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7 ideias polêmicas do republicano Ron Paul

Candidato à presidência, o mais velho dos republicanos que disputam a corrida eleitoral quer reduzir o papel do Estado na economia e acabar com o Federal Reserve

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 17 de janeiro de 2012 às 06h08.

São Paulo – Apelidado de “Dr. Não” por sempre votar contra as propostas que violem a constituição americana, o libertário Ronald Ernest Paul, popularmente conhecido como Ron Paul, quer fazer uma “revolução” na presidência dos Estados Unidos.

O congressista - que representa o estado do Texas na Câmara dos Estados Unidos - já é conhecido pelas suas tentativas de disputar a presidência em 1998 e 2008. Para as eleições de 2012, Ron Paul está com sede de vitória.

Após ficar no terceiro lugar nas primárias em Iowa e pegar a segunda posição em New Hampshire, atrás apenas do republicano Mitt Romney, Paul quer agora virar o jogo e conta com o apoio dos jovens contrários aos governos de Barack Obama e de George W. Bush.

Para conquistá-los, Ron Paul busca esclarecer seus ideiais, alguns deles considerados bastante polêmicos para um senhor de idade de 75 anos e que representa uma ponta fora da curva no conservador partido Republicano, já que integra a ala liberal.

Isso ocorre porque Paul quer reduzir o peso e a presença do Estado na economia e se auto-declara defensor dos direitos individuais, de uma política externa isolacionista e de um corte nos poderes de Washington. Além disso, ele é contra as guerras e a favor da legalização das drogas.

Confira abaixo a lista com os ideiais mais polêmicos do plano de Ron Paul para restaurar os Estados Unidos em 2012 caso ganhe as eleições presidenciais:

1 Legalizar todas as drogas

Ron Paul se considera um homem pró-vida, totalmente a favor da sociedade livre. Assim sendo, ele acredita que o Estado não deve se envolver nos hábitos pessoais da população.

O republicano sugere a não intervenção a diversos tipos de drogas (incluindo maconha, cocaína e até heroína), mas indica a criação de serviços de proteção para adolescentes que ainda são incapazes de tomar uma decisão sobre o uso de entorpecentes.

Na visão de Paul, cada estado deve ter sua própria legislação sobre o tema. Além disso, o libertário ainda acha que a proibição das drogas tem elevado o preço dos produtos consumidos pelos usuários, o que incentivou o crime e a prostiuição.

Com a legalidade, ele prevê que os usuários passarão a ser tratados apenas como pessoas doentes, e que a violência gerada em torno do mundo das drogas tenderia a diminuir.

No debate presidencial das eleições de 2008, Paul condenou o gasto de 500 bilhões de dólares por parte do governo dos Estados Unidos desde 1970 até aquele ano na guerra contra as drogas.

"Foi uma falha total. A ação se mostrou custosa e ineficiente, incentivando o crime", disse o candidato na época. "Um dia teremos que admitir isso", acrescentou, após lembrar que "a proibição para o álcool também foi um fracasso absoluto". 


"Tratamos o alcoolismo agora como um problema médico e eu, como médico, acho que devemos tratar a dependência de drogas como um problema médico e não como um crime", disse o candidato. Paul também aprova o uso da maconha para fins medicinais.

2 Liberar o casamento gay

A favor de uma sociedade livre, Ron Paul também acredita que a lei deve proteger qualquer associação que ocorra de forma voluntária entre duas pessoas, independente da sexualidade. O libertário já afirmou que proibir o casamento gay é  "um ato de engenharia social profundamente hostil à liberdade".

Paul declarou que não quer interferir na livre associação de dois indivíduos em um sentido social, sexual e religioso. "Eu sou favorável de todas as associações voluntárias e as pessoas podem chamá-las do que elas quiserem".

"Os americanos, compreensivelmente, temem que, se o casamento gay é legalizado em um estado, todos os demais serão forçados a aceitar tais uniões. Na melhor das hipóteses, os governos devem cumprir os contratos e sempre conceder os divórcios quando requisitados", afirma Paul.

