Vítima da crise na Zona do Euro, Berlusconi é o quarto primeiro-ministro a cair na região (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 9 de novembro de 2011 às 19h08.
São Paulo – Aos 75 anos de idade, Silvio Berlusconi acumula sucessos políticos e econômicos: foi eleito primeiro-ministro da Itália por três mandatos; é desde 1986 presidente e proprietário do Milan, uma das maiores equipes do futebol italiano; integra a lista de bilionários e poderosos da Forbes; e controla um império que abrange meios de comunicação, empresas de publicidade, de seguros, de alimentos e de construção.
A competência de Berlusconi na gestão de seus negócios foi um dos motivos que levaram a população italiana a colocá-lo no comando do país. Após o primeiro mandato entre 1994-1995 e o segundo entre 2001-2006, Berlusconi voltou ao poder em 2008 e agora está prestes a abandoná-lo.
Com sua saída, ele será o quarto premiê a deixar o cargo na Zona do Euro - após Irlanda, Portugal e Grécia, sendo mais uma vítima da crise financeira que atinge os países da região. Mas no caso específico de Berlusconi, o que deu errado?
Império e poder
Berlusconi é um homem de negócios de causar inveja a muitos. Ele é proprietário da Mediaset, companhia composta por três canais de televisão nacionais.
Fundou e se tornou o principal acionista da Fininvest, uma das dez maiores empresas privadas da Itália e que opera meios de comunicação, atuando também no setor bancário. Com Ennio Doris, ele fundou o Mediolanum, um dos maiores bancos e grupos de seguros do país.
O magnata da mídia ainda é dono da Publitalia, maior agência de publicidade do país, e da Arnoldo Mondadori Editore, a maior editora nacional. O interesse por cinema e distribuição de filmes ainda o fez apostar na Medusa Film e na Penta Film.
Nos esportes, Berlusconi abocanhou o time italiano de futebol Milan, transformando o clube em uma das marcas esportivas mais valiosas do mundo. O resultado veio da contratação de grandes nomes do futebol, além da conquista de importantes campeonatos, tanto na Itália como no exterior.
Todo o progresso de Berlusconi no mundo dos negócios culminou em uma só palavra: fortuna. Ele foi citado na última edição da revista Forbes como o 117º homem mais rico do globo e o terceiro em seu país, com um capital avaliado em 7,8 bilhões de dólares.
Turbulências
O terceiro mandato de Berlusconi não começou com o pé-direito: teve início em 2008, ano em que eclodiu a crise financeira internacional. Desde então a economia italiana está sob tensão crescente diante de uma dívida pública de 1,9 trilhão de euros (2,6 trilhões de dólares). Para reverter este cenário, o governo de Berlusconi encontrou dificuldades, principalmente políticas, para aprovar medidas de austeridade.
Estes entraves se somaram aos escândalos sexuais envolvendo a vida particular do premiê desde 2009, algo que foi visto pela população italiana como uma distração indesejada de Berlusconi em um momento tão crítico para a economia do país. O resultado disso: queda de popularidade.
Acusações
Junho de 2009 - Os primeiros escândalos contra Silvio Berlusconi sugiram em 2009, quando a garota de programa Patrizia D’Addario disse ter recebido 2 mil euros para participar de orgias com o premiê.
Dezembro de 2009 - No dia 13 de dezembro de 2009, durante um comício em Milão, ele foi agredido por Massimo Tartaglia, com uma reprodução metálica da Catedral da cidade. Ele fraturou o nariz e dois dentes. O agressor foi imediatamente detido.
Outubro de 2010 – Gianfranco Fini, aliado de longa data de Berlusconi, rompe com o partido Povo da Liberdade e funda uma nova legenda: Futuro e Liberdade, enfraquecendo a coalizão do primeiro-ministro.
Novembro de 2010 – A dançarina marroquina Karima El-Marough disse ter recebido 7 mil euros para participar das festas de orgias com o premiê quando ela ainda era menor de idade, mas negou ter feito sexo com ele. As investigações mostram que as mulheres participavam de um ritual erótico conhecido como “bunga-bunga”.
A orgia – que teria sido ensinada pelo ex-ditador líbio Muamar Kadafi – consiste em garotas nuas realizando danças sensuais para seduzir o premiê. Mais tarde, novas descobertas apontaram que Berlusconi ainda ajudou Karima a sair da prisão após saber que ela foi presa, acusada de ter roubado 4 mil euros.
Dezembro de 2010 – Berlusconi sobrevive ao primeiro voto de confiança no Parlamento e segue no cargo, apesar das polêmicas e acusações envolvendo sua vida pessoal.
Janeiro de 2011 – A justiça italiana derruba uma lei que concedia imunidade ao premiê e ministros, abrindo caminho para que ele seja processado pelas acusações feitas contra ele.
Fevereiro de 2011 – Milhares de italianas tomam as ruas para protestar contra Berlusconi, resultado da queda de popularidade do primeiro-ministro.
Março de 2011 – O premiê é acusado de fraude e corrupção nos casos envolvendo seu império empresarial Mediaset, Mediatrade e David Mills.
Abril de 2011 – A oposição de Berlusconi vence as eleições regionais, garantindo o controle das principais cidades da Itália.
Outubro de 2011 – Berlusconi ganha por pouco voto de confiança no Parlamento, mas ainda segue no poder
Novembro de 2011 – O grupo ucraniano Femem, que luta contra a discriminação das mulheres, reúne seus ativistas com os manifestantes do partido de centro-esquerda PD em uma marcha contra Berlusconi.
Novembro de 2011 – Durante votação do orçamento realizada ontem na Câmara dos Deputados, Berlusconi conseguiu aprovar sua proposta por 308 votos, bem abaixo do limite de 316, perdendo sua maioria absoluta no parlamento: um duro golpe para o primeiro-ministro.
Fracasso
A perda de popularidade e a falta de apoio político para promover as medidas de austeridade na Itália tornaram a posição de Berlusconi no poder insustentável. Nesta terça-feira, o presidente da Itália, Giorgio Napolitano, disse que o premiê concordou em renunciar ao cargo caso o parlamento aprove o plano de austeridade proposto por ele.
A repercussão de uma provável saída de Berlusconi foi bem recebida no mercado financeiro, animando investidores e incentivando ganhos mais robustos nas bolsas. Contudo, a renúncia do premiê não tira da Itália a responsabilidade de arcar com seus compromissos financeiros.
Se a Grécia - que representa apenas 2% da economia da União Europeia - preocupa e gera turbulência por conta de um eventual calote aos credores, os investidores já temem pelo efeito que seria gerado pela Itália, considerada a terceira maior economia do bloco, caso seguisse os mesmos passos.