Mulheres choram a morte de quatro meninos em uma praia de Gaza, após ataque de Israel (Mohammed Salem/Reuters)
Guilherme Dearo
Publicado em 21 de julho de 2014 às 18h10.
São Paulo - Um manifesto publicado no The Guardian e assinado por 64 pensadores, políticos e outras figuras públicas pede um embargo a Israel por conta do conflito na Faixa de Gaza.
O texto diz que Israel se beneficia de acordos de cooperação militar e ajuda dos EUA e da União Europeia e afirma que tal poder de fogo conquistado está sendo usado para uma guerra contra a Palestina.
Assim, eles pedem ao mundo um embargo militar, semelhante ao imposto ao governo sul-africano nos anos de apartheid.
Na lista, estão assinaturas de sete pessoas que já ganharam o Prêmio Nobel da Paz, entre eles o Arcebispo sul-africano Desmond Tutu.
Também assinam o manifesto figuras de esquerda conhecidas, como o linguista Noam Chomsky, o músico Brian Eno, o ex-Pink Floyd Roger Waters, o cineasta Ken Loach e o pensador Slavoj Zizek.
Um nome brasileiro assinou o manifesto: Frei Betto, teólogo da libertação, da ala da Igreja Católica mais envolvida nos movimentos populares de esquerda.
O manifesto
"Mais uma vez, Israel lançou mão de toda a sua força militar contra a população palestina, particularmente na Faixa de Gaza, em um ato ilegal e desumado de agressão militar. A habilidade de Israel de lançar tais ataques devastadores com impunidade vem, em grande parte, da vasta cooperação militar internacional e do comércio que mantém com governos cúmplices ao redor do mundo. Durante o período 2008-2019, os Estados Unidos devem prover ajuda militar a Israel na ordem de 30 bilhões de dólares, enquanto as exportações militares anuais de Israel para o mundo atingiram bilhões de dólares.
Em anos recentes, países europeus exportaram bilhões de euros em armas para Israel; e a União Europeia tem fornecido a empresas militares israelenses bolsas de pesquisa na ordem de milhões. Economias emergentes como Índia, Brasil e Chile estão rapidamente aumentando o seu comércio e cooperação militar com Israel, apesar de seus estados apoiarem os direitos palestinos. Ao importar e exportar armas de Israel e facilitar o desenvolvimento da tecnologia militar israelense, os governos estão efetivamente mandando uma clara mensagem de aprovação para a agressão militar de Israel, incluindo os crimes de guerra e possivelmente os crimes contra a humanidade.
A tecnologia militar de Israel é marcada com o selo "testada em campo" e exportada para todo o mundo. O comércio militar e as pesquisas militares conjuntas reforçam a impunidade israelense ao cometer graves violações dos direitos internacionais e facilitam o enraizamento do sistema de ocupação israelense, colonização e negação sistemática dos direitos palestinos. Nós chamamos a ONU e os governos ao redor do mundo para tomar medidas imediatas para implementar um embargo militar claro e legal contra Israel, similiar ao imposto à África do Sul durante o Apartheid".
A lista de assinaturas
- Adolfo Peres Esquivel: argentino, ativista de direitos humanos, Prêmio Nobel da Paz de 1980
- Ahdaf Soueif: escritora egípcia e inglesa
- Aki Olavi Kaurismäki: finlandês, diretor de cinema
- Alice Walker: escritora americana
- Arcebispo Desmond Tutu: sul-africano, Nobel da Paz de 1984
- Betty Williams: irlandesa, Nobel da Paz de 1976
- Boots Riley: rapper, poeta e produtor cultural dos EUA
- Brian Eno: músico inglês
- Caryl Churchill: dramaturga inglesa
- Chris Hedges: jornalista americano, Prêmio Pulitzer em 2002
- Cynthia McKinney: política e ativista americana
- David Palumbo-Liu: acadêmico americano
- Etienne Balibar: filósofo francês
- Federico Mayor Zaragoza: espanhol, ex-diretor-geral da Unesco
- Felim Egan: pintor irlandês
- Frei Betto: teólogo brasileiro
- Gillian Slovo: escritora inglesa e sul-africana
- Githa Hariharan: escritora indiana
- Giulio Marcon: político italiano
- Hilary Rose: pensadora inglesa
- Ilan Pappe: historiador israelense
- Ismail Coovadia: ex-embaixador sul-africano para Israel
- James Kelman: escritor escocês
- Janne Teller: escritora dinamarquesa
- Jeremy Corbyn: político inglês
- Joanna Rajkowska: artista polonesa
- Jody Williams: ativista americana, Nobel da Paz de 1997
- John Berger: artista inglês
- John Dugard: ex-juiz da Corte Internacional de Justiça, sul-africano
- John McDonnell: político inglês
- John Pilger: jornalista e cineasta australiano
- Judith Butler: filósofa americana
- Juliane House: pensadora alemã
- Karma Nabulsi: acadêmica inglesa e palestina
- Ken Loach: cineasta inglês
- Kool AD (Victor Vazquez): músico americano
- Liz Lochhead: poeta escocesa
- Luisa Morgantini: italiana, ex-vice-presidente do Parlamento Europeu
- Mairead Maguire: ativista irlandesa, Nobel da Paz de 1976
- Michael Mansfield: advogado inglês
- Michael Ondaatje: escritor canadense
- Mike Leigh: escritor e diretor inglês
- Naomi Wallace: poeta e dramaturga americana
- Noam Chomsky: escritor e pensador americano
- Nurit Peled: pensadora israelense
- Prabhat Patnaik: economista indiano
- Przemyslaw Wielgosz: polonês, editor-chefe da versão local do Le Monde Diplomatique
- Raja Shehadeh: autor e advogado palestino
- Rashid Khalidi: autor e pensador americano e palestino
- Richard Falk: americano, ex-responsável da ONU pelos territórios palestinos ocupados
- Rigoberta Menchú: ativista guatemalteca, Nobel da Paz de 1992
- Roger Waters: músico inglês
- Ronnie Kasrils: ex-ministro de governo sul-africano
- Rose Fenton: inglesa, diretora do Free World Centre
- Sabrina Mahfouz: autora inglesa
- Saleh Bakri: ator palestino
- Sir Geoffrey Bindman: advogado inglês
- Slavoj Zizek: pensador esloveno
- Steven Rose: acadêmico inglês
- Tom Leonard: escritor escocês
- Tunde Adebimpe: músico americano
- Victoria Brittain: jornalista inglesa
- Willie van Peer: acadêmico alemão
- Zwelinzima Vavi: sul-africano, secretário-geral do Cosatu