Após os atentados de Paris, políticos americanos pediram a proibição da entrada de refugiados do Oriente Médio no país (Azad Lashkari/Reuters)
Da Redação
Publicado em 22 de novembro de 2015 às 14h13.
Depois dos ataques em Paris, vários políticos - incluindo (até agora) os governadores de Alabama, Arkansas, Louisiana, Michigan e Texas - pediram a proibição da entrada de refugiados do Oriente Médio nos Estados Unidos. Eles alegam que os refugiados representam uma grande ameaça à segurança dos Estados Unidos.
Eis seis razões pelas quais isso não faz sentido:
Mesmo que acreditemos que o passaporte sírio falsificado encontrado perto do corpo de um dos homens-bomba pertencia ao terrorista, o que ainda não está comprovado, isso indica apenas que ele poderia estar explorando o fluxo de refugiados. Mas ele não foi designado pela ONU como refugiado nem teve seu passado investigado pelas autoridades. Não teve o status de refugiado aprovado por nenhum país.
Para ser considerado refugiado nos Estados Unidos, é necessário passar por um processo de triagem complexo, de várias etapas, e isso só depois de receber a designação de refugiado por parte da ONU. Os Estados Unidos podem investigar os refugiados antes de aceitá-los, o que significa que terroristas ou pessoas propensas a se envolver em atividades terroristas podem ser barradas antes de chegar ao país.
A Europa não pode fazer o mesmo. O que aconteceu em Paris não se aplica ao processo pelo qual passam os refugiados que querem abrigo nos Estados Unidos.
O histórico do programa de refugiados americano demonstra que o processo de triagem dos candidatos é eficaz para eliminar pessoas perigosas.
Desde 1980, os Estados Unidos já recebeu milhões de refugiados, incluindo centenas de milhares do Oriente Médio. Nenhum deles cometeu atos de terrorismo nos Estados Unidos. O trabalho da polícia e o processo de triagem têm um histórico positivo comprovado.
Pode-se argumentar o item anterior de outra maneira. Não-refugiados são responsáveis por todos os ataques terroristas em solo americano nos últimos 35 anos. Isso significa que essas pessoas chegaram ao país de outras maneiras.
Todos os sequestradores dos aviões usados nos ataques de 11 de setembro tinham visto de turista ou de estudante. Esses vistos são muito mais fáceis de conseguir que o status de refugiado, que pode levar até dois anos e exige um longo processo de triagem, com várias etapas.
Entrar nos Estados Unidos como refugiado é a maneira mais difícil de todas. Não faz sentido para os terroristas.
4. O Estado Islâmico considera os refugiados traidores
Segundo o ISIS, os refugiados sírios muçulmanos são traidores da causa islâmica radical. "É correto que muçulmanos troquem as terras dos infiéis pelas terras do Islã, mas não vice versa", disse um vídeo do ISIS de setembro.
Quase 90% dos sírios acampados na Turquia não têm nenhuma simpatia pelo ISIS, apesar de o grupo estar combatendo o maior inimigo dos refugiados, o ditador Bashar al Assad. Refugiados sírios curdos e cristãos veem o ISIS como o maior inimigo.
Especula-se que o terrorista de Paris tenha usado o passaporte falso com o objetivo de virar o Ocidente contra os refugiados sírios.
5. Fechar as portas para os aliados vai nos tornar menos seguros
O desprezo pelo destino dos refugiados - potenciais aliados na guerra contra o ISIS - vai os mandar de volta para os braços da pessoa de quem eles estão fugindo: o ditador sírio, Bashar al Assad. Isso pode levar alguns deles a considerar o ISIS o único aliado que lhes resta, a única proteção contra Assad.
As evidências na literatura acadêmica dão conta de que manter refugiados presos em campos perto das áreas de conflito aumenta o terrorismo, enquanto a realocação em outros locais, não.
Durante a Guerra Fria, usamos os refugiados como importantes fontes de informação: espiões, aliados e porta-vozes para disseminar mensagens que refutam a propaganda inimiga. Na luta contra o ISIS, esses aliados são tão importantes quanto qualquer arma.
6. Os Estados Unidos deveriam demonstrar coragem moral
Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos impediram a entrada de judeus no país por razões de segurança. Enviamos navios e mais navios de volta para os campos com medo de que houvesse espiões nazistas escondidos entre os refugiados (embora o temor não fosse completamente infundado).
A lição do Holocausto é que temos de lidar com as ameaças sem abrir mão de nossas obrigações éticas. A definição de coragem moral é não permitir que o medo sobrepuje nosso humanismo.
(Atualização: Não, os autores do atentado de Boston não eram refugiados. Eles vieram crianças, filhos de um asilado político. É um processo de investigação completamente diferente.)