Derretimento de geleiras na Groenlândia: sem volta (Martin Zwick/Getty Images)
Ivan Padilla
Publicado em 15 de agosto de 2020 às 14h18.
Mais uma terrível notícia para o ambiente. As camadas de gelo da Groenlândia encolheram a um ponto irreversível como conseguência do aquecimento global, segundo um est
udo publicado nesta semana pela revista científica Nature Communications Earth & Environment.
O derretimento faz com que os oceanos subam cerca de um milímetro em média por ano, tornando a Groenlândia a maior responsável por essa elevação. Em julho, o gelo marinho polar atingiu sua menor extensão em 40 anos.
Segundo o estudo, divulgado pela Reuters, se todo o gelo da Groenlândia for eliminado, a água liberada elevaria o nível do mar em 6 metros, em média – seria suficiente para inundar diversas cidades costeiras ao redor do mundo. Esse processo levaria décadas. Mas o perigo é real.
Ainda de acordo com a publicação, o derretimento ocorre independentemente da velocidade com que o mundo se esforça para reduzir as emissões de gases que provocam o aquecimento global.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas estudaram dados de 234 geleiras em todo o território ártico ao longo de 34 anos, até 2018. Os especialistas descobriram que a neve anual não era mais suficiente para reabastecer as geleiras com neve e gelo perdidos no derretimento do verão.
"A Groenlândia vai ser o canário na mina de carvão, e o canário já está praticamente morto neste momento", afirmou um dos autores do estudo, o glaciologista Ian Howat, da Ohio State University, fazendo referência ao uso de pássaros em minas para indicar os níveis de oxigênio.
Nas últimas três décadas, o aquecimento no Ártico ocorreu pelo menos duas vezes mais rápido que no resto do mundo, um fenômeno conhecido como amplificação do Ártico.
O novo estudo sugere que o manto de gelo do território agora ganhará massa apenas uma vez a cada século. O dado é um indicador de como é difícil fazer crescer novamente as geleiras depois do derretimento de gelo em larga escala.
Os pesquisadores estudaram imagens de satélite das geleiras e notaram que as geleiras tinham 50% de chance de recuperar a massa antes de 2000. Desde então, porém, as chances vêm diminuindo.
As descobertas preocupantes devem estimular os governos a se preparar para a elevação do nível do mar, disse a autora principal Michalea King, uma glaciologista da Ohio State University. “As coisas que acontecem nas regiões polares não ficam nas regiões polares”, afirma.
Mesmo assim, o mundo pode reduzir as emissões para desacelerar a mudança climática, disseram os cientistas. Ainda que a Groenlândia não consiga recuperar a massa gelada que cobriu seus 2 milhões de quilômetros quadrados, conter o aumento da temperatura global pode diminuir a taxa de perda de gelo.
"Quando pensamos em ação climática, não estamos falando sobre reconstruir a camada de gelo da Groenlândia", disse Twila Moon, uma glacióloga do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo, que não participou do estudo. "Estamos falando sobre a rapidez com que o aumento do nível do mar atinge nossas comunidades, nossa infraestrutura, nossas casas, nossas bases militares."
A região é estrategicamente importante para a geopolítica global. O degelo do Ártico trouxe mais água para a região, abrindo rotas para o tráfego marítimo, bem como aumentou o interesse na extração de combustíveis fósseis e outros recursos naturais.
A Groenlândia também é importante para os Estados Unidos e seu sistema de alerta de mísseis, já que a rota mais curta da Europa para a América do Norte passa pela ilha do Ártico.
O presidente Donald Trump ofereceu no ano passado a compra da Groenlândia, um território dinamarquês autônomo. Mas a Dinamarca, aliada dos EUA, rejeitou a oferta. No mês passado, os EUA reabriram um consulado na capital do território, Nuuk. A Dinamarca teria dito na semana passada que estava nomeando um intermediário entre Nuuk e Copenhagen, a cerca de 3.500 quilômetros de distância.
O tempo e os cuidados com o ambiente daqui por diante, apesar da situação sem volta, ditarão o destino da Groenlândia.