilo que Yusuf pregava, a luta contra um regime nigeriano corrupto.
João Paulo II e Margaret Thatcher
Antes da morte de Yusuf, Shekau o acusava de "ser moderado demais", de acordo com o ICG.
Com o atentado contra a sede das Nações Unidas em Abuja, que deixou 23 mortos em agosto de 2011, o Boko Haram atingiu uma nova fase, que suscitou temores de uma incorporação do grupo a um movimento jihadista internacional.
Alguns acreditam que lideranças do Boko Haram foram treinadas na Argélia e na Somália, mas os vínculos estabelecidos pelo grupo no exterior não puderam ser confirmados por especialistas.
Desde 2011, os islamitas passaram a ter como alvos igrejas, mesquitas e prédios do governo, assim como escolas, universidades e alojamentos de estudantes, cometendo massacres.
Considerado um "terrorista em escala mundial" pelos Estados Unidos, que oferece por ele sete milhões de dólares, Shekau já foi dado como morto duas vezes pelas forças de segurança nigerianas, antes de reaparecer em vídeos.
Em suas declarações filmadas, um Shekau vociferante e agitado ameaça alvos nigerianos e, muitas vezes, concretiza suas intimidações.
Em outras, ele parece totalmente desconectado da realidade, ameaçando líderes mundiais já mortos, como a antiga primeira-ministra britânica Margaret Tatcher ou o papa João Paulo II.