Centenas de ativistas pedem justiça por Trayvon Martin após marcha na Times Square, em Nova York (Adrees Latif/Reuters)
Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2013 às 23h52.
Washington - A absolvição de George Zimmerman, o ex-segurança de origem hispânica que matou o jovem negro Trayvon Martin no último ano, reabriu o debate sobre preconceitos raciais nos Estados Unidos e fez com que milhares de pessoas fossem às ruas para cobrar justiça pela morte do adolescente desarmado.
Associações e ativistas americanos foram às ruas hoje para exigir que o Departamento de Justiça apresente acusações federais contra Zimmerman - por violação dos direitos civis, por exemplo -, embora os especialistas tenham advertido que essa via não é tão simples quanto parece.
O secretário de Justiça, Eric Holder, qualificou hoje a morte de Martin como "trágica" e "desnecessária", confirmando que seu departamento já abriu uma investigação sobre a perspectiva dos direitos civis.
Zimmerman foi absolvido no último sábado porque o júri popular do tribunal do estado da Flórida aceitou a tese da defesa, a qual citava que o ex-segurança tinha atuado em legítima defesa.
A promotoria, no entanto, argumentou que Zimmerman pressupôs desde o princípio que o jovem afro-americano era suspeito e, por isso, teria provocado um confronto que acabaria com a vida do rapaz.
Como já havia o registro de outros roubos no bairro, o ex-segurança se deixou levar por seus preconceitos e acabou identificando Martin como um possível marginal, ainda que a polícia, por telefone, tinha indicado para não se aproximar do jovem.
Apesar dos fatos já terem sidos julgados, uma intervenção do Governo federal permitiria abrir uma via não penal contra Zimmerman, baseada na mesma lei sobre direitos civis que compensava às vítimas dos abusos cometidos no passado pelo Ku Klux Klan (KKK) no sul do país após a Guerra Civil.
"Somos conscientes da dor que a nação sente em relação a essa trágica e desnecessária morte em Sanford, na Flórida, no ano passado", afirmou Holder.
O procurador-geral assegurou que "o Departamento continuará atuando de maneira coerente com a lei" e "trabalhando para aliviar as tensões e atender as preocupações da comunidade".
Em entrevista à emissora "Foz News", o ex-promotor Alan Vinegrad declarou que o Departamento de Justiça não muito poder para apresentar acusações, já que, para isso, teria que provar que o ataque teve um motivo racial.
"Há vários obstáculos fáticos e jurídicos que os juízes federais teriam que superar: teriam que demonstrar não só que o ataque não estava justificado, mas também que o senhor Zimmerman atacou o senhor Martin por sua raça e porque estava usando uma instalação pública, a rua", ressaltou Vinegrad.
O Birô Federal de investigações (FBI) já iniciou a busca dessas provas no último ano, embora tenha interrompido suas investigações para não obstaculizar o processo estadual da corte da Flórida.
O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, assegurou hoje em sua entrevista coletiva diária que a decisão de intervir está nas mãos do Departamento de Justiça e que a possibilidade de levantar acusações federais contra Zimmerman "não é algo que o presidente (Barack Obama) possa decidir".
"Seria inadequado que um presidente opinasse sobre o que o Departamento de Justiça deva fazer", declarou o porta-voz. "Obama não tem nenhuma opinião que expressar sobre a disposição do Departamento de Justiça para tratar este caso", completou.
Na ocasião, Carney também se referiu às declarações feitas pelo presidente Obama no último domingo, nas quais pediu uma "reflexão acalmada" à cidadania e reiterou suas condolências pela morte do jovem Martin.
Em reação à absolvição de Zimmerman, manifestações e protestos foram realizados ao longo de todo o fim de semana nos EUA, um fato que resultou em dezenas de detenções tanto em Los Angeles (Califórnia) como Nova York.
A polícia de Los Angeles informou que deteve seis manifestantes entre a noite do domingo e a manhã desta segunda-feira. Algumas das pessoas que participavam dos protestos teriam lançado pedras e pilhas nos agentes de segurança, que dispararam balas de borracha em resposta, informou o jornal "Los Angeles Times".
Em Nova York, o protesto reuniu mais de mil pessoas na Times Square na noite do último domingo. Na ocasião, a polícia local anunciou a prisão de pelo menos 12 manifestantes. EFE