Israel: aviões israelenses atacaram alvos em Gaza em retaliação aos disparos de foguetes contra Israel na noite anterior (Ibraheem Abu Mustafa/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de setembro de 2019 às 10h22.
A uma semana das eleições, aviões israelenses atacaram nesta quarta-feira, 11, alvos na Faixa de Gaza em retaliação aos disparos de foguetes do território palestino contra Israel na noite anterior. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, realizava um comício na terça-feira quando as sirenes de alerta soaram e ele foi forçado pelos seguranças a deixar o palco e buscar abrigo.
As eleições em Israel ocorrem no dia 17. O Likud, partido de Netanyahu, está empatado nas pesquisas com a coalizão Azul e Branco, liderada pelo ex-comandante do Exército Benny Gantz. Ambos são candidatos de centro-direita, mas apenas Gantz é capaz de capitalizar algum apoio das forças de esquerda, que querem encerrar uma década de governo do Likud.
Por isso, nos últimos dias, Netanyahu tem se esforçado para atrair apoio dos partidos religiosos e da extrema direita. Na segunda-feira, o premiê disse que Israel havia descoberto um local secreto de desenvolvimento de armas nucleares do Irã, mas governo iraniano destruiu a instalação depois de saber que havia sido exposto.
Na terça-feira, Netanyahu prometeu anexar parte da Cisjordânia, medida popular entre os 400 mil colonos que vivem no território palestino ocupado pelos israelenses desde 1967. A promessa foi feita em Ashdod, no sul de Israel. No meio do discurso, os alertas foram acionados em Ashkelon, a 21 quilômetros de distância.
Apesar de o Exército ter confirmado que o sistema de defesa, conhecido como Domo de Ferro, interceptou o ataque, as imagens do primeiro-ministro sendo forçado a sair do palanque às pressas aumentaram as acusações de opositores de que ele não fez o suficiente para deter os frequentes ataques de foguetes contra o sul de Israel.
"Netanyahu está acabado e pode sair de cena", declarou Yair Lapid, número 2 na lista do partido Azul e Branco. Netanyahu respondeu: "O Hamas dispara foguetes contra o primeiro-ministro de Israel e Lapid e Gantz estão comemorando".
A retaliação aos lançamentos de foguetes foi rápida. "Aviões de combate atingiram 15 alvos terroristas ao norte e no centro da Faixa de Gaza, incluindo uma fábrica de armas, objetivos das forças militares navais e um túnel de ataque do Hamas", informou nesta quarta o Exército, em comunicado, citando a facção palestina que controla o território. "O Exército continuará considerando o Hamas responsável por tudo o que acontece em Gaza."
Desde 2008, Gaza foi cenário de três guerras entre Israel e Hamas. O último cessar-fogo, de 2014, é constantemente violado por ambos os lados. Em princípio, ninguém tem interesse em começar um novo conflito, mas analistas afirmam que o isolamento do território, em razão do bloqueio israelense e egípcio, a crise econômica local e a ausência de uma saída negociada, desestabilizam a região.
Nesta quarta, as críticas à promessa de anexar partes da Cisjordânia aumentaram a pressão sobre Netanyahu. A Arábia Saudita, que vinha se aproximando de Israel para tentar conter o Irã, falou de uma "escalada perigosa" e pediu uma reunião urgente dos chanceleres dos 57 membros da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI).
A União Europeia afirmou que a anexação "mina a perspectiva de uma paz sustentável" e a "expansão das colônias, incluindo as de Jerusalém Oriental, é ilegal pelas leis internacionais". Os europeus disseram ainda que não reconhecerão qualquer mudança na fronteira de Israel.
O presidente russo, Vladimir Putin, que deve se encontrar nesta quinta-feira com Netanyahu, afirmou na quarta que a "intenção do primeiro-ministro de anexar uma região estratégica da Cisjordânia pode provocar um forte aumento das tensões".
Até aliados conservadores criticaram a promessa de campanha. "Por que falar de anexação da Cisjordânia a uma semana das eleições quando o governo pode decidir a qualquer momento e aplicá-la hoje mesmo?", questionou o atual ministro dos Transportes, Betzalel Smotrich, da coalizão Yamina, que reúne partidos de direita.