Protestos na Turquia contra a Holanda: manifestantes pró-Erdogan se reúnem em frente ao consulado holandês em Istambul (Chris McGrath/Getty Images)
Gabriela Ruic
Publicado em 13 de março de 2017 às 11h07.
Última atualização em 13 de março de 2017 às 12h20.
São Paulo – A relação entre a Turquia e países da União Europeia vem piorando a cada dia. Agora, o governo turco convocou o embaixador da Holanda em Ancara (Turquia) para prestar esclarecimentos depois que dois de seus ministros foram impedidos de participar de um comício na cidade de Roterdã (Holanda) e acusa a polícia local de ter agido com violência contra os manifestantes que participavam desse evento.
A situação é delicada e começou no final da semana passada, quando o avião ocupado pelo ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, foi impedido de pousar em solo holandês.
A visita ao país se dava justamente em razão dos comícios em Roterdã e que fazem parte da estratégia do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, de conseguir apoio para um referendo que acontece em abril e que promete mudar a estrutura do país.
A Holanda, por sua vez, justificou a ação por preocupação com a ordem pública. O país realiza eleições nesta semana e um dos temas principais em debate é a imigração muçulmana.
Mas não foi só isso que exaltou os ânimos do governo turco. Momentos depois da confusão com Cavusoglu, foi a vez de a ministra da Família da Turquia, Fatma Betul Sayan Kaya, que já estava em Roterdã, ser conduzida pela polícia holandesa até a fronteira com a Alemanha após ser impedida de entrar no consulado turco na cidade.
O governo de Erdogan não poupou críticas ao país e incendiou a discussão comparando o ato do governo holandês aos nazistas. “Achei que o nazismo havia acabado, mas eu estava errado”, disse em coletiva de imprensa. “O nazismo está vivo no ocidente”, continuou.
A Holanda espera desculpas formais do governo da Turquia que, por sua vez, também espera retratações dos holandeses e ameaça impor sanções. Porém, não há sinais de que essa crise terminará nos próximos dias: o governo do país europeu anunciou que seu consulado em solo turco permanecerá fechado e emitiu um alerta de viagem para que seus cidadãos na Turquia evitem manifestações políticas.
O mal-estar diplomático com países europeus se alastrou para a Dinamarca. Citando “a retórica de ataques pela Turquia contra a Holanda”, o primeiro ministro dinamarquês, Lars Rasmussen, suspendeu um compromisso oficial com o primeiro ministro turco, Binali Yıldırım.
Antes da confusão com Holanda e Dinamarca, foi a Alemanha quem cancelou comícios do governo Erdogan nas cidades de Colônia e Gaggenau também por preocupações com a multidão que poderia se aglomerar nos locais marcados. Novamente com referências históricas incendiárias, o presidente turco acusou o governo de Angela Merkel de “agir como os nazistas”.
A relação entre a Turquia e a União Europeia (UE) nunca foi das mais fáceis, mas a situação piorou nos últimos anos com a liderança de Erdogan. O país tenta entrar no bloco europeu desde 1987, sua candidatura só foi considerada elegível em 1997 e as negociações se iniciaram em 2005.
Após a tentativa de golpe sofrida por Erdogan em meados de 2016, governos europeus passaram a acusa-lo de violações de direitos humanos durante a repressão de seus opositores. O parlamento da Turquia chegou a reconsiderar a pena de morte, fazendo com que a UE suspendesse as tratativas para a entrada do país no bloco.
O clima entre Turquia e UE esquentou novamente depois do anúncio da realização do referendo, cuja proposta prevê, por exemplo, a extinção da figura de primeiro ministro e a centralização do poder nas mãos do presidente. Se aprovada, essa reforma será a maior já realizada desde a fundação da República da Turquia em 1923.