Polícia italiana prende um suspeito da máfia em Nápoles (Carlo Hermann/AFP)
Da Redação
Publicado em 29 de setembro de 2015 às 17h52.
Roma - A máfia, encrustada na parte corrupta do sistema, em algumas ocasiões aparece publicamente na Itália para demonstrar seu poder e faz isso, como se viu recentemente, com suntuosas cerimônias ou luxuosas festas que geram enorme polêmica.
A sobrevivência da máfia nos bastidores da sociedade aparece retratada na denominada "Teoria do mundo do meio", conhecida graças a Massimo Carminati, líder de uma rede de infiltrações mafiosas na Prefeitura de Roma.
De acordo com este preceito, a sociedade é dividida entre "os vivos", o poder de qualquer tipo, e "os mortos", os cidadãos, enquanto no "mundo do meio" reina o crime organizado "aqueles acima de qualquer de tudo e todos". No entanto, em algumas ocasiões o sigilo desaparece e os clãs ostentam sua condição mafiosa com manifestações públicas nas quais exibem influência e poderio, como se quisessem lembrar que existem.
Os moradores de um bairro de Catânia recentemente acordaram com vários cartazes enormes nos quais orgulhosos pais anunciavam o batizado de seu filho, uma "criatura maravilhosa que é... ¡Cosa Nostra!". "Cosa Nostra" (Coisa Nossa) é a forma como o crime organizado siciliano é conhecido e esta alusão fez com que as autoridades se apressassem em eliminar todas as propagandas.
O pai, com passagens pela polícia por roubo e tráfico de drogas e próximo ao clã dos Laudani, tinha preparado uma cerimônia que seria transmitida na rádio e sucedida por um banquete animado com a participação de artistas locais. O evento foi cancelado e ele alegou ser uma brincadeira e que não pretendia ofender ninguém com sua iniciativa, que gerou polêmica nas redes sociais.
"Infelizmente, coisas como essa ainda são enaltecidas. Manifestar esses comportamentos e esta mentalidade é errado. Às vezes a máfia é vista de forma menos grave do que realmente é", disse à Agência Efe Totò Grosso, porta-voz da organização anti-máfia "AddioPizzo".
Outro caso semelhante ocorreu no mesmo passado. Em agosto, Roma foi palco do funeral do líder do Clan dei Casamonica, um dos clãs mais importantes da capital italiana.
O ato podia ser um simples enterro, mas a família optou pela ostentação: o caixão, que foi recebido no templo entre aplausos, foi transportado em uma ornamentada charrete, enquanto uma banda tocava a música de "O Poderoso Chefão" e pétalas de flores caíam de um helicóptero que sobrevoava.
Outro escândalo que vazou nestes dias foi o casamento da filha do mafioso Marco Mariano que, no dia da cerimônia, em novembro de 2010, passeou pelo napolitano Barrio Español, enquanto os moradores cantavam. Naquele dia, após o casamento, a família organizou uma festa na qual marcaram presença rostos conhecidos do mundo da música, como Sal da Vinci.
Todos estes episódios revelam que a máfia, em algumas ocasiões, desfruta de uma posição social elevada, que lhe permite aparecer publicamente, e que conta com o "consentimento" de alguns cidadãos.
"É uma pessoa que proporciona bem-estar, é capaz de reunir consenso popular porque pode oferecer oportunidades de trabalho a muita gente que vive na extrema pobreza", disse o sociólogo Umberto di Maggio, coordenador da organização "Liberta".
Ele reconheceu que "infelizmente a máfia ainda existe", mas ressaltou a presença de "um movimento anti-máfia grande e cada vez mais organizado está escrevendo um destino melhor" para o país.