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A nova polêmica de Mulan: Disney pode ter filmado perto de campo uigur

A Disney colocou nos agradecimentos autoridades chinesas onde ficam campos da minoria uigur. Filme já era alvo de polêmicas por causa de Hong Kong

Mulan: filme estreará na China diretamente nos cinemas, já que Disney+ é proibido (AFP/AFP)

Mulan: filme estreará na China diretamente nos cinemas, já que Disney+ é proibido (AFP/AFP)

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Carolina Riveira

Publicado em 9 de setembro de 2020 às 15h41.

Última atualização em 9 de setembro de 2020 às 16h07.

O filme Mulan, lançado na semana passada pela Disney, é alvo de nova controvérsia. Depois da declaração contra os protestos em Hong Kong por parte da atriz chinesa que interpreta a protagonista, o filme está agora no meio do embate sobre as violações contra a minoria uigur na China.

Durante a exibição na plataforma de streaming Disney+, a Disney dirige nos créditos "um agradecimento especial" às autoridades governamentais da região de Xinjiang, noroeste da China. O problema é que é nessa área que ficam alguns dos chamados "campos de reeducação política" dos uigures, segundo associações de defesa dos direitos humanos.

A questão dos uigur é criticada há mais de uma década. Grupos de defesa dos direitos humanos, jornalistas e acadêmicos denunciam a internação de membros da minoria muçulmana uigur, assim como detenções em larga escala e esterilizações forçadas.

Entre os agradecimentos da Disney, aparece a agência responsável pela segurança pública de Turpan, uma cidade em Xinjiang onde fica parte da minoria uigur. O departamento do Partido Comunista Chinês na região também recebeu um agradecimento.

Não está claro no que as autoridades chinesas da região ajudaram na produção ou quais cenas foram filmadas no local.

O filme foi gravado majoritariamente na Nova Zelândia. A tendência, segundo o Washington Post, é que a Disney tenha usado somente filmagens de montanhas e cenários da região chinesa, ou apenas que sua produção tenha feito algo no local.

A Anistia Internacional fez postagem em seu Twitter citando o caso e pediu à Disney que mostre seu relatório de respeito aos direitos humanos.

Segundo disse à AFP Isaac Stone Fish, da Asia Society, um centro especializado nas relações entre Estados Unidos e China, o filme é "sem dúvida o longa-metragem mais problemático da Disney" desde "A Canção do Sul" -- quando foi lançado em 1946, o último recebeu muitas críticas pela divulgação de clichês racistas e por pintar de maneira idílica as plantações onde os escravos eram obrigados a trabalhar no sul dos Estados Unidos.

Procurada pela AFP, a Disney não se pronunciou.

O artista chinês dissidente Badiucao, que mora na Austrália, também criticou o caso e fez desenhos de Mulan em meio a um campo de concentração uigur e em um tanque no famoso episódio da Praça da Paz Celestial em 1989.

Baduicao acusa a Disney de adotar um "discurso duplo", aderindo a movimentos contra a injustiça social no Ocidente, como MeToo e Black Lives Matter, enquanto fecha os olhos para violações na China.

Antes, a nova versão de Mulan estava sendo alvo de críticas porque a atriz chinesa e americana Liu Yifei, que vive a protagonista, criticou as manifestações em Hong Kong.

“Eu também apoio a polícia de Hong Kong. Agora podem me atacar”, escreveu no ano passado. “Que vergonha para Hong Kong.” Hong Kong vem sendo palco de protestos massivos há mais de um ano, desencadeados por uma nova lei de segurança nacional que aumenta o controle da China sobre o território.

A declaração da atriz já havia feito ativistas pedirem boicote ao filme, que é uma versão em live action da animação de 1998, também da Disney.

O desafio de fazer cinema na China

A Disney e outras gigantes do cinema global enfrentarão cada vez mais questionamentos do tipo à medida em que tentam fazer seus filmes palatáveis para a audiência no mercado de cinema chinês -- que já é o segundo maior do mundo e pode, em breve, ultrapassar os Estados Unidos.

Em agosto, Hollywood foi acusada, em um relatório publicado pela organização Pen America, de autocensura para permitir que seus filmes entrem no gigantesco mercado chinês.

Mulan, em especial, custou à Disney 200 milhões de dólares e teve o adiamento lançado repetidas vezes em meio à pandemia do coronavírus.

Embora tenha sido lançado no Disney+ com uma taxa de aluguel específica só para o filme, de quase 30 dólares, a Disney deve sofrer para recuperar o investimento. Nessa linha, ficar fora do gigantesco mercado chinês não é mais uma opção para a indústria cinematográfica.

No mercado chinês, o próprio Disney+ não está disponível, mas Mulan será lançado nesta semana nos cinemas, uma vez que a pandemia na China já está relativamente controlada.

(Com AFP)

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