Senador Sheldon Whitehouse conversa com Ron Klain, então chefe de gabinete de Joe Biden, no Capitólio, em Washington (Jonathan Ernst/Reuters)
Da Redação
Publicado em 5 de junho de 2015 às 12h20.
Muitas vezes ele fala sozinho diante das câmeras do plenário do Senado dos Estados Unidos. Há três anos, o senador democrata Sheldon Whitehouse implora para que seus colegas "acordem" para os perigos do aquecimento global, assunto completamente ignorado pela maioria republicana.
No mês passado, ele retomou mais uma vez o caminho do plenário para fazer seu centésimo discurso sobre o clima, uma odisseia verbal sem precedentes, mas que não tem tido muito sucesso - segundo o próprio Whitehouse.
A lei sobre a criação de licenças de emissão de CO2 foi aprovada pela Câmara dos Deputados no início do mandato de Barack Obama, mas permaneceu letra morta no Senado.
O Executivo norte-americano anunciou novas normas de emissões para usinas de energia, mas os republicanos no Congresso estão tentando invalidá-las, assim como o acordo bilateral anunciado em novembro com a China.
"É um pouco vergonhoso", lamentou Sheldon Whitehouse, em entrevista à AFP. "Nós nos vemos como um modelo de democracia, mas somos incapazes de enfrentar uma pergunta que o mundo vê cada vez mais como um problema e onde é necessária liderança".
Nas paredes de seu gabinete no Congresso, estão penduradas fotos dos penhascos de seu estado, o pequeno Rhode Island, no nordeste do país, segundo ele diretamente afetado pelo aquecimento global: há famílias cujas terras foram lentamente comidas pelo oceano e pescadores que não conseguem mais encontrar peixes, que fugiram das águas aquecidas da baía de Narragansett.
Lobby das energias fósseis
Semanalmente ou quase, quando o Senado está em sessão, Sheldon Whitehouse põe perto de uma mesa na Câmara o mesmo cartaz verde onde estão inscritas em letras maiúsculas: "É hora de acordar" ("Time to wake up", em inglês), seu slogan.
Ele lembra que 97% dos cientistas concluíram que a atividade humana acelera as mudanças climáticas e denuncia implacavelmente a atitude dos republicanos, "sonâmbulos" marchando em direção à catástrofe, intimidados pela poderosa indústria de combustíveis fósseis.
"A indústria é muito determinada e muito dura, lançou uma campanha de desinformação e tem um tráfico de influência política muito forte, agarrando-se para não desaparecer, tentando forçar o Partido Republicano a se tornar seu braço político", acusa Sheldon Whitehouse.
"Os membros do Congresso se fingem de avestruzes", enquanto gigantes como Coca-Cola e Walmart estão tentando reduzir suas emissões de carbono, disse.
A comparação é necessária, na visão do democrata, com as décadas de negações da indústria do tabaco sobre os riscos de câncer associados ao fumo.
Seu principal adversário preside o Comitê de Meio Ambiente do Senado: o republicano James Inhofe.
Para o representante do estado de Oklahoma, a responsabilidade do homem no aquecimento global é uma ilusão. Ele jogou uma bola de neve na Câmara em janeiro para provar que as temperaturas continuaram a cair durante o inverno.
A republicana Christine Todd Whitman, ex-diretora da Agência de Proteção Ambiental (EPA), estima que a passividade dos republicanos ditos "moderados" é parcialmente responsável pela demonização da questão climática. "Nós deixamos as vozes dos céticos ganharem crédito", lamenta.
Mas Sheldon Whitehouse espera que para a eleição presidencial de 2016, "nenhum candidato republicano poderá ser eleito se continuar a dizer: 'a mudança climática é uma farsa'", o discurso favorito dos republicanos que procuram evitar a questão.
Às vezes, os colegas do outro lado confessam a ele que apoiam sua cruzada - mas que não podem fazê-lo publicamente. "Nenhum senador quer ser o primeiro almirante a ser enforcado por ter ofendido a indústria de combustíveis fósseis", explica.