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A morte que iniciou a saga trágica do coronavírus no México

Carlos Hernández morreu em 18 de março de 2020, uma semana antes de fazer 42 anos e depois de permanecer em um hospital onde os médicos mal entendiam com o que estavam lidando

Adriana Meneses, de 45 anos, viúva de Carlos Hernández, a primeira vítima mortal do coronavírus no México (Claudio Cruz/AFP)

Adriana Meneses, de 45 anos, viúva de Carlos Hernández, a primeira vítima mortal do coronavírus no México (Claudio Cruz/AFP)

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AFP

Publicado em 26 de março de 2021 às 12h55.

Última atualização em 26 de março de 2021 às 14h35.

"Somos parte da estatística", lamenta Adriana, viúva de Carlos, primeira pessoa da cadeia de morte de covid-19 no México, que acaba de ultrapassar as 200.000 vítimas.

Carlos Hernández morreu em 18 de março de 2020, uma semana antes de fazer 42 anos e depois de permanecer em um hospital onde os médicos mal entendiam com o que estavam lidando.

"Hoje no México morreu a primeira pessoa com covid-19", anunciou o governo. Era apenas o início de um trágico episódio que nesta quinta-feira, 25, chegou a 200.211 mortos.

Um ano depois, Adriana Meneses continua imersa na dor e se pergunta "como isso pôde acontecer?".

Quando ouviu seu marido reclamar de dores nas articulações, acreditou que fosse devido às horas que ficaram em pé em um show da banda sueca de heavy metal Ghost, em 3 de março na Cidade do México. Esse, no entanto, era apenas o começo do pesadelo.

Poucos imaginavam que o México, de 126 milhões de habitantes, se tornaria o terceiro país mais enlutado pela pandemia em números absolutos, depois dos Estados Unidos e Brasil (o presidente Lopez Obrador, um dos que negaram a gravidade da pandemia, também foi infectado). Nas últimas semanas, no entanto, o número de mortes vem caindo no México em meio ao avanço da vacinação.

(Our World In Data/Adaptado)

"Não faça isso!"

Carlos, que sofria de diabetes e sobrepeso, trabalhava de forma independente na iluminação de anúncios publicitários. O show da banda Ghost foi a antecipação do aniversário que ele planejava comemorar com um churrasco em família.

Antes de ficar doente, ele também esteve na alfândega do aeroporto da Cidade do México supervisionando um trabalho, diz Adriana, de 45 anos, tentando explicar o contágio.

Um médico particular o diagnosticou com pneumonia, mas os sintomas pioraram e, depois dar positivo no teste para o coronavírus, ele foi intubado em um hospital público.

"Nunca pensamos que poderia acontecer o que aconteceu", relata Ana Hernández, irmã de Carlos, que entre lágrimas revive o medo que a invadiu quando soube que ele seria intubado.

"Não faça isso, por favor!", disse ela, contando que implorou a Carlos, que já havia assinado a autorização.

Mal desconhecido

Três dias depois, entre o que a família chama de "negligência" e uma falta de suprimentos médicos, o pior aconteceu: a morte.

"Foi culpa da covid", disse o médico à irmã, que lembra das tentativas do doutor para explicar que era um "vírus novo" e que não sabiam "como tratá-lo".

"Fomos assediados e apontados pelos vizinhos e, nas redes sociais, ameaçaram queimar a nossa casa (...). Hoje, infelizmente, somos parte da estatística", comenta a viúva.

Um ano depois, a família tenta superar a perda. Adriana, que também ficou infectada mas se recuperou da doença, assumiu todas as rédeas da casa junto com seu filho de 18 anos.

Como homenagem, ela quer montar um pequeno altar na sala com as guitarras de Carlos, um amante do rock com quem esteve casada por 22 anos. Também mantém intacto o balcão onde ele gostava de preparar coquetéis.

"Ele era um grande cara e sempre nos ensinou a superar as adversidades. Isso é justamente o que estamos fazendo agora que ele não está mais por aqui", expressa Adriana.

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