Paris, França: fake news sobre o novo coronavírus estão se disseminando mundo afora (Christian Hartmann/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 12 de março de 2020 às 16h44.
Última atualização em 27 de março de 2020 às 21h44.
São Paulo – A pandemia do novo coronavírus está assustando o mundo. Nesta quinta-feira, 12, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que o número de casos passou de 124 mil e que a doença já foi detectada em ao menos 118 países e territórios.
Naturalmente, a magnitude desse episódio está sendo acompanhada de muita desinformação. Veja abaixo alguns casos de fake news que estão circulando sobre a epidemia do novo coronavírus.
Uma mensagem circulando no WhatsApp mostra um comunicado com o logotipo do Ministério da Saúde e informa que o governo está suspendendo a aposentadoria de idosos que forem pegos andando nas ruas. O objetivo da informação era evitar que as pessoas com mais de 60 anos saíssem de casa e conter a transmissão do coronavírus. Apesar de bem intencionada, a informação é falsa. O comunicado não é da pasta da Saúde e os idosos não estão sendo multados caso saiam às ruas. Mas a recomendação expressa dos órgãos de saúde é para que todos evitem sair de casa, principalmente pessoas com mais de 60 anos e com doenças crônicas, considerados do grupo de risco.
Uma mensagem que está sendo amplamente compartilhada nas redes sociais traz uma orientação supostamente dada por um profissional da saúde sobre beber água quente (entre 26ºC e 27ºC)para matar o coronavírus. O Ministério da Saúde lembra que a temperatura do corpo é de ao menos 36ºC, portanto, ingerir líquidos nas temperaturas sugeridas não faria qualquer diferença. Enfatiza, no entanto, que não há medicamento, substância, vitamina ou alimento específico capaz de evitar o contágio.
Circula na internet uma imagem que mostra o rótulo de um inseticida, no qual se lê "human coronavírus". Muito que bem, as imagens são falsas. Ainda não há consenso na comunidade científica sobre a origem do novo coronavírus. No entanto, as formas de transmissão e contaminação, explica o Ministério da Saúde, são por meio do contato com secreções ou pelo ar.
Um boato que está fazendo sucesso nas correntes de WhatsApp no Brasil é o que diz que o ar do plástico bolha que envolve produtos importados da China pode estar contaminado pelo novo coronavírus. Segundo o Ministério da Saúde, não há qualquer evidência sugerindo a veracidade dessa informação. "Vírus geralmente não sobrevivem muito tempo fora do corpo de outros seres vivos, e o tempo de tráfego destes produtos costuma ser de muitos dias", lembrou a entidade.
A grande dificuldade dos cientistas em encontrar uma vacina contra a doença está no fato de que o vírus está em constante mutação. No entanto, tentativas continuam sendo feitas. Nesse contexto, nesta terça-feira, 17, um jornal chinês anunciou que o país asiático deu aval a pesquisadores para que iniciem testes de segurança em humanos de uma vacina experimental. Por enquanto, é só mais um teste.
Nos Estados Unidos, país que já registra quase 5 mil casos confirmados do novo coronavírus, um boato que está circulando com força é o de que desinfetantes antibactericidas para as mãos não teriam eficácia contra a doença. De acordo com a revista americana Newsweek, essa fake news começou a se espalhar no início de março, via Twitter, e não tem qualquer fundamento: segundo o Centro de Controle de Doenças do país, é perfeitamente possível usar o item para higienizar as mãos quando não há água e sabão disponíveis.
Na Índia, uma política do partido governista Bharatiya Janata (o mesmo do primeiro—ministro Narendra Modi) disse à imprensa que as pessoas poderiam usar urina e estrume de vaca para curar o novo coronavírus. Vale lembrar que a vaca é considerada sagrada no país e que o uso da urina deste animal em situações terapêuticas é comum. Nesta sexta-feira, 12, informou a agência Reuters, um grupo religioso irá até realizar uma festa para o consumo do líquido, apesar dos alertas de profissionais da saúde quanto a sua eficácia contra o novo coronavírus e os riscos que a ingestão pode trazer.
No Irã, um dos países mais fechados do mundo e onde o consumo de bebidas alcóolicas é proibido, circulou o boato de que a ingestão de álcool poderia combater o vírus. Como resultado, 40 pessoas morreram por complicações decorrentes da ingestão de álcool puro do tipo usado na limpeza ou bebidas contrabandeadas.
A Itália é um dos países mais afetados pela epidemia do novo coronavírus. Hoje, é o segundo maior em número de casos confirmados, atrás apenas da China. Não à toa, o país inteiro está em quarentena. Por lá, a desinformação também anda em alta. Um dos boatos mais populares diz respeito à uma vacina, que teria sido desenvolvida na Austrália, e que poderia ser usada no combate ao vírus.
Ainda de acordo com a história, a vacina só poderia ser encontrada na Suíça. Essa mentira circulou especialmente em Veneza, em um folheto distribuído nas ruas da cidade. Nele, havia um endereço de e-mail e instruções para o depósito de 50 euros para a aquisição da vacina. A história é boa e, evidentemente, trouxe esperanças para muitas pessoas, mas é falsa.
Se na Índia, o boato falava sobre o consumo de urina de vaca, na França, diz respeito ao uso de uma droga, a cocaína. Na semana passada, o governo francês precisou fazer um post em suas contas oficiais nas redes sociais para desmentir a história. “Não, a cocaína não te protege contra a COVID-19. É uma droga viciante, que causa efeitos colaterais sérios e é prejudicial à saúde das pessoas”, dizia a mensagem oficial.
#Coronavirus | Désinfox
❌ Non, La cocaïne NE protège PAS contre le #COVID19 .
✅ C’est une drogue addictive provoquant de graves effets indésirables et nocifs pour la santé des personnes.
👉 https://t.co/ajSGwecauL pic.twitter.com/4GZ01Qmg5X— Ministère de la Santé et de la Prévention (@Sante_Gouv) March 8, 2020
No Brasil, a desinformação também está circulando com força total. Um dos boatos fala sobre uma espécie de teste caseiro, que revelaria se a pessoa foi contaminada pela doença: respirar fundo, prender a respiração por mais de 10 segundos. Se conseguir fazer isso sem tossir, você não está infectado. A questão é séria e fez com que o Ministério da Saúde montasse uma página dedicada ao monitoramento dessas histórias e a checagem dos fatos.