Poluição: as crianças respiram duas vezes mais rápido que os adultos e inspiram mais ar em relação ao seu peso corporal (Getty Images)
AFP
Publicado em 31 de outubro de 2016 às 16h33.
Cerca de 300 milhões de crianças vivem em locais cujo ar exterior é tão poluído que pode causar danos físicos sérios, incluindo problemas de desenvolvimento cerebral, disse a ONU em um estudo divulgado na segunda-feira.
Quase uma em cada sete crianças no mundo todo respira um ar exterior que é pelo menos seis vezes mais poluído do que o recomendado pelas diretrizes internacionais, de acordo com o estudo realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que apontou a poluição atmosférica como um dos principais fatores da mortalidade infantil.
A Unicef publicou o estudo "Limpem o ar para as crianças" uma semana antes da reunião anual da ONU sobre as mudanças climáticas, que acontecerá no Marrocos entre 7 e 18 de novembro.
A agência, que promove os direitos e o bem-estar das crianças, está pressionando os líderes mundiais para que tomem medidas urgentes para reduzir a poluição do ar em seus países.
"A poluição atmosférica é um grande fator contribuinte para a morte de cerca de 600.000 crianças com menos de cinco anos a cada ano, e ela ameaça a vida e o futuro de outras milhões todos os dias", disse Anthony Lake, diretor-executivo da Unicef.
"Poluentes não afetam apenas os pulmões em desenvolvimento das crianças. Eles podem atravessar a barreira hematoencefálica e danificar permanentemente os seus cérebros em desenvolvimento e, assim, os seus futuros. Nenhuma sociedade pode se dar ao luxo de ignorar a poluição do ar", disse Lake.
O ar tóxico é um empecilho para economias e sociedades, e seu custo já corresponde a 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) global, disse a Unicef.
A previsão é que esses custos aumentem para cerca de 1% do PIB em 2060, segundo a agência, conforme a poluição do ar piora em muitas partes do mundo.
De acordo com a Unicef, imagens de satélite confirmam que cerca de dois bilhões de crianças vivem em áreas onde a poluição do ar exterior excede as diretrizes mínimas de qualidade do ar estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O ar é contaminado por emissões de veículos, combustíveis fósseis, poeira, queima de resíduos e outros poluentes atmosféricos, disse.
O sul asiático tem o maior número de crianças que vivem em tais áreas, cerca de 620 milhões, seguido pela África, com 520 milhões, e pelo leste da Ásia e a região do Pacífico, com 450 milhões.
O estudo também analisou a poluição do ar interior, geralmente causada pela queima de carvão e de lenha para cozinhar e para se aquecer.
Juntas, a poluição do ar interior e a do ar exterior estão diretamente ligadas à pneumonia e a outras doenças respiratórias que são responsáveis por quase uma entre 10 mortes de crianças com menos de cinco anos de idade, ou cerca de 600.000 crianças, fazendo da poluição do ar um dos maiores riscos para a saúde das crianças, disse a Unicef.
A agência observou que as crianças são mais suscetíveis do que os adultos à poluição do ar interior e exterior, porque os seus pulmões, cérebro e sistema imunológico ainda estão em desenvolvimento e as suas vias respiratórias são mais permeáveis.
As crianças respiram duas vezes mais rápido que os adultos e inspiram mais ar em relação ao seu peso corporal.
As crianças mais vulneráveis a doenças causadas pela poluição do ar são as que vivem na pobreza, que tendem a ter a saúde pior e pouco acesso a serviços de saúde.
Proteger melhor as crianças
Para combater estes efeitos nocivos, a Unicef vai chamar os líderes mundiais a tomarem medidas urgentes para proteger melhor as crianças, durante a reunião da ONU sobre as mudanças climáticas em Marraquexe, a COP22.
"Reduzir a poluição do ar é uma das coisas mais importantes que podemos fazer para as crianças", disse a Unicef no seu relatório.
A agência acrescentou que os governos deveriam tomar medidas para reduzir as emissões de combustíveis fósseis e aumentar os investimentos em energia sustentável e em desenvolvimento de baixo carbono.
A agência também apelou para um melhor monitoramento da poluição atmosférica para ajudar as pessoas a reduzirem a sua exposição.
o acesso das crianças a cuidados de saúde de boa qualidade precisa melhorar e a amamentação nos primeiros seis meses de vida da criança deve ser encorajada para ajudar a prevenir a pneumonia, acrescentou.
Os formuladores de políticas deveriam "desenvolver e construir consensos sobre os indicadores de saúde ambiental das crianças", urgiu o relatório.