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O último encontro entre Trump e HIllary

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York No terceiro e último debate da campanha presidencial americana, Donald Trump disse que vai “ver na hora” se aceitará o resultado da eleição, em 8 de novembro. O candidato republicano nos últimos dias vem falando em fraude na votação e não quis se comprometer com uma resposta definitiva. “Não […]

TRUMP E HILLARY:  O debate foi o mais civilizado dos três enfrentamentos, em grande parte porque os temas escolhidos pelo moderador, o jornalista Chris Wallace, da Fox News / Reprodução/ NBC

TRUMP E HILLARY: O debate foi o mais civilizado dos três enfrentamentos, em grande parte porque os temas escolhidos pelo moderador, o jornalista Chris Wallace, da Fox News / Reprodução/ NBC

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Da Redação

Publicado em 20 de outubro de 2016 às 05h49.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h05.

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York

No terceiro e último debate da campanha presidencial americana, Donald Trump disse que vai “ver na hora” se aceitará o resultado da eleição, em 8 de novembro. O candidato republicano nos últimos dias vem falando em fraude na votação e não quis se comprometer com uma resposta definitiva.

“Não vou olhar agora. O que vejo é tão ruim. Vou mantê-los em suspense”, disse Trump, contrariando seu vice, Mike Pence, que havia afirmado no domingo que aceitaria a decisão dos eleitores, e o que ele próprio havia dito há um mês, no primeiro embate direto com Hillary Clinton.

A candidata do Partido Democrata classificou de “horrorizante” a declaração do empresário. “Ele está denegrindo nossa democracia. Está diminuindo nossa democracia. Estou chocada.” Mas talvez o maior choque tenha sido o comportamento de Trump. Em queda livre nas pesquisas e diante de acusações de avanços sexuais indevidos sobre mulheres, o candidato de oposição parecia mais comedido e disposto a falar de propostas. Se as minorias e as mulheres são caso perdido, Trump pelo menos tentou conquistar pontos entre a fatia mais conservadora do eleitorado, falando sobre temas como aborto, imigração ilegal e cortes de impostos.

O debate foi o mais civilizado dos três enfrentamentos, em grande parte porque os temas escolhidos pelo moderador, o jornalista Chris Wallace, da rede conservadora Fox News, ficaram presos a uma agenda convencional: empregos, economia, política externa. Mas foi inevitável sentir um certo descompasso com o noticiário dos últimos dias. Nove mulheres vieram a público afirmar que foram apalpadas ou beijadas sem consentimento por Trump. Mas a questão só foi levantada na metade do debate, e por pouco tempo.

Questionado por Wallace por que as mulheres teriam inventado as histórias, Trump afirmou que as acusações foram “desacreditadas” e que as notícias seriam obra da campanha adversária. Se não for esse o caso, continuou o empresário, elas já teriam conseguido “seus dez minutos de fama”. Hillary respondeu afirmando que Trump “acha que diminuir as mulheres o torna maior. Ele ataca a dignidade delas, o seu senso de valor. Não existe uma mulher que não saiba o que é isso”. Trump repetiu uma frase do debate de dez dias atrás: “Ninguém respeita as mulheres mais que eu. Ninguém”. Mas, quase no fim do debate, provocado por Hillary sobre suas propostas para benefícios sociais, o republicano interrompeu a adversária, dizendo: “Que mulher sórdida”.

Hillary Clinton manteve a mesma postura dos encontros anteriores, procurando passar uma imagem de autocontrole e comedimento. Em único momento em que a candidata tergiversou e simplesmente não respondeu à pergunta do moderador foi quando Wallace a questionou sobre supostos conflitos de interesse entre sua posição como secretária de Estado no primeiro mandato de Barack Obama e a atuação da Fundação Clinton.

A democrata usou seu tempo de resposta para falar genericamente do trabalho da fundação e tentou redirecionar o golpe para a fundação de Donald Trump. Hillary Clinton também foi questionada sobre um discurso feito para o banco Itaú em 2013, cujo conteúdo foi revelado pelo grupo ativista Wikileaks. Hillary – que teria recebido 225 000 dólares para falar – disse defender um “mundo de livre comércio e fronteiras abertas”. Em sua resposta, ela disse que a frase foi tirada de contexto e que ela estaria se referindo à questão do mercado de energia. Mas, pela primeira vez, ela reconheceu a autenticidade do discurso, algo que seus assessores vinham se recusando a confirmar.

Mas foi Donald Trump quem mais sofreu com as menções ao Wikileaks. Repetidos documentos e e-mails da campanha de Hillary Clinton têm vazado durante a campanha. A democrata afirma que a responsabilidade é de hackers russos, que estariam agindo a mando do governo do país com o objetivo de influenciar o resultado da eleição americana – em favor de Trump. O moderador Wallace e Hillary instaram Trump a condenar a ação dos hackers russos. “Condeno, é claro que condeno”, respondeu o bilionário. “Ela mudou bem de assunto. Putin não tem respeito por essa pessoa [Hillary].” “Porque ele prefere uma marionete como presidente dos Estados Unidos”, retrucou Clinton.

Nos temas de economia e imigração, houve poucas novidades, assim como nos temas sociais – o aborto, uma das questões obrigatórias de toda eleição presidencial americana, finalmente figurou num debate. Trump disse que indicaria juízes para a Suprema Corte contrários ao aborto. Questionado sobre sua expectativa de que uma alta corte reconfigurada pudesse derrubar a legalização do aborto (decidida em 1973, na histórica decisão Roe versus Wade), Trump disse apenas ser pró-vida e que uma eventual nova decisão teria de ser aplicada pelos estados.

Só que a tentativa de Trump em reforçar suas credenciais conservadoras pode ser insuficiente diante de uma campanha em estado avançado de decomposição desde o surgimento do vídeo de 2005 no qual Trump se vangloria de ataques sexuais. A linha adotada pelo republicano – afirmar que em 30 anos de carreira política Hillary Clinton falou muito mas fez pouco e acusá-la de crimes em sua passagem pelo governo – não foram suficientes para conter os estragos à sua imagem. Em estados decisivos do Colégio Eleitoral americano – como Ohio, Flórida e Pensilvânia –, Trump está em desvantagem. Se não vencer nesses três estados, é virtualmente impossível que Donald Trump se mude da 5ª Avenida para a Casa Branca.

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