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A rejeição da Escócia por sua independência do Reino Unido

"Não" recebeu quase 400.000 votos a mais do que o "Sim", em um referendo que teve uma taxa de participação recorde de 84,59% dos eleitores

Partidários da permanência da Escócia no Reino Unido comemoram a vitória do 'não' no referendo em Glasgow (Andy Buchanan/AFP)

Partidários da permanência da Escócia no Reino Unido comemoram a vitória do 'não' no referendo em Glasgow (Andy Buchanan/AFP)

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Da Redação

Publicado em 19 de setembro de 2014 às 15h35.

Edimbugo - A <strong><a href="https://exame.com.br/topicos/escocia">Escócia</a></strong> rejeitou a independência por uma ampla margem e optou por continuar no <strong><a href="https://exame.com.br/topicos/reino-unido">Reino Unido</a></strong>, o que levou o primeiro-ministro escocês, Alex Salmond, a anunciar nesta sexta-feira, sua renúncia, apesar da promessa do governo de Londres de conceder mais autonomia à região.</p>

O "Não" recebeu quase 400.000 votos a mais - 2.001.926 de votos contra 1.617.989 -, em um referendo que teve uma taxa de participação recorde de 84,59% dos 4,3 milhões de eleitores registrados.

O resultado representou uma decepção para Alex Salmond, que doze horas após a proclamação dos resultados anunciou que deixará seu cargo de primeiro-ministro da Escócia, que ocupa desde 2007, e de líder do Partido Nacional Escocês (SNP), em novembro.

"Comuniquei ao secretário nacional do SNP que não voltarei a me apresentar como líder do partido na conferência anual (que será realizada de 13 a 15 de novembro em Perth) e que renunciarei de meu posto de primeiro-ministro", disse Salmond em uma coletiva de imprensa em Edimburgo.

"Acredito que o partido, o Parlamento e o país ficarão bem com uma nova liderança", declarou.

Seu anúncio pegou muitos escoceses de surpresa, já que Salmond conseguiu fazer com que o apoio ao separatismo alcançasse níveis (44,7%) que até pouco tempo eram inimagináveis, e que os partidos de Westminster prometessem um maior nível de autogoverno à Escócia diante do medo da vitória do "Sim".

A rainha Elizabeth, a monarca de todos os britânicos, pediu em uma mensagem especial que a unidade volte ao Reino Unido.

"Conhecendo como conheço o povo da Escócia, não tenho dúvidas de que os escoceses, como muitos outros no Reino Unido, são capazes de expressar opiniões claras antes de voltar a se unir em um espírito de respeito e apoio mútuo", indicou.

"Estou decepcionado, mas as coisas continuarão como estavam. Não vai mudar a minha vida", disse à AFP Danny Trench, de 23 anos, a caminho do trabalho em Edimburgo, após conhecer o resultado do referendo.

A diferença foi maior do que apontavam as pesquisas, o que confirma a tese da "maioria silenciosa" contra a independência que era citada pelos unionistas ante o fervor da campanha independentista.

A decepção de Salmond contrastava com o alívio do primeiro-ministro do governo central, o conservador David Cameron, de líderes europeus e de outras partes do mundo.

"Chegou o momento para nosso Reino Unido unir-se e seguir adiante", disse Cameron em um discurso à nação diante da residência oficial de Downing Street.

"O debate ficou resolvido por uma geração e, talvez, como disse Alex Salmond, por toda a vida", afirmou.

"O povo escocês falou e sua decisão é clara", ressaltou o líder conservador.

"Estamos muito felizes de que a Escócia continue conosco", disse o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, contrário à consulta independentista, que em país o governo da Catalunha pretende realizar.

O Parlamento catalão inclusive aprovou horas depois do resultado na Escócia uma lei para permitir seu referendo, convocado unilateralmente pelo governo regional no dia 9 de novembro.

Mais autonomia

O debate sobre o fim ou não de 307 anos de história comum entre Inglaterra e Escócia provocou paixões.

O temor do impacto econômico da separação, alimentado pela transferência a Londres da sede social de bancos como o Royal Bank of Scotland às vésperas do referendo ou a possibilidade de não poder utilizar a libra, acabou freando a opção pela independência.

"Não acredito que os escoceses querem estar no Reino Unido, mas tiveram medo de coisas como a mudança da moeda. E não os culpo. Sou brasileira e mudar de moeda é horrível", disse Andreia Rodrigues, de 38 anos, funcionária em uma cafeteria.

Na véspera do referendo, Cameron, seu aliado governamental liberal-democrata Nick Clegg e o líder da oposição trabalhista Ed Miliband se comprometeram por escrito a iniciar o processo de ampliação de poderes já nesta sexta-feira.

"Vamos honrar este compromisso", disse Cameron, que anunciou, no entanto, que qualquer "tratamento novo e justo para a Escócia" será ampliado para a Irlanda do Norte e Gales, assim como para a Inglaterra, a única das quatro regiões constituintes do Reino Unido sem Parlamento nem governo autônomo próprio.

"Os escoceses conseguirão a maioria das coisas de um Estado independente, sem os riscos", prevê Tony Travers, professor do Departamento de Governança da London School of Economics.

Europa respira aliviada

Enquanto isso, a Europa respira aliviada com o resultado na Escócia, que poderia provocar um contágio a outras regiões do bloco.

O resultado do referendo escocês é "bom para uma Europa unida, aberta e forte", afirmou em um comunicado o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.

"Confesso que o resultado me alivia", disse o presidente do Parlamento Europeu, o alemão Martin Schulz.

O presidente americano, Barack Obama, também saudou a vitória do "Não".

Desde que o ex-premiê trabalhista britânico Gordon Brown se envolveu na campanha, após quatro anos afastado da política, o unionismo conteve a hemorragia de votos que chegou a colocar os independentistas brevemente à frente nas pesquisas.

"Lutamos duas Guerras Mundiais juntos. Não há um cemitério na Europa no qual não jazam lado a lado um escocês, um galês, um inglês e um irlandês. Quando lutaram, nunca se perguntaram de onde vinham", disse na quarta-feira em um discurso em Glasgow muito celebrado nas redes sociais.

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