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Abertas as apostas para os próximos Mandelas

Ao sair da prisão, Mandela se transformou em um herói que transcendeu as divisões étnicas da África do Sul


	Protestos pela libertação de Liu Xiaobo: professor Christopher Hughes sugere Liu Xiaobo como aquele que melhor encarna figura contemporânea de Mandela
 (Wikimedia Commons)

Protestos pela libertação de Liu Xiaobo: professor Christopher Hughes sugere Liu Xiaobo como aquele que melhor encarna figura contemporânea de Mandela (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 23 de dezembro de 2013 às 18h46.

Não se sabe se algum dia haverá um outro Nelson Mandela, mas é inegável que dissidentes e movimentos de resistência se apropriaram do legado desse ícone da reconciliação, baseando-se em trajetórias políticas guiadas pela coragem e pelo sacrifício.

O professor Christopher Hughes, da London School of Economics, sugere o nome do Prêmio Nobel da Paz chinês Liu Xiaobo como aquele que melhor encarna a figura contemporânea de Mandela.

"Há semelhanças. Está detido, e é um prisioneiro de consciência", diz Hughes à AFP. "Mas Mandela representava, evidentemente, a maioria negra na África do Sul, enquanto que, no caso de Liu, é mais difícil dizer se representa uma maioria".

"Os críticos dizem que é um intelectual e que está desconectado da vida real do povo", completou.

A birmanesa Aung San Suu Kyi, que também passou muitos anos presa, ganhou o apelido de "Mandela da Ásia". Prêmio Nobel da Paz, assim como o falecido presidente, ela se sacrificou tanto quanto o herói sul-africano, ao ficar detida, enquanto seu marido morria de câncer na Inglaterra. "A dama de Yangun" recuperou a liberdade e, hoje, é deputada em um país com um horizonte político mais promissor, embora o Exército continue no poder.

Ao sair da prisão, Mandela se transformou em um herói que transcendeu as divisões étnicas da África do Sul, mas Suu Kyi é acusada de não fazer o suficiente pela minoria muçulmana rohingya.

Já os palestinos torcem para que o mundo considere Marwan Barghuti, há 11 anos preso, seu Mandela nacional. Condenado à prisão perpétua por Israel, por seu envolvimento em sangrentos ataques, Barghuti foi um dos líderes da Segunda Intifada (2000-2005). Da prisão, Barghuti escreveu uma carta, na qual lembrou as palavras de Mandela: "Nossa liberdade é incompleta sem a liberdade dos palestinos".


"Da minha cela, digo a vocês que nossa liberdade parece possível, porque vocês conseguiram a de vocês. O Apartheid não venceu na África do Sul e não vencerá na Palestina", acrescentou.

Para boa parte da comunidade internacional, porém, não é possível comparar o tratamento dispensado pelos israelenses aos palestinos com o que aconteceu à maioria negra sul-africana durante o regime do Apartheid, de segregação racial.

Além de Aung San Suu Kyi, há um outro hipotético Mandela asiático: o primeiro-ministro do Timor Leste independente, Xanana Gusmão. Ele passou sete anos em um presídio indonésio depois de fazer campanha pela independência de metade da ilha. Em 1997, recebeu a visitade Mandela, em segredo, a sua cela em Jacarta. Ao longo de sua trajetória, Gusmão sempre disse ter sido inspirado pelo exemplo sul-africano. Atualmente, seu governo é acusado de corrupção.

Já os curdos comparam o dirigente separatista Abdullah Ocalan a Mandela, descrevendo-o como um combatente da liberdade que foi preso e classificado de terrorista pelas autoridades turcas. Mandela recebia o apelido de "Tata", ou seja, "pai", algo parecido com Ocalan, conhecido no Curdistão como "Apo" (tio). Já os turcos se referem a ele como o "bebê assassino" pelos ataques cometidos por sua organização, o PKK, e criticam as qualidades "paternais" atribuídas a ele por seus simpatizantes.

A questão é que o caso de Mandela foi diferente. O Apartheid era uma mancha na consciência da Humanidade, muito mais do que um regime de repressão – o que contribuiu, sem dúvida, para tornar sua luta uma causa internacional. Por esse motivo, a comunidade internacional "aceitou e perdoou" o fato de Mandela ter recorrido à luta armada, com atos de sabotagem que provocaram a morte de civis.

Para os dissidentes e presos políticos do presente, não é tão simples assim, frisou Hughes.

De qualquer modo, apesar das diferenças, a mensagem de Mandela, "um homem disposto a sacrificar sua liberdade, talvez sua própria vida, por suas convicções políticas", continua sendo "um modelo extremamente forte que estimula dissidentes do mundo inteiro".

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