Farc: "foi uma luta de três dias. Foi a pior coisa que já passei na vida", afirmou (John Vizcaino/Reuters)
EFE
Publicado em 2 de abril de 2018 às 08h34.
Florencia - "Não sairei daqui, só se vocês me matarem. Terão que me matar para que eu vá embora". Estas foram as palavras ditas por Rosa a um chefe das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) como apelo para recuperar os filhos que foram recrutados à força pela agora desativada guerrilha.
Enfrentar as Farc em 2007 era uma tarefa que muitos evitavam, mas Rosa, que contou sua história à Agência Efe através de um nome fictício, não pensou duas vezes em fazê-lo para recuperar os dois filhos adolescentes, um de 14 e outro de 15 anos.
"Foi uma luta de três dias. Foi a pior coisa que já passei na vida", afirmou.
Rosa morava em Puerto Asís, um município do departamento (estado) do Putumayo, na fronteira com o Equador, onde cultivava banana e mandioca em um pequeno sítio. Em uma sexta-feira qualquer, mandou os três filhos mais velhos, dois meninos e uma menina, colher bananas. Os garotos não voltaram.
Começou então a saga que fez com que ela movesse céus e terra por três dias até descobrir onde eles estavam e parar na frente de um líder da guerrilha para pedir que os soltasse.
"Disse: 'senhor, não fiz nada nesta vida. Por que levar os meus filhos?' Ele respondeu que eles queriam ir com as Farc, mas como iriam querer se estavam estudando?", questionou.
Conforme contou, depois de duas horas e meia o guerrilheiro acabou cedendo. "Só vou entregar porque você não merece sofrer o que está sofrendo. Pegue seus filhos e vá embora daqui. Não quero voltar a ver vocês neste território", disse o integrante das Farc a Rosa.
Tudo aconteceu em 2 de fevereiro. Ela chegou a Florencia, capital do departamamento de Caquetá, no dia seguinte, acompanhada dos seis filhos, onde se instalou na casa da mãe, que vive na cidade.
"Tiraram tudo o que eu tinha. Cheguei aqui com uma mão na frente e outra atrás", recordou Rosa.
A mulher, que de um dia para o outro se transformou em vítima do conflito armado e deslocada interna pela violência, ainda teve que enfrentar ameaças durante um mês.
"Troquei o número do telefone para que não ligarem mais, porque para mim isso não é vida. Diziam que estavam me vigiando, que sabiam onde eu vivia. Me ameaçaram várias vezes", relatou.
No entanto, ela decidiu permanecer firme.
"Eu fui fazer faxina, passar roupa, lavar, o que aparecesse. Trabalhei descascando cebola, batata e segui. Graças a Deus não fiquei parada. Você tem que olhar para frente e deixar o mal para trás, mesmo que não esqueça ou que ainda doa", argumentou.
Hoje em dia, Rosa é uma das vozes mais importantes da sua comunidade em Florencia, onde mora desde 3 de fevereiro de 2007 e lidera várias iniciativas para melhorar a vida do grupo. Para ela, Deus manda às pessoas ao planeta com "uma missão" e a sua é continuar ajudando a comunidade.
"Foi para isso que Deus me colocou aqui, para ser a líder, para lutar pelos demais", afirmou.
Às vezes ela ainda sente medo e custa a acreditar no acordo de paz que desmobilizou as Farc, assinado pela guerrilha e pelo governo colombiano em novembro de 2016. Por isso nunca tinha contado sua história a ninguém, exceto aos funcionários do escritório do governo quando teve que fazer os trâmites para ser reconhecida como deslocada.
"Sou uma mulher de muita coragem", frisou.