O parto da Papisa Joana — Foto: Reprodução / Museu Britânico / via Wikimedia Commons
Agência de notícias
Publicado em 22 de abril de 2025 às 12h54.
Duzentos e sessenta e seis homens estiveram no comando da Igreja Católica desde a sua criação, e muitos se perguntam por que nunca houve uma mulher nesse posto. Uma lenda da época da Idade Média, no entanto, diz que isso já aconteceu: a "Papisa Joana", como é conhecida, teria chegado ao mais alto posto da hierarquia da Igreja entre 855 e 857, ocupando o cargo por dois ou três anos sob a alcunha de João VIII (ou Johannes Angelicus), antes de ser descoberta após entrar em trabalho de parto durante uma procissão.
O escândalo, claro, teria causado grande indignação na época. Uma das versões mais conhecidas da história é que ela teria sido amarrada a um cavalo e apedrejada até a morte pelos fiéis que acompanhavam a procissão. Outra, no entanto, conta que ela teria morrido durante o parto. Algumas também citam que ela foi deposta e confinada, pagando penitência por muitos anos.
O primeiro documento que cita a lenda de Joana data do início do século XIII, numa crônica de Jean de Mailly. Seu relato não cita um nome, mas diz que os eventos se passaram em 1099. "A respeito de um certo Papa ou melhor, uma Papa mulher, que não está na lista de papas ou bispos de Roma, porque ela era uma mulher que se disfarçou de homem e se tornou, por seu caráter e talentos, uma secretária da Cúria, depois uma Cardeal e finalmente Papa", abre o texto do "Chronica Universalis Mettensis".
Alguns anos mais tarde, a fábula foi revisitada pelo frade Martin de Opava, que atribuiu um nome à papisa pela primeira vez e mudou a data da história para o século IX, indicando que Joana teria sido a sucessora do Papa Leão IV e antecessora do Papa Bento III.
Depois disso, houve várias versões publicadas sobre o suposto papado de Joana, e com elas surgem várias inconsistências — especialmente em relação às datas, já que seu papado teria coincidido com os de Leão IV (847–855) e Bento III (855–858), historicamente documentados. Dessa forma, não haveria um espaço de tempo possível para um papado intermediário.
No geral, a história é tratada por pesquisadores como uma fábula que atravessou os séculos e perdura até hoje, cercada de lacunas e carente de provas. Alguns, no entanto, argumentam que a lenda pode ser real, como o pesquisador Michael E. Habicht, autor de "Papisa Joana: O pontificado encoberto de uma mulher ou uma lenda?".
Habicht, arqueólogo da Universidade Flinders, da Austrália, analisou monogramas papais em moedas medievais atribuídas ao Papa João VIII (o documentado e reconhecido pela Igreja, cujo papado foi de 872 a 882), e encontrou símbolos e datas diferentes entre os exemplares, o que sugere se tratar de duas pessoas diferentes. No caso, João VIII e Johannes Angelicus.
"Quando o pontificado de Joana foi encoberto, o pontificado de Leão IV foi estendido até 855 e o de Bento III, até 858. Feitos históricos e clericais de Joana foram distribuídos entre ambos", defende Habicht na tese.
Mas há controvérsias. Uma publicação de 2018 da Smithsonian Magazine cita Bry Jensen, coapresentador de um podcast focado no tema, que descreveu as descobertas de Habicht como "intrigantes", mas não estava convencido. O que ele argumentava é que as moedas com o suposto monograma de Joana poderiam ser falsificadas, uma vez que podem ter sido cunhadas no "auge da popularidade do mito".
Há também aqueles que acreditam que o mito da Papisa se trata de uma sátira antipapal, que teria emergido como uma crítica à Igreja Católica, em um período em que a instituição enfrentava desafios.
— Nenhuma fonte fora da Igreja Católica até a Reforma Protestante faz referência à existência de uma Papa mulher — disse Jensen. — Até os inimigos da Igreja parecem silenciosos sobre isso, apesar da oportunidade perfeita para denunciar a Igreja.
Apesar das controvérsias, Joana foi retratada em inúmeras pinturas, esculturas e até mesmo em cartas de tarô (na figura da "Papisa"). Também foi tema de diversas obras literárias, televisivas e cinematográficas.