Rússia: a Copa da Rússia corre um sério risco de deixar um legado semelhante ao que tivemos por aqui e ao que a África encarou em 2010
Da Redação
Publicado em 13 de abril de 2018 às 06h21.
Última atualização em 13 de abril de 2018 às 07h26.
A Rússia inaugura neste domingo mais dois estádios para a Copa do Mundo de 2018, a pouco mais de dois meses para o evento, que se inicia no dia 14 de junho.
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Os estádios da vez são nas cidades de Nizhny Novgorod e Rostov-on-Don, que receberá a estreia da seleção brasileira, no dia 17 contra a Suíça.
Apesar do prazo apertado, ainda restam três estádios para inaugurar: mais dois no próximo dia 21, em Saransk e Volgogrado, e um último, em Samara, no dia 28.
O inverno no hemisfério norte atrapalhou as obras e os testes do estádio, atrasando as entregas. As temperaturas negativas poderiam causar muitos danos aos gramados novos, além de dificultar o acesso dos torcedores, o que tornaria mais difícil medir com precisão a logística interna e de transporte.
A Copa da Rússia corre um sério risco de deixar um legado semelhante ao que tivemos por aqui e ao que a África encarou em 2010. Preocupado com a ociosidade dos estádios após a Copa, o governo de Vladimir Putin já liberou 190 milhões de dólares de dinheiro federal para um “programa de legado”, que deve ter 265 milhões em investimentos totais.
O objetivo é subsidiar o funcionamento dos estádios nos próximos anos, enquanto as ligas de futebol locais ganham adeptos e se estabelecem. Ou seja: numa lógica torta, vai gastar ainda mais do que já gastou para tentar evitar que o dinheiro investido seja desperdiçado.
O problema: os principais times em Volgogrado, Kaliningrado, Nizhny Novgorod e Samara todos estão na segunda divisão do Campeonato Russo e jogos em casa na última temporada tiveram públicos entre 1.000 e 5.000 torcedores.
Em Saransk, o time da cidade está na terceira divisão, e em Sochi sequer há uma equipe profissional. Mesmo cidades como Yekaterimburgo e Rostov, cujos times estão na primeira divisão, o público pagante nos estádios não passa de 9.000 pessoas por jogo.
Com estádios muito grandes, o custo de operação da arena sobe muito e muitas vezes torna-se inviável para os times e para a cidade. É o caso do Estádio Nacional, em Brasília. Uma das mais caras da Copa do Brasil, a arena ficou praticamente ociosa após o fim do evento, recebendo shows, jogos eventuais e até abrigou escritórios do governo — além de a Polícia Federal ter prendido os ex-governadores do Distrito Federal Agnelo Queiroz (PT) e José Roberto Arruda (PR) por envolvimento num suposto esquema que desviava recursos da obra. Hoje, luta-se para a privatização da arena.
Lá, como aqui, o excesso de ambição e a falta de planejamento vão cobrar seu preço.