3 Proibir o aborto com base na ciência

Ron Paul é médico obstetra e já realizou mais de 4 mil partos em sua carreira. Ele se diz um "inimigo inabalável do aborto", mesmo reconhecendo que este é um debate complexo que envolve diversos argumentos emocionais, incluindo moralidade sexual, crenças religiosas, direitos das mulheres ou simplesmente razões pragmáticas.

"Se você não pode proteger a vida, então como você pode proteger a liberdade?", questiona o libertário, após afirmar que o aborto é "um ato de agressão contra o feto vivo e, como humano, a criança deve possuir direitos legais.

Segundo ele, a avaliação racional do aborto deve ser constituída sobre a seguinte questão: quando começa a vida humana? Na concepção, no gestação ou no nascimento? 

Em 2005, Paul apresentou um projeto de lei denominado "Santidade da Vida" e que sugere que o princípio da vida começa na concepção, "sem distinção de raça, sexo, idade, saúde, defeito, ou a condição de dependência". A proposta deve ser colocada em pauta caso ele seja eleito presidente.

4 Vetar a intervenção dos EUA em qualquer guerra

A Revolução de Ron Paulo

Contraditório? Ron Paul diz "não" a guerra, mas seu material de campanha mostra o candidato em uma batalha

Na área da Defesa, Paul apoia uma política externa não intervencionista para os Estados Unidos. Em julho de 2007, sua campanha recebeu mais doações de empregados das forças armadas do que as de todos os outros candidatos.

Durante um debate transmitido em rede nacional na campanha de 2008, o libertário atacou o candidato Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York, com o seguinte discurso:

“Você já sabe por quais motivos eles (membros da Al Qaeda) nos atacaram (nos atentados de 11 de setembro de 2001)? Eles nos atacaram porque nós estivemos lá bombardeando o Iraque por uma década. Estivemos no Oriente Médio [durante anos]. Eu acho que [Ronald] Reagan estava certo. Nós não entendemos a irracionalidade da política do Oriente Médio. Agora mesmo, estamos construindo uma embaixada no Iraque que é maior que o Vaticano. Estamos construindo 14 bases permanentes. O que diríamos se a China estivesse fazendo isso em nosso país ou no Golfo do México? Nós estaríamos protestando. Precisamos olhar para o que fazemos sob a perspectiva do que aconteceria se alguém fizesse isso conosco”.


Como principais metas no departamento, Ron Paul planeja: interromper todas as guerras em andamento; solicitar o retorno dos soldados para o território americano; desativar as bases em países estrangeiros; alterar a política externa e não intervir em conflitos mundiais; e promover uma diplomacia amigável perante as demais nações do mundo.

É interessante observar que as intenções de Paul estão em desacordo com os atos cometidos pelo governo do ex-presidente republicano George W. Bush que, por sua vez, solicitou a invasão das tropas americanas ao Iraque e ao Afeganistão após os ataques ocorridos no dia 11 de setembro de 2001.

5 Tornar a saúde 100% privada

Ron Paul condena o fato de que muitos americanos não possuem condições para pagar um seguro básico de saúde, sofrendo "severamente" com o medo constante de não saber o que fazer caso adoeçam. Na contramão, até mesmo os que pagam não podem contar com um serviço de qualidade, segundo o candidato republicano.

O libertário acredita que só a verdadeira concorrência de mercado livre vai conseguir colocar pressão sobre as companhias de seguros para forçá-las a reduzir os custos, ampliando assim a competitividade no setor. Paul ainda quer mudar o código tributário para deduzir dos impostos todos os custos relacionados à saúde, que são pagos pelos americanos.

"Através destas medidas e da eliminação de monopólios patrocinados pelo atual governo, um grande número de pessoas poderão finalmente ter acesso aos cuidados de saúde, seja através do pagamento de um convênio médico ou cobrindo suas próprias despesas -  que já estariam muito mais baixas por conta do aumento da concorrência - com o dinheiro não pago na forma de impostos", destaca um trecho da proposta de Ron Paul disponível em seu site de campanha. 

Parte dos investimentos no setor de saúde seriam provenientes da diminuição dos gastos com Defesa. Outro setor beneficiado seria a área educacional. Ron Paul planeja fechar o Departamento de Educação que atua hoje em nível federal nos Estados Unidos.

Ele almeja que as decisões sobre o sistema de ensino sejam tomadas por cada estado, cidade, ou até a nível pessoal. Segundo ele, não são os burocratas de Washington, mas sim os pais que devem ter o direito de escolher qual escola planejam matricular seus filhos e que métodos de educação são os mais adequados.

6 Abolir o Fed, além de trazer o ouro de volta como lastro

Paul planeja realizar uma auditoria no Federal Reserve (Fed, o banco central americano) com o objetivo de redesenhar a política econômica e monetária do país, abolindo a entidade.

"O Fed é o principal culpado por trás da crise econômica. Desde sua criação em 1913, o dólar perdeu mais de 96% do seu valor", destaca um trecho da proposta do candidato disponível em seu site de campanha.

Entre algumas ideias já projetadas está a interrupção do programa de estímulos "Quantitative Easing". Segundo o libertário, o fornecimento deste tipo de auxílio só eleva a dívida dos Estados Unidos que, por sua vez, não tem parado de crescer nos últimos anos.

O republicano ainda almeja proibir à ajuda concedida pelo governo americano para resgatar empresas privadas que estão em dificuldades e que podem entrar em concordata.


Segundo Paul, as companhias devem respeitar as regras de livre mercado. Isso significa que uma empresa em apuros estará destinada à falência caso não possa se reerguer por conta própria ou com a ajuda de financiamento privado.

O político americano também é a favor do retorno do padrão-ouro para o lastro do dólar e pela estabilidade da inflação.

7 Cortes radicais e nada de aumento para os congressistas

Para Ron Paul, o Estado é o maior mal para a economia de uma nação e, por conta disso, é necessário reduzir o peso da máquina pública.

Ele sempre foi contrário ao aumento de impostos, ao crescimento do tamanho das instituições governamentais e até do poder executivo.

Em virtude de sua postura, o candidato republicano ganhou o apelido de "Dr. Não" no passado. 

Ele também não é a favor de um orçamento desequilibrado e de um aumento salarial para os congressistas. Durante sua trajetória como político, Paul nunca recebeu pensões lucrativas concedidas pelo Congresso dos Estados Unidos.

Apenas no primeiro ano de governo, Paul planeja cortar 1 trilhão de dólares em gastos por meio da eliminação de cinco departamentos americanos, incluindo as áreas de energia, desenvolvimento residencial e urbano, comércio e educação.

Não apenas isso, ele ainda planeja reduzir em 10% a quantidade de empregos no setor público dos Estados Unidos, além de cortar as viagens excessivas realizadas por congressistas.

Para as empresas, Paul pretende diminuir para 15% os impostos cobrados. O objetivo é tornar as empresas americanas mais competitivas no mercado global.

Avaliação

Richard Locke

Locke: Ron Paul tem propostas "absurdas"

O americano Richard Locke, chefe da cadeira de ciências políticas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), acredita que os ideiais de Ron Paul são "absurdos" para uma economia como a dos Estados Unidos.

"Não será desta vez que Paul deve chegar a presidência. Ele é um homem idoso, de 75 anos, que não possui muita energia. Suas ideias são absurdas do ponto de vista polítco e econômico. Acredito que a grande massa dos eleitores americanos não deve elegê-lo", afirma.

O professor do MIT reconhece que o candidato republicano possui um grande apoio por parte dos jovens da maior economia do mundo, mas justifica: "Ron Paul é um político que libera tudo. Desde o uso de drogas até o casamento gay. Mas os Estados Unidos não se resumem a isso". 

O professor do MIT chama a atenção para a possibilidade de Paul abolir o Federal Reserve e remodelar a política externa americana: duas propostas que, por exemplo, não devem acontecer.

"É absolutamente improvável que isso aconteça em um país como os EUA. Pegue por exemplo a ideia de tornar a maior potencial mundial em um país não intervencionista. Embora tenhamos cometidos erros no governo de George W. Bush durante a invasão ao Iraque e ao Afeganistão, não poderíamos deixar de reagir a ameaça nuclear promovida pelo Irã", explica. "É por isso que ele não será eleito. Suas propostas fogem da realidade", conclui.

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