PEQUIM: carne australiana à venda em supermercado na China; em 2015, os dois países assinaram um acordo de livre-comércio / Lintao Zhang/Getty Images
Da Redação
Publicado em 23 de março de 2017 às 06h44.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 19h04.
A Austrália fez o convite certo na hora certa. Nesta quinta-feira, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, dá início às conversas em Camberra sobre uma melhora nas relações comerciais entre os dois países. A reunião anual, realizada pela quinta vez agora, foi confirmada na sexta-feira passada e nem tinha o objetivo de focar no agronegócio. Porém, com o bloqueio do governo chinês à carne brasileira, esse deve ser o principal assunto da pauta.
Os produtores de carne australianos estão eufóricos. A expectativa é de que ao menos três pontos sejam melhorados: a restrição à carne refrigerada (só 12 estabelecimentos australianos têm autorização para exportar para a China); abertura de acesso a todas as fábricas australianas de carne vermelha, hoje limitadas por licenças; e a ampliação do mercado de ovinos. China e Austrália já contam com um acordo de livre-comércio desde 2015, mas as negociações desta semana podem significar um passo além para a Austrália.
O país era líder em exportação de carne para a China, mas perdeu espaço em maio do ano passado para Brasil e Uruguai, que conseguiram vender a preços melhores, devido à desvalorização da moeda. Em 2015, a carne bovina brasileira representava cerca de 5% do mercado chinês. Em 2016, passou a ser 30%; enquanto a Austrália caiu de 50% para 15% em participação. No ano passado, a China se consolidou como o segundo maior importador de carne vermelha brasileira, tendo comprado 165.700 toneladas de carne, por 706 milhões de dólares – atrás apenas de Hong Kong.
A briga de Austrália e Brasil nos mercados de carne vermelha não se restringe à China. Os dois países, junto com a Índia, se alternam na liderança global de exportações. Cada um dos três países domina cerca de 15% do mercado. Para os produtores brasileiros, se manter na disputa este ano vai ser difícil se os bloqueios se mantiverem. Na quarta-feira, o ministro da Agricultura Blairo Maggi informou que o agronegócio brasileiro pode perder 10% de sua participação no mercado global. Na semana anterior às investigações, o país estava exportando uma média de 64 milhões de dólares por dia – o valor caiu para 74.000 dólares na última terça. Para a Austrália, tudo isso cheira a oportunidade